Capítulo 168

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Micael tinha tantas lágrimas no rosto que mal conseguia enxergar. Ele nunca tinha chorado tanto quanto ao ler aquela carta. Um misto de alívio e raiva estava presente em suas emoções e ele não conseguir decidir qual dos dois tinha mais força.

Secou as bochechas com as mãos e fungou. Precisava se recompor. Levantou e saiu do quarto, chegou na sala e viu Bruna e Ágatha se divertindo enquanto tiravam o pó.

- O que aconteceu? - Bruna disse alarmada ao ver o pai, ele não chorava mais, mas claramente havia chorado. - Você está bem? - Nathaly que ouviu os questionamentos da irmã apareceu seguida de Rafael.

- Pai? - Bruna desligou o som. - O que você achou que te fez ficar assim? - Nath quem perguntou.

- A sua mãe, ela... - Começou a falar, mas foi interrompido por Sophia.

- Ué, por que é que desligaram o som? - Tinha o cabelo preso num coque e a cara de revolta, pelo menos até perceber o clima na sala. - O que rolou aqui gente?

- A Lilian deixou uma carta de despedida. - Ergueu o papel, chocando todo mundo. - Eu acabei de achar. - As meninas deram passos pra trás, um tanto assustadas. Não sabiam se queriam ler aquilo depois de tanto tempo.

- Como é que você não achou isso antes? - Sophia perguntou alarmada. - Você disse que veio aqui!

- A Lilian colocou dentro da gaveta de documentos. Eu não sei porque não deixou num lugar a vista, talvez tivesse medo de não conseguir ir até o fim e alguma das duas achar a carta antes, nunca saberemos.

- Eu não sei se quero ler. - Rafael abraçou a namorada que estava desolada antes mesmo de saber o que a mãe havia escrito. - Você parece péssimo. - Ágatha correu pra perto da mãe e lá ficou.

- Ela pediu desculpas pra gente. - Ele começou a contar e já se via lágrima nos olhos das duas. Sophia foi amparar, Bruna. - Disse que não era pra eu me culpar, que ela não tinha feito por causa daquela última briga. - Ele olhou pra Sophia abraçada a filha.

- Se não foi por aquilo, o que aconteceu? - Sophia quem perguntou.

- Ela disse na carta que o câncer voltou. - As meninas abriram a boca surpresa. - Disse que aconteceu metástase e então estava espalhado pelos ossos, fígado e pulmões. - Abriu a carta pra confirmar. - Ela diz que sentia muita dor e que os médicos disseram a ela que não havia mais cura, era estágio quatro.

- Ela tinha que ter falado pra gente! - Nathaly disse com raiva. - E não tomado essa decisão egoísta.

- Vamos ser realistas, ela sabia que ia morrer, a alternativa que tinha era fazer o tratamento pra prolongar um pouco mais a vida, mas meninas, vocês lembram de como foi o tratamento? Vômitos, cabelo caindo, dores o tempo todo, tontura... Ela não quis passar por essas coisas de novo e diz aqui que não queria que a gente passasse também.

- Aí ela foi lá e se matou? - Foi a vez de Bruna chorar irritada. - É claro que ela foi egoísta.

- Algum de nós três ia permitir que ela não fizesse o tratamento? - Ele alternou olhares entra às duas. - No segundo em que nos contasse o que estava rolando, íamos arrastar a coitada pro hospital, submeter ela a várias sessões de quimioterapia com o propósito de prolongar um ou dois dias de vida. É justo? Íamos dar a ela a escolha de morrer em paz?

- É lógico que não, eu queria a minha mãe comigo o máximo possível. - Bruna falou alto. - Para de defender ela, foi uma escolha terrível.

- Foi. - Concordou com a caçula. - Mas eu confesso que agora que ao menos sei a razão, começo a entender.

- Está só aliviado porque não foi culpa sua. - Nathaly atacou. - Ela podia ter dado um abraço final na gente.

- Ela diz que não conseguiria olhar nos olhos de vocês e se despedir. - Ergueu o papel novamente. - Não querem mesmo ler?

Súbito AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora