Capítulo 123

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O médico plantonista quase teve um treco quando viu Micael entrar no hospital carregando Sophia desacordada. Uma maca e enfermeiros foram chamados e a mulher foi levada a sala de emergência.

- Você perdeu o juízo? - O médico reclamou depois que Sophia já não estava mais lá. - Você recebeu alta daqui há algumas horas com indicação de repouso absoluto! Eu vou ter que te internar pra você seguir essa orientação?

- Ela perdeu o bebê e está sangrando, você não queria que eu ficasse deitado na cama enquanto tudo isso acontece, não é mesmo? Eu estou ótimo! - Respondeu irritado.

- Você não está ótimo, você infartou e parece que não está levando isso tão a sério como deveria. - Seguiu brigando. - Você vai entrar lá e fazer uns exames pra ver se está tudo bem ou se está a beira de um outro infarto.

- Eu prefiro que você entre lá e vá olhar como está a Sophia. - Disse bravo. - Está perdendo tempo aqui comigo.

- Sophia está na emergência ginecológica. - Cruzou os braços. - Vamos, Micael. Ou eu mando te internar por mais cinco dias.

- Ok. - Ergueu as mãos se dando por vencido e caminhou pra dentro com o médico. Arthur e Nathaly novamente ali na sala de espera do hospital.

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Micael voltou sozinho, caminhando pra sala de espera. Parecia realmente bem, se sentou ao lado da filha.

- Alguma novidade? - Ele perguntou aos dois. - Não é possível que ninguém veio falar nada.

- Não vieram. - Arthur suspirou. - Estamos preocupados aqui. E você? O que deu nos exames?

- Tudo normal. - Deu de ombros. - Mas ele ainda quer que eu fique de molho. Avisei que isso só vai acontecer depois que eu tiver notícias da Sophia. Não vou sair daqui.

- Fiquei com uma dó dela. - Nath fungou. - Ela sabia o que estava acontecendo, foi horrível. - Micael a abraçou.

- Eu sinto muito, não queria que nada disso tivesse acontecido! - Nathaly encarou o pai de cara feia. - Eu estou falando sério, não desejo isso pra ninguém.

- Você é falso! - Ela brigou. - Eu achei que estava falando aquelas coisas pra Sophia pra que ela se acalmasse, agora você vai dizer pra mim também? Você não queria esse filho, todo mundo sabe.

- Não é assim que funciona. - Ele rolou os olhos. - Eu pedi a Sophia que interrompesse a gestação, mas eu não ia obrigar a garota a fazer isso e nem jogar de uma escada, né Nathaly. Se fosse uma coisa que ela quisesse tudo bem, mas ela perdeu o bebê, vai ficar mal, vai sentir o luto, não queria nada disso.

- Aí gente, tadinha. - Nath fungou. - Tô me sentindo tão mal.

- Vai ficar tudo bem. - Apertou a filha num abraço. - Sabe que eu até estava me animando com a ideia de um bebezinho? - Confessou. - Eu só não tive tempo de comentar.

- Estava nada, não mente. - Ele deu uma risadinha.

- Fiquei três dias de molho, sozinho aqui nesse hospital. Tive bastante tempo livre pra pensar nas coisas. Fiz planos. - Suspirou. - Pelo menos até a sua mãe dizer pra mim que eu estrago a vida das pessoas.

- Ela falou muita coisa foi? - Perguntou interessada. - E da pra tirar a razão dela? Você devia ter sido sincero.

- Mas também não é algo fácil de confessar. - Deu de ombros. - Depois eu vou ter que conversar com ela, direito. Quando a poeira abaixar.

Nathaly não respondeu, o médico apareceu e liberou a entrada pro quarto de Sophia. Não deu mais informações.

Encontraram Sophia no soro e com a cara abatida. Pelo visto já sabia o que tinha acontecido consigo.

- Como você está? - Nath perguntou baixo. - Já te explicaram o que aconteceu?

- Era uma gravidez ectópica. - Disse com pesar. - Tubária, pra ser mais específica. Eu não perdi o bebê em casa, foi uma hemorragia por causa da gravidez fora do lugar. Me levaram pra cirurgia e acabou. Eu fiz o aborto que você tanto queria. - Disse olhando pra Micael no final.

- Não queria que nada acontecesse nessas condições. - Ele falava baixo. - Não precisa achar que eu estou feliz com isso.

- Difícil de acreditar que não está. - Suspirou. - Alguém avisou minha mãe?

- Não. - Nathaly respondeu. - Você disse que ela ainda não sabia que estava grávida.

- Ela e o Rafael vão me matar. - Sorriu. - Fiquei grávida, vivi um drama, perdi meu bebê, não disse nada a eles. Já prevejo o drama. Eu devia ter pai, pra poder brigar com você em minha defesa!

- Não preciso de ninguém pra brigar comigo, eu sei quais são as minhas responsabilidades. - Cruzou os braços. - Eu sei que não é o momento, mas te falaram porque a sua gravidez foi ectópica?

- Eu tenho endometriose... - Suspirou novamente. - Os médicos falaram que tem tratamento, mas que pode causar infertilidade. Há um bloqueio nas minhas trompas, ou seja, se eu quiser engravidar um dia, vai ter que ser fertilização in vitro.

- Fala sério! - Nathaly estava de boca aberta. - Que barra!

- Pois é. - Fechou os olhos. - Mas eu não quero pensar nisso no momento. - Abriu os olhos e encarou Micael. - Você devia estar de repouso, pelo que me consta.

- Devia, mas eu não ia ficar em casa, enquanto você vinha sangrando pro hospital. - Deu de ombros. - Já fiz exames, está tudo bem.

- Vai pra casa, eu já estou bem. - Deu de ombros. - Acho que é o meu momento de querer ficar sozinha.

- Sophia...

- Será que é pedir muito? - Remendou o que ele tinha dito a ela mais cedo. - Eu não preciso de babá. - Micael respirou fundo e olhou pra filha e pro amigo.

- Vocês podem dar uma licencinha? - Não disseram nada, apenas assentiram.

- Nath, liga pro Rafa e conta a ele. - Ela assentiu novamente e então os dois ficaram a sós. - Eu não devia nem olhar na sua cara.

- Me desculpa pelo modo que eu falei com você. - Quantas vezes já tinha pedido desculpas a Sophia? - Eu estava um pouco abalado, a discussão com a Lilian me abalou.

- Não me interessa o que ela tenha dito a você. - Estava realmente chateada. - Você não tem direito de me escorraçar quando quiser.

- Não, eu não tenho. - Puxou um banquinho que tinha ali. - Mas eu só queria ficar um pouco sozinho, eu queria pensar nas coisas, na minha vida, me perdoe se fui rude com você, nunca foi a intenção.

- Eu ouvi o que a Lilian disse sobre mim. - Viu ele franzindo a testa. - Foi por isso que você não quis que eu ficasse no quarto?

- Foi, ela me disse muita coisa, Sophia. Eu fiquei me senti muito mal, você não tem noção. - Balançou a cabeça. - O tempo que eu passei aqui no hospital foi pensando em você, no bebê e no que faria. O tanto que eu queria levar você pra minha casa. Exatamente como a Lilian disse que ia acontecer. Isso mexeu com a minha cabeça.

- Aí você achou que a saída era me tratar mal? - Bufou. - Fala sério, eu não mereço isso, eu não vou ficar sentada ouvindo você falar do jeito que quiser comigo e aceitar. Eu não vou ficar ouvindo você mandar de mim e ficar calada. Eu não vou deixar de fazer as minhas coisas, de estudar, de sair com as minhas amigas, de ter a minha vida. Nada disso vai acontecer. - Desabafou. - Eu fui criada por uma mãe solo, eu sei o preço que a liberdade tem e você pode ter certeza que eu não nasci pra ficar dentro de casa cuidando de filho e de marido.

- Ok, me desculpa por sequer ter cogitado levar você pra morar comigo. - Ergueu as mãos. - Não devia nem ter pensado que minha namorada grávida gostaria de formar uma família.

- Você não acha que agora que não tem mais bebê, a gente tem que parar com isso? - Falou baixo, pensando quantas vezes não já tinha terminado com Micael. - Nossa relação não tem futuro, Micael. Estamos em estágios diferentes da vida, queremos coisas absurdamente diferentes.

- Eu acho bom você parar de falar que é melhor a gente terminar e entender de uma vez por todas que eu não vou te deixar ir.

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