Capítulo 1

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- Eu juro que não aguento mais! - Sophia rodou a cadeira e encarou as três amigas que estavam sentadas na cama, cada uma com um livro diferente na mão. - Esse trabalho está impossível, professor acha que a gente não tem nada pra fazer além disso. Nem parece que a gente tem outros trabalhos pra entregar.

- Ué, minha filha. - Mel fechou o livro. - Eu não sei pra que fui me enfiar nessa matéria com vocês, pra mim é optativa e cá estou eu sofrendo com o pior professor da faculdade.

- Você se enfiou pra gente poder cursar ao menos uma disciplina juntas esse semestre, da mesma forma que eu me enfiei nessa furada. - Nath respondeu rindo. - Qual é, eu acabei de entrar!

- Pois já estou me arrependendo. - Mel bufou. Encarou as amigas. - Ele quer dez páginas, eu duvido que ele vai ler essas páginas, pelo amor de Deus.

- Com certeza não, mas ele quer testar a nossa capacidade de escrever, já que nem impresso pode ser. Homem retrógrado. - Lua entrou no papo, após um longo suspiro.

- Eu não tenho mais cabeça pra isso, o que vocês acham de continuar amanhã? - Sophia perguntou as amigas.

- Não sei se vai dar, tem aquela questão familiar que contei pra vocês. - Nath disse agora completamente desanimada. - Meu pai e a minha mãe vivem em guerra, casamento deles está por um fio.

- Será que seu pai tem amante? - Lua perguntou curiosa e um traço de dor surgiu no rosto da morena. - Me desculpa...

- Está tudo bem. - Balançou a cabeça. - É só que é difícil, a gente sempre foi tão feliz, sabem? Eu lembro dos inúmeros natais, das muitas viagens, dos passeios que nós quatro já fizemos por ai. Não consigo lembrar em que momento exatamente tudo isso foi por água abaixo.

- Separação sempre é muito complicada! - Sophia balançou a cabeça. Sabia daquilo muito bem, afinal morava somente ela, a mãe e o irmão mais velho, Rafael. - Meu pai hoje em dia finge que a gente nem existe, manda uma mensagem no meu aniversário e eu tenho que me dar por satisfeita.

- Nossa Sophia, muito encorajador! - Lua a encarou. - Bem propício.

- Nath é minha amiga, eu não tenho motivos pra mentir. - Deu de ombros. - Separação é um cu.

- Eu espero que eles se resolvam. - Fungou, só então percebeu que estava chorando. - Não acho que tem outra mulher na jogada não, se tivesse, minha mãe já tinha botado ele pra fora de casa.

- Se não tem outra mulher, a chance de tudo se resolver é grande. - Mel tentou encorajar. - Vai ver é tudo uma má fase.

- Só vou acreditar quando eu ver os dois bem de novo. - Suspirou. - Agora eu vou indo, porque o meu caminho é muito longo.

- Eu vou com você. - Sophia se ofereceu. - Vou te deixar sozinha não, Rafa não está aqui pra te levar, eu levo.

- Ah, Soph eu pego um taxi. - Sorriu. - Não precisa se incomodar.

- Para de besteira, vou pegar a chave do carro da dona Branca e te dou uma carona. - Piscou. - As meninas logo se ajeitaram para ir embora. Lua e Mel seguiram seu caminho para o lado oposto e Sophia foi dar a carona para amiga que morava numa cidade vizinha. - Está entregue.

- Obrigada, Soph. - Sorriu. - A gente se vê amanhã na aula.

- Sim, amo a faculdade. - Sophia rolou os olhos. - Até amanhã. - A jovem saiu do carro e ficou observando enquanto Sophia manobrava e sumia de sua vista.

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Sophia narrando.

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Eu estava muito tranquila enquanto voltava pra casa, até que não muito longe dali eu sinto o carro balançar e logo em seguida um barulho alto. Tomei um susto tão grande que não demorei a parar no acostamento para verificar o que tinha acontecido.

Ao dar a volta no carro reparei que o pneu direito traseiro estava estourado. Como era possível? Tinha certeza que minha mãe tinha trocado todos os quatro recentemente. Dei um chute naquela porcaria de pneu e soltei um longo suspiro. O que faria? Voltei pra dentro do carro pra procurar meu celular na bolsa e adivinha só? Eu não tinha levado. Como é possível que eu tenha esquecido a droga do aparelho justo hoje?!

Fechei a porta do carro e fui até a parte de trás novamente, me escorei na mala. Já estava a ponto de chorar. Minhas opções não eram muitas. Estava cogitando voltar até a casa de Nath pra poder pedir ajuda, isso levaria uns trinta ou quarenta minutos de caminhada solitária a noite numa rodovia. Que belíssima ideia!

Cruzei os braços e fiquei cega quando um carro jogou o farol na minha cara. Estava a ponto de xingar o motorista quando reparei que tinha parado. Por alguns instantes tive medo de um possível assalto, mas quando as luzes se apagaram e um homem muito bem apessoado tinha saído do carro, me permiti ficar o mínimo tranquila.

- Precisando de ajuda? - Um moreno alto, num terno impecavelmente engomado grafite e gravata listrada lilás e branca perguntou. - Eu vi que está aqui sozinha, essa rodovia é bem perigosa pra ficar parada assim. - Travei, como saberia que podia confiar naquele homem que nunca tinha visto. Ele me deu um lindo sorriso de lado e pareceu que eu podia contar pra ele a minha vida toda que não ia me arrepender. - Não precisa se assustar, eu não vou te fazer mal. Você precisa de quê? Um celular pra ligar? Ajuda mecânica? Trocar o pneu? - Ele olhou para meu pneu todo esfolado.

- Eu... - Travei de novo. Será que falar pra um estranho que eu estava sozinha era uma boa ideia? Mas também, se não falar e ele ir embora, será que outra pessoa ajudaria? - O meu pneu estourou e eu estou sem celular. - Seja o que Deus quiser.

- Tem step? - Balancei a cabeça. Ainda não tinha me dado conta de que nem o porta malas eu abri pra verificar se tinha o básico, chave, macaco e step. - Moça?

- Desculpe, é que eu não conferi. - Ri sem graça. - Eu estou completamente desesperada aqui há alguns minutos pensando na solução para o meu problema que nem conferi.

- Se quiser eu troco pra você o pneu. - Foi solícito.

Súbito AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora