Volátil

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  Caitlyn

  Eu sei que é errado mas eu deixei ela falando sozinha, Violet não desistiria fácil do "eu estou bem" então eu apenas segui até o escritório do meu pai, era ali que ele guardava a maiorias de suas coisas, livros médicos, jalecos, e tudo o que era relacionado a sua profissão.

Eu bati na porta e ouvi sua voz autorizando a entrada, eu abri a porta e ele estava de costas para mim, tomando café, olhando para o jardim através da parede de vidro.

-Pai, eu preciso da sua ajuda.

-Oi querida! -Ele se virou para mim e colocou o copo sobre a mesa vindo em minha direção e me abraçando. -Como você está?

-Eu, estou bem, só cansada mas estou bem.

-Que ótimo! -Ele me soltou do abraço e colocou uma mecha atrás de minha orelha, ele sorria levemente, como se estivesse feliz em me ver. -Do que precisa?

-Então... -Encarei a caixa de primeiros socorros. -Tem...uma colega de trabalho, ela se machucou, e havia veneno envolvido, você pode ajudar ela?

-Posso, onde está?

-No meu quarto.

  Eu sabia que ele não iria negar, ele vestiu o jaleco para que não sujasse suas roupas e em seguida pegou a caixinha e saiu vindo comigo até meu quarto, Vi pareceu um pouco desconfortável quando ele apareceu, mas ela não disse nada, ele puxou uma cadeira, a cadeira da minha escrivaninha, e se sentou na frente dela, que estava sentada em minha cama.

-Pai, essa é a Vi.

  Ela sorriu um pouco sem graça e ele sorriu levemente, todos sempre diziam que ele era um ótimo médico, um homem humilde apesar de toda a sua riqueza, e que tratava todos de forma igual.
 
  Ela retirou a jaqueta a colocando sobre sua coxa e meu pai suspirou ao ver a pele arrebentada.
 
  Ele pegou um algodão e colocou alguns produtos limpando, havia pus na pequena abertura, ele retirou e passou um medicamento sobre o local.

-Está doendo?

-Não senhor.

  Ela respondeu um pouco baixo, eu ri baixo, a forma como ela estava agindo era cômica, seu tom de voz era calmo e baixo, diferente do habitual, seu pé direito balançava para os lados incansável e sua mão não parava de acariciar o couro vermelho da jaqueta.

-Se doer, você pode me dizer, qualquer coisa aplicamos um anestésico.

-Okay.

  Meu pai pego a pele com uma pinça e usou ela para desatar os poucos pontos que ainda estavam presos, alguns soltaram fácil outros pareciam relutar ao ponto de até tirarem sangue de Violet, analisando os pontos, ele me encarou e sorriu.

-Aprendeu bem.

-O melhor me ensinou.

  Ele voltou a encarar o ferimento e o banhou com álcool após retirar toda a linha, com a pinça pegou um algodão com uma pomada, ele o passou na carne e na parte interna do ferimento com o auxílio de outra pinça, com um líquido feito de ervas ele limpou os buracos dos pontos que eu dei, em seguida secou e preencheu o buraco com uma outra pomada.

-Vi, vou dar alguns pontos, mas antes quero que tome isso.

Ele pegou um comprido o entregando para ela, em seguida entregou uma garrafa.

-Você vai vomitar se houver veneno em você, não se assuste, pode sair sangue também.

  Ela engoliu a seco e confirmou, tomou o medicamento e ele iniciou os pontos, ele parecia calmo e Violet parecia não sentir tanta dor como antes.

  Assim que ele acabou ele fez um curativo com gase, ele começou a guardar as coisas e Vi encarou o curativo.

-Preciso que lave o ferimento com isso todos os dias.

  Ele entregou um recipiente e se levantou, Vi confirmou com a cabeça.

-Dentro de alguns dias você poderá mover o braço normalmente.

-Obrigada, Doutor Kiramman.

-Disponha.

  Ele veio até mim me dando mais um abraço, eu sorri e em seguida encarei os olhos de Violet e o mesmo me soltou e foi até a porta, abriu a porta para sair.

-Venham na cozinha para comer.

  A porta se fechou e eu me aproximei dela, ela estava encarando o curativo, eu ri ao me sentar ao seu lado, parecia uma criança curiosa.

-Vi, como está se sentindo?

-Seu pai parece um cara legal.

-Ele é, bem diferente da minha mãe.

-Sua mãe não é?

-Não, ela tenta me controlar, em tudo... -Vi prestou atenção no que eu dizia enquanto vestia a jaqueta, ela sequer piscava -Enquanto meu pai quer me ver feliz, ela quer que eu sustente uma aparência falsa e faça tudo o que ela faria no meu lugar, se fosse ela nesse quarto e não ele... -Eu dei uma pausa; o pensamento dela foi o que me fez não responder Violet no carro, eu sabia que ela criaria um caso com uma Zaunita na fila da frente em minha premiação. -Bom, ela teria expulsado você na mesma hora, ou no mínimo demonstrado que não gostou da sua presença, mesmo sem te conhecer.

-Nossa, e como os dois sendo tão opostos se casaram?

-Geralmente se complementam.

-Acho que não dá pra aplicar essa frase nesse tipo de coisa.

-Talvez...-Eu encarei ela e senti um leve arrepio percorrer meu corpo, eram raros os momentos onde conseguia conversar sobre coisas do tipo com alguém. -Mas, a gente tende a se apaixonar exatamente pelo que temos repúdio.

  Vi franziu o cenho parecendo pensativa, e eu me levantei caminhando para a porta.

-Você não vem?

  Ela se levantou e veio em minha direção, após aquele café certamente eu iria descansar e deixar que ela fosse embora para fazer o mesmo.

Tremello

  Renata suspirou derrubando todos os livros da mesa, ela estava irritada e Viktor parecia distante, todos permaneciam em silêncio, Corina revirou seus olhos tomando a palavra:

-Francamente, nosso maior armazém se foi, o doutor está internado inconsciente, Zeri foi baleada, quase não pegou o corpo do doutor, o laboratório todo está submerso! -Expor os fatos só fez com que Renata a encarasse, sem dizer nada, mas Corina retomou a palavra em seguida. -É óbvio que podem destruir todo o nosso contrabando, isso ficou nítido na noite passada!

-E alguém tem idéia do que pode nos ajudar? -Viktor perguntou enquanto ajeitava-se na cadeira eu resolvi me posicionar deixando claro alguns fatos:

-Draven estará aqui amanhã, no festival anual, não temos tempo para recuperar as perdas.

-Eu vou encontrá-lo, tentarei conversar com ele, apesar de não termos a mercadoria sobrando, talvez ele nos auxilie de alguma forma.

Corina afirmou encarando suas unhas, eu suspirei, ela adorava tomar a frente dessas situações como uma salvadora da pátria.

-Não se esqueça que o festival é aberto, significa que Caitlyn e Vi podem estar por lá. -Viktor afirmou se levantando.

-Se verem uma delas, matem! -As palavras de Renata surpreenderam a todos, eu até mesmo me engasguei com a saliva.

-Isso ligaria você nisso, afinal elas estão no caso dos barões da química, lembre disso. -Afirmou Viktor. -Por mais que não pareça, a forma mais segura de jogar esse jogo, é destrui-las por dentro.

  Renata confirmou voltando a ficar calma, aquela reação me assustou tanto quanto a outra, ela anda muito volátil, isso não é bom.

Opostos ComplementaresOnde histórias criam vida. Descubra agora