Apreço

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Warwick

  Quando a garota disse aquela frase, minha cabeça latejou, eu tive um flash back curto, um homem dizendo a mesma coisa, para algumas crianças, e uma delas tinha seus fios rosados e olhos azulados em um tom quase cinza, cabelo raspado na lateral, eu arregalei meus olhos me levantando, e naquele momento outra visão veio, balancei a cabeça sentindo-a arder como se fosse derreter, um grunhido baixo saiu de meus lábios automaticamente.

-Espera...

Quando eu falei ela sequer estava lá, eu forcei a memória tentando recobrar algo, lembrei do homem, barbado, com uma expressão calma e uma cicatriz em um antebraço, segurava aparadores de chute para a garota, em um treino de sequência, assim que ela baixou a guarda ele acertou o aparador contra o rosto dela, ele riu baixo pela expressão dela e falou:

"você precisa melhorar essa defesa, não dá pra esquivar o tempo todo Vi".

-Violet...

  Eu arregalei meus olhos sentindo um arrepio correr meu corpo, ela não estava mentindo? Será que aquele homem, era eu?

-VI!! - Eu gritei mas foi inútil, ela não ouviu, um resmungo saiu dos meus lábios e eu farejei o ar afim de conferir sua presença, é ela já havia saído.

Darius

Eu me levantei quando o sol se ergueu e sussurrei baixo perto da garota, que também se colocou em pé.

-Vamos fazer isso de forma discreta, olha, sempre, nossos movimentos de ataque virão primeiro desse lado.

Eu apontei para meu lado esquerdo, ela assentiu.

-Tá velhote, você decide a ordem dos fatores.

-Vamos andar com os mesmos pés, e bater na madeira de forma simultânea pra tentar começar a entender os movimentos do outro, até que exista sincronia o bastante para lutar.

-Acho que isso vai levar um bom tempo.

Ela riu e eu suspirei confirmando com a cabeça, concordo que isso levará um tempo considerável, principalmente pensando na diferença de estatura que temos.

  As grades de nossa cela correram nos trilhos, os guardas encararam nossos olhos e saímos do nosso recanto, começamos a caminhar, alinhando discretamente cada passo, vez ou outra eu ou ela perdíamos o ritmo do outro, se vamos correr acorrentados é bom que isso deixe de existir e seja o primeiro dos treinos.

-Vamos sempre pisar com esse pé primeiro.

  Ela confirmou olhando discretamente para o meu pé, eu havia dito em um sussurro baixinho para que não escutassem.

-Okay...

Suas palavras vieram baixas e com um suspiro pesado como se ela sentisse o peso de segurar o tom de voz baixo daquela forma.

  O guarda se aproximou de nós empurrando-me para que caminhasse mais rápido.

-Agiliza aí!

  Eu suspirei sentindo a raiva subir mas me contive em apenas o encarar no fundo dos olhos, o guarda deu um passo para trás e eu voltei a olhar para frente caminhando, vou me lembrar desse imbecil.

  Riven seguia bem os meus passos e fomos direcionados até a floresta, eu reparei tudo o que ela havia me dito e sorri ladino, a garota estava certa.

  Estava começando a ter um apreço por ela, nós nos sentamos embaixo da mesma árvore de sempre e recebemos a cumbuca com a mesma sopa de todos os dias, e o pão velho quase mofado.

  Riven estava comendo em silêncio e eu corri a mão pelo solo, a terra era úmida, sinal de vida embaixo dela, eu encarei ela novamente.

-Riven...

Opostos ComplementaresOnde histórias criam vida. Descubra agora