Lembranças e futuro incerto

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Vi

  Quando eu entrei em casa, o peso sobre mim estava tão grande que sequer sabia o que pensar ou fazer, eu não sentia mais o típico aperto no coração, eu não sentia nada, eu caminhei até o sofá e me joguei sobre ele, o homem algemado foi pego por Ekko e o mesmo o puxou vindo até mim.
 
  Meus olhos encararam por alguns minutos a foto sobre a estante, aonde estava toda minha família, apesar da imagem alaranjada pelo tempo em que havia se passado, era a única lembrança que eu tinha, é, só sobramos...eu e Ekko.

  Caitlyn havia corrido com Jayce para o hospital para que Ezreal não morresse, no caminho até aqui ele teve três paradas cardíacas, e nós dois ficamos de levar o prisioneiro até a delegacia, até onde entendi os policiais que vieram com Jayce levariam Renata.

  Ekko tocou meu ombro dando um longo suspiro.

-Entendo como se sente, eu sei que pra você ele sempre foi muito importante.

  Eu me levantei e o encarei confirmando, em sequência eu caminhei até o homem o puxando e o empurrando para que começasse a caminhar, eu não disse nada, não queria falar daquilo.

  Eu dei um longo suspiro e Ekko pareceu entender meu olhar, ele me conhece o suficiente para isso.

  Nós caminhamos até a delegacia, sem dizer nada.

  Assim que chegamos eu prendi o homem contra a mesa de interrogatório e caminhei para a cadeia que tínhamos ali, era uma espécie de prisão temporária, eu já fui parar nela algumas vezes por dizer algumas verdades e quebrar algumas coisas.

  Eu liguei a luz do corredor e pude ver Renata ali, suspirei e cruzei meus braços a encarando fundo, a mesma sorriu ladino.

-Tem o que queria Violet?

-Você presa? É nós temos.

-Um pai morto, uma irmã presa e um amigo morrendo.

  Eu poderia me descontrolar e partir para cima dela, essa foi a minha vontade mas isso seria menos doloroso do que eu queria que fosse, e iria me causar problemas.

-Bom, existem consequências, mas tenho você apodrecendo até morrer, em Aguamansa...E eu vou lutar para que não matem você, para que você apanhe muito, sofra muito, e sinta tudo o que tiver que sentir, antes da vida roubar sua existência medíocre.

Caitlyn

  Eu caminhava de um lado para o outro incansável enquanto aguardava as notícias do Ezreal, Jayce permanecia sentado na sala de espera e seus olhos me acompanhavam indo e vindo, ele se levantou e veio até mim segurando meu rosto em suas mãos fazendo com que eu o olhasse.

-Cait, calma, pare de andar você acabou de levar alguns pontos, o esquema caiu! Você conseguiu! Ficar impaciente não vai fazer a situação dele melhorar.

  Eu sabia que ele estava correto mas eu não conseguia imaginar uma forma melhor de me distrair do que caminhar de um lado para o outro, mesmo que o ferimento da minha perna estivesse implorando trégua.

-Você está certo.

  Ele sorriu curto e assentiu soltando meu rosto e caminhando para a cadeira, ele se sentou e eu me sentei ao lado dele.

  Um suspiro e um riso frouxo saiu de seus lábios, eu o encarei um pouco confusa.

-Quem diria não é? Você e a Vi iriam solucionar um caso como esse em tempo Record, logo ela, que você tanto odeia.

-É...Quem diria.

-Ainda odeia ela?

  Eu toquei meu braço e desviei meu olhar do dele, era estranho ter ele me questionando sobre isso, eu não sabia se podia contar para alguém.

-Não...

-Então são amigas agora?

Eu suspirei, nem eu sei o que nós somos, se é que pra ela somos alguma coisa, tudo bem ela me deu o colar, mas eu disse que a amo e ela não disse absolutamente nada.

-Acho que não.

  Meus pensamentos voaram até a mulher de cabelos rosados, quando eu cheguei com Renata algemada aonde Vi estava com o corpo de Warwick, sequer tive tempo de falar com ela, mas seu olhar estava distante demais, conhecendo-a como a conheço, ela não vai querer falar, sua voz só vai dizer o que sente ou pensa quando o peso for demais e ela precisar falar, como foi na academia da última vez.

-Cait?

-Humm...

  Eu o encarei e ele olhou ao redor notando que estávamos distantes das poucas pessoas ali.

-Você conseguiu.

Eu assenti, apesar de estar feliz, a situação de Ezreal não me deixava comemorar, eu queria vê-lo bem, e ainda tinha Violet, provavelmente ela está péssima.

  Assim que o médico apareceu nós dois levantamos e fomos até ele para entender o que estava ocorrendo, ele veio em nossa direção com calma, suspirou e olhou para a prancheta.

-Sendo claro com vocês, Ezreal permanecerá internado, ele estava vivo, porém não está acordando, felizmente parece que seus ferimentos não são graves, mas seu Córtex cerebral não está respondendo para nós.

-O que isso significa? -Jayce perguntou parecendo assustado, eu suspirei fundo e senti meu coração apertar. -Ele vai ficar bem?

-Não sabemos, em suma, o Córtex é responsável pela nossa voluntariedade, falar, se mover, e pensamentos cognitivos...Isso signfica que ele está em coma, sinto muito.

  Jayce me encarou e eu assenti algumas vezes, ele me abraçou e eu apenas o abracei de volta, sem dizer nada, assim que ele me soltou o médico afirmou que não poderiamos ver Ezreal hoje, e que se quisessemos voltar deveríamos vir somente amanhã no horário de visita, eu confirmei e fui para casa, Jayce me ofereceu carona mas eu preferi ir andando.

  Assim que cheguei eu entrei em casa e subi as escadas calma e silenciosa, apesar de não estar prezando uma grande cautela, no momento em que empurrei a porta do quarto eu caminhei direto para o banheiro, sem sequer esperar muito, eu liguei o chuveiro e me despi, entrei embaixo da água, meus olhos se fecharam e eu encostei a cabeça contra a parede.
 
  Um suspiro saiu de meus lábios, havia um misto de alegria e tristeza tomando conta de mim, alegria por finalmente ter atingido meus objetivos, por fazer da polícia mais limpa, mas uma dor e tristeza imensa por ver Ezreal naquele estado, por saber que seu futuro era incerto, e por saber que dentro de Vi, nesse exato momento, tudo o que ela deseja é que a dor vá embora.

Eu me banhei e logo desliguei o chuveiro, sai do local enrolada na toalha, caminhei para o espelho e comecei a pentear meu cabelo, lentamente eu corria a escova por ele, quando eu olhei para o espelho encarando os detalhes do meu rosto, o prata brilhante do colar reluzindo no espelho, me chamou a atenção, eu sorri minimamente, eu segurei o pingente correndo levemente o dedo indicador sobre ele, meus olhos se fecharam e eu me recordei de muita coisa sobre Violet...

  Das brigas bobas que nós tínhamos antes de eu conhece-la tão bem, da forma ousada que ela se comportava, que costumava me causar repúdio, dos primeiros contatos na biblioteca aonde eu reparei cada detalhe de sua face, do primeiro toque, o primeiro beijo, as coisas que enfrentamos e as diversas vezes que achei que morreria, de mim mesma tentando não aceitar meus sentimentos, da minha vontade de fugir disso e do inevitável sentimento que surgiu, e de ter admitido para ela, o quão rápido eu passei do Ódio para o Amor.

  Eu caminhei até o guarda-roupa e vesti o baby Doll me deitando, eu adormeci rapidamente, estava extremamente cansada, e eu repetia para mim que amanhã será outro dia.

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