Opostos Complementares

Silêncio ensurdecedor

Vi

Eu fiquei na espreita vendo Warwick ser levado, estava atrás de um pilar enorme, nem que eu quisesse seria vista, primeiro eu fui presa, depois minha irmã e agora o antigo Vander, é parece que minha família tem um cartão de visita especial em Aguamansa.

  Eu observava toda a ação e Caitlyn conversando com alguns defensores e com o Xerife, não demorou muito para todos sumirem mas Jayce apareceu, mas esse cara é um pé no saco mesmo, o que ele está fazendo aqui?

  Ele ficou bastante tempo conversando e rindo com ela, eu não ligo para ele, mas cacete ele me irrita, eu fiquei apenas aguardando que ele fosse embora.

  Assim que ele foi embora ela voltou a mim, eu encarei a mesma quando ela me estendeu um cartão; peguei o objeto parecendo confusa e ela iniciou sua explicação:

-Esse é o cartão para que consiga visita-lo, ele não vai pra Aguamansa, feras como ele são perigosas lá, vai ficar enjaulado em outro local, tem o endereço na parte de trás, e seu número de permissão de visita, eu fingi que era para mim...Foi o Jayce quem me deu... -Eu virei o cartão vendo os dados, em seguida encarei seus olhos
-Isso é "para interrogar sempre que preciso", mas na verdade é seu para tentar refrescar a mente dele, ele lembrou dos seus olhos...Vai que ele se lembre melhor de outras coisas.

Eu me levantei guardando o cartão, essa mulher, doce como sempre, me faz sentir algo diferente, acho que eu consigo dizer pra ela, será que eu devo? Ou pareço emocionada? Essa dúvida nunca vai me abandonar?

-Eu queria...Eu diria...Bom... -Eu já comecei mal, eu não sou boa com isso, ela apenas me encarava esperando que eu continuasse, é eu não vou conseguir. -Obrigada Cupcake.

  Ela sorriu curto e assentiu com a cabeça, eu segurei seu rosto e a puxei ela arregalou seus olhos, eu me aproximei erguendo-me na ponta dos pés, meus lábios tocaram sua testa deixando um selar suave sobre ela.

Assim que me afastei soltei seu rosto e ela pareceu confusa e eu lhe dei as costas caminhando em direção a porta.

-Eu vou pra casa, a gente se vê amanhã Cupcake.

  Eu não sou boa com nenhum tipo de demonstração de sentimentos e coisas do tipo, esse não é, nunca foi, e nunca vai ser meu forte.

  Ela não disse nada e eu apenas sai, assim que cheguei em casa e abri a porta pisei em algo volumoso no chão, ergui o pé olhando para o chão, era uma carta, ninguém me escreve, além do Ezreal, franzi o cenho e a peguei, caminhei para o sofá e me sentei abrindo-a.

  Meus olhos rolaram atentamente sobre as palavras escritas, a caligrafia era bem conhecida por mim, era realmente o loiro.

  Enquanto eu lia, retirava as botas com a ajuda de uma de minhas mãos, na carta ele dizia:

"Violet eu não sei exatamente quando a carta chegará em você, nem se será cedo ou tarde, mas aquilo que vocês me falaram está parecendo cada vez mais real, eu estou sendo seguido e espero que nada aconteça, mas as suspeitas fazem cada vez mais sentido, ontem quando estava caminhando pelo centro da cidade isso me incomodava e eu vi certas coisas, e parando para refletir faz muito sentido, vou dar algum jeito de voltar antes do tempo que pediram, eu preciso que confie em mim! Espere o meu retorno, vou fazer de uma forma que não seja visto no cais, por favor não me escreva de volta, talvez eu não esteja mais em Demacia, e espero que a carta chegue intacta, e que vocês estejam bem.
Até breve."

  Eu corri a mão por meus cabelos dobrando novamente o papel, ele acabou não dizendo nada importante com medo da correspondência ser violada, mas mesmo assim fez questão de dizer que voltaria logo, isso me preocupa, Ezreal não pode ser capturado por ninguém, por mais que ele seja uma pessoa extremamente habilidosa, não quero que corra esse risco.

  Mesmo assim tudo o que posso fazer é torcer para que tudo dê certo, eu subi as escadas e fui para o banheiro, a primeira coisa que fiz foi tomar um longo e relaxante banho,  depois me vesti e fui direto para a sala, peguei o cartão que Cait me entregou e o encarei, não sei se estou tomando a decisão correta, mas com um longo suspiro eu saí de casa, era madrugada, eu caminhei até o local, eu nunca havia estado ali, não havia seguranças ou pessoas, somente uma porta com o local para passar o cartão, eu o fiz e a porta subiu, entrei no lugar e caminhei em meio ao longo corredor, quanto mais longe eu chegava mais gelado ficava, haviam várias jaulas, visivelmente para feras e monstros, eu cheguei no meio do corredor encontrando sua imagem, os olhos da fera buscaram os meus, o local era fria demais, a ponto de conseguir ver o ar quente sair de meus lábios, as paredes de puro metal, chão de concreto, correntes de aço inoxidável, deixavam o ambiente pesado, quase não havia iluminação, o silêncio era ensurdecedor, eu podia ouvir meu coração batendo e minha respiração.

-Warwick, podemos conversar?

  Ele me ignorou, eu me sentei cruzando as pernas em borboleta, ele estava deitado no chão acorrentado, parecia um cão abandonado, suas orelhas estavam caídas, eu suspirei.

-Você foi um homem, diferente dos outros, sei que não se lembra de nada, mas você me acompanhou a vida toda.

  Seus olhos me buscaram, eu não consigo decifrar o que se passa em sua mente, eu sorri fraco e soltei um bufar.

-Você foi um bom homem, é uma pena ver você assim, não se lembra de nada?

-Warwick...-Ele bufou e rosnou erguendo as orelhas e os olhos. -Lembra grito de garotinha, não sei quem é.

  Eu confirmei com a cabeça e um longo silêncio se fez, eu sei que ele não acreditaria fácil em mim, e eu no seu lugar eu faria o mesmo, não dá pra simplesmente acreditar em qualquer coisa que se escuta, ainda mais quando a pessoa que te fala, prendeu você.

-O que você está fazendo em Zaun?

-Caçar bandidos do submundo, mas o cheiro do sangue me faz matar qualquer um.

-Você não consegue controlar?

  Ele se levantou e virou as costas para mim, sentou-se naquela posição, eu apenas suspirei, me levantei e estendi minha mão atravessando entre as grades e tocando suas costas, eu fui correndo o dedo delicadamente por sua pelugem, sua orelha deu um leve espasmo e ele rosnou, mas apesar do rosnado sua calda começou e bater e ele pisou nela como se quisesse esconder suas emoções.

-Eu vou vir aqui sempre que puder.

  Eu me afastei e sai do local, tão difícil quanto o próprio Vander.