Um pouco sobre você

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Vi

  Eu estava apoiada no balcão conversando com Caitlyn, estávamos combinando alguns detalhes para a missão, eu tô achando fofo o fato dela não conseguir mais me encarar fixamente por muito tempo.

-Gostariam de beber algo?

  Caitlyn confirmou e pediu água com gás gelo e limão, eu fiz uma leve expressão de nojo, essa mistura parece horrível, gente rica é tudo estranha!

-Eu quero um Martini... -Caitlyn me olhou surpresa, obviamente, álcool no trabalho poderia pegar mal, mas o gosto dessa bebida é sensacional, e apesar de eu não beber álcool, quando bebidas assim são batidas, o álcool desaparece, em resumo, era como beber qualquer outra coisa -Batido, não mexido!

O garçom fez uma expressão de estranheza, mas confirmou, Cait ergueu uma sobrancelha e soltou um leve riso, acho que ela entendeu minha intenção.

-As vezes você é inteligente.

-O que? -Sua colocação me tirou um questionamento raso, como assim "as vezes" eu acompanho todos os raciocínios dela, só não tão rápido, mas eu acompanho!

-Batido? -Ela se sentou no banco e me encarou cruzando as pernas enquanto o garçom colocava sua taça no balcão -Esperta porque; batendo o álcool não se propaga como faz quando mexe, então você não vai ficar bêbada, vai continuar sóbria como se não tivesse bebendo.

-Você é inteligente em. -Estou surpresa que ela conheça esses truques sujos, raramente a ciência da bebida é conhecida por alguém além de alguns Barman's.

-Só quando necessário.

-Sabe... -Eu me sentei na cadeira, meus pés não tocavam o chão, o garçom colocou a bebida em minha frente e eu a peguei em mãos bebendo lentamente. -Eu já usei muito essa técnica, para descobrir informações, Vander me ensinou isso.

-Ele te ensinou muitas coisas?

-Praticamente tudo o que eu sei tem uma mão dele.

  Eu senti um leve sorriso surgir em meus lábios, Caitlyn parecia pensativa, como se perguntasse algo mentalmente, eu a encarei, ela mordeu seu lábio levemente como se quisesse falar algo e evitasse, caralho eu não vou esquecer esse beijo tão cedo, seus olhos me fitaram e seus dedos correram pela taça como se ela não tivesse o que dizer ou ponderasse para faze-lo, era como se estivesse pensando em algo distante, eu dei um estalar de dedos próximo a sua taça, ela notou que estava muito tempo distante e então ela permitiu que sua voz viesse  novamente:

-Você é diferente.

  Suas palavras saíram baixas eu franzi meu cenho e encarei ela, diferente como? Poderia ser bom, ou ruim, o mundo ao meu redor parecia parado, era como se não houvesse ninguém perto, era estranho pensar que naquele mesmo instante, seus pais poderiam estar nos encarando, eu engoli a seco e perguntei:

-Como assim?

-Você nunca me disse nada da sua vida, só sei sobre você, o que o Ekko me falou e o pouco que você me deixa conhecer, por que tem tanto medo?

  Eu suspirei, esperava qualquer questionamento menos esse, eu respirei profundamente, encarei a bebida em mãos enquanto sentia seu olhar caído sobre mim, esperando uma resposta clara.

-Minha vida, nunca foi muito interessante.

-E como foi?

  Eu neguei com a cabeça pronta para dizer que não queria expor nada sobre mim, mas sua mão pousou sobre a minha, como se ela quisesse me passar confiança, ou pelo menos conforto.

-Sei lá. Não sei falar nisso.

-Por que não tenta me deixar saber um pouco sobre você?

  Eu deixei um suspiro longo escapar e ela retirou sua mão da minha e pegou a taça em mãos, acho que ela desistiu da ideia de me ouvir, mas eu respirei algumas vezes de forma pesada antes de começar a falar:

-Eu perdi meus pais muito nova, tinha nove anos, fiquei por conta própria; também precisava proteger minha irmã, eu... -Encarei seus olhos, ela estava atenta, eu nunca havia falado da minha vida tão abertamente, sua forma doce de tratar a situação, sua atenção com as coisas, e seu olhar quase me implorando me fizeram tomar a decisão de contar sobre mim.  -Bom, eu acabei me abrigando naquela caverna onde ficamos, e nisso conhecemos o Ekko e outras crianças perdidas, também órfãos da guerra...Infelizmente, eu não tive muita opção, tentei alguns empregos e, nada...Eles gostam de meninos para carregar e descarregar as coisas, então eu acabei ficando de fora por ser uma garota, Mylo ficou de fora por ser muito magro, Ekko e Powder por serem muito novos, somente um de nós conseguiu um emprego, mas ele não poderia ser o único alimentando cinco bocas, então, eu comecei a roubar comida, eu odiava mas não tinha muita opção na época... -Ela parecia surpresa com as coisas que estava ouvindo, dei mais um gole na bebida -Foi então que eu roubei o dono de um bar, que me perseguiu pelas vielas, eu achei que tivesse despistado ele, e fui para a caverna, mas quando eu estava colocando os pães no cesto que tínhamos lá, ele apareceu e todos nós ficamos encurralados, ele olhou pra gente e percebeu a nossa situação, estávamos jogados ali como nada, ele adotou a gente, todos nós... -Ela pareceu sentir algo pelo que eu falava, não sei se era pena ou empatia  -Eu comecei a lutar, ele nos deu um lar, Ekko começou a aprender coisas incríveis, a gente não passava mais fome e tínhamos um teto, tudo estava bem, até os barões da Química verem um problema em Vander, os barões querem a independência de Zaun, não porque amam ela, mas porque querem explorar o povo até a última gota de sangue sem que exista consequências, e Vander sabia disso, então manteve um acordo firme com Piltover, aí tentaram se livrar dele, achei que pudéssemos fazer algo, mas não podíamos, eu tinha treze anos, quando os Barões o pegaram e torturaram, nós tentamos resgata-lo, tudo deu errado, e todos morreram, Ekko ficou vivo porque não foi conosco, Powder no caso a Jinx causou uma explosão que matou todos, e naquele dia eu fui parar na cadeia...E o resto você já sabe, Ezreal provou minha inocência no caso que tirou do arquivo, prendeu o culpado real do assalto no cofre, e com um belo discurso me convenceu a virar oficial, eu consegui uma vida melhor, mas acabei descobrindo depois de um tempo quem minha irmã tinha se tornado e aqui estou, sendo a dupla da futura Xerife, e sabe de uma novidade? Ela não me odeia mais.

Ela riu e virou o resto da bebida negando com a cabeça, eu sorri ladino e a mesma me empurrou.

-Nunca disse que deixei de odiar você! Só aprendi a suporta-la.

-Humm, já vejo um progresso então.

-O que?  -Ela riu e eu ergui uma sobrancelha.

-Joguei verde, você que falou o que eu queria saber.

  Eu saí andando ela parecia perplexa quando eu falei aquilo, fiz um tchau com a mão, sem olhar para trás, mal posso esperar pra passar uns dias em casa, havíamos ganhado quatro dias de folga graças a premiação, não aguentava mais esperar por isso, quero uma coleção de prêmios!

  

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