Como teria sido?

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Caitlyn

Eu saí daquele lugar e assim que cheguei no lado de fora da academia eu me encostei na parede, minhas pernas estavam bambas, talvez pelo nervosismo, eu não sei porque eu fiz isso, eu só sei que foi muito bom, eu não imaginava que sentiria aquele arrepio percorrer meu corpo quando suas mãos apertaram minha cintura de forma suave, mas Vi tinha lábios suaves quentes e macios, um beijo calmo e gostoso, que droga eu não deveria pensar nisso, não dessa forma, como eu posso encarar ela agora?

  Eu no lugar dela não acreditaria em um "te beijei pra calar a sua boca" fala sério isso é impossível de se considerar...Eu não sei o que deu em mim, eu fui lá pensando em conversar, pedir explicações, e eu simplesmente beijei ela!

  Suspirei e caminhei até minha casa novamente, eu tentei afastar esses pensamentos e assim que abri a porta minha mãe sorriu, ela estava na companhia de Jayce, péssima hora pra conversar com ele.

-Olá Caitlyn! -Ela sorriu ao me ver, isso é bem raro, provavelmente está bancando a boazinha porque o Jayce está aqui.

-Oi mãe... -Eu encarei Jayce e sorri curto -Olá Jayce.

-Olá Cait! -Ele se levantou e veio em minha direção. -Aonde estava?

-Eu... -Engoli a seco e senti meu rosto corar, já vi que eu não sou a melhor pessoa do mundo para esconder as coisas. -Estava treinando.

-Vamos dar uma volta mais tarde?

Eu confirmei e caminhei em direção ao meu quarto, eu não estava com cabeça para sair de lá assim, meu corpo estava dolorido e minha mente girava.

-Que merda. -Eu tranquei a porta me encostando nela, o que estava acontecendo comigo? Qual era o sentido de todas essas sensações? Que beijo bom... Será que Vi, sentiu as mesmas coisas? -Zaunita maldita!

Ezreal

  Assim que eu abri a porta da minha casa ouvi a voz do velho gordo que estava jogado no sofá, ele tinha seus pés sobre a mesinha e derrubava salgadinhos no meu sofá, diversas latas e garrafas de bebidas estavam espalhadas pela minha sala.

-Trouxe alguma coisa interessante Moleque?

  Eu suspirei e apertei meus olhos, se eu pudesse eu sequer voltaria para casa, foi por isso que me tornei explorador, na intenção de ficar longe o máximo que pudesse, eu considero que não tenho família, meus pais bom...Meus olhos se fecharam dando espaço para as memórias do meu aniversário de oito anos:

-Ezreal vem cá! -Meu pai se abaixou frente ao meu corpo e me entregou uma fita vermelha a amarrando em meu pulso -Isso é um símbolo de coragem, porque você tem sido um bom menino e o mais corajoso que já vi! -Ele acariciou meus cabelos -Você será um grande homem; vai proteger sua irmã não vai?

-Vou! -Eu sorri e peguei a bola do chão a chutando para ele.

-Feliz aniversário filho.

  -Ele chutou a bola de volta e eu a parei com facilidade, meu pai era loiro e tinha olhos negros, e minha mãe era loira com seus órbes azulados e pele morena, ela estava sentada em uma cadeira ali no quintal.

Apesar de grávida ainda não era visível, ela se levantou e disse que pegaria algumas bebidas para nós, nós três éramos unidos, como se nada nunca pudesse romper a confiança que existia ali, ela entrou em casa, enquanto eu e meu pai continuamos brincando no quintal, até escutarmos um grito alto vindo de dentro de casa e o som de algumas coisas caindo, meu pai correu para dentro de casa e eu segurei a bola olhando para sua imagem sumindo, com receio eu fui andando com a bola em mãos e quando empurrei a porta da sala que estava encostada minha mãe gritou:

-Ezreal foge! -Eu soltei a bola e meus olhos se encheram de lágrimas no mesmo instante, haviam três homens ali, eles haviam saqueado meus pais, meu pai estava sendo segurado por um deles e outro o batia mas ele não cansava de tentar reagir, enquanto minha mãe estava imóvel no sofá, sem conseguir sair do lugar, e um deles a empurrava contra o sofá, a ponto de deixa-la sem ar, esse mesmo homem havia retirado as roupas íntimas dela e a abusava na frente dos meus olhos e na frente do meu pai, eu senti minhas mãos tremerem e mais um homem surgiu segurando uma sacola grande com as coisas, ele me fitou e soltou ela no chão e veio em minha direção.

-Olá menininho...Qual o seu nome?

  Eu senti as lágrimas correrem e soltei a bola empurrando e chutando ele.

-Sai da minha casa! Soltem a minha mãe! 

   Eu avancei sobre o homem, ele riu e me tirou do chão com facilidade desferindo uma joelhada em meu estômago, o gosto metálico do sangue preencheu meus lábios, ele me soltou e retirou uma faca de seu bolso vindo em minha direção, meu pai entrou em desespero e jogou um dos homens na parede, a atitude chamou a atenção do homem em minha frente, e o mesmo desistiu de mim e foi na direção dele.

-Você está dando muito trabalho cara!

  Ele enfiou a faca no pescoço dele e retirou rapidamente, o sangue escorreu e jorrou, meu pai caiu no chão e seus olhos me fitaram, eu senti meu coração apertar e a raiva tomar conta de mim, encarei minha mãe que agora chorava em desespero, seus olhos pediam para que eu fugisse, eu me levantei e tentei avançar sobre eles novamente, os dois que antes seguravam meu pai agora me batiam, mas eu não desistia de levantar e tentar novamente, estressado comigo um deles pegou uma sacola de lixo na cozinha e colocou em minha cabeça e me amarrou contra a estante de livros, ele me sufocou diversas vezes, eu me debatia mas a estante era pesada o bastante para que não se movesse, eu fiquei sufocando amarrado enquanto escutava minha mãe chorar e gritar

Quase inconsciente eu ouvia tudo o que eles diziam e faziam, quando o silêncio se fez, eu soube que estava só, e que meus pais estavam mortos.

  Sai das minhas lembranças quando o velho chato se pronunciou novamente.

-Hey Ezreal? Ficou surdo?

-Não trouxe nada!

   Afirmei e caminhei até ele batendo a mão sobre seu pé.

-Tira o pé da mesinha! Não é você quem limpa!

  Eu subi para o meu quarto, é...Eu acabei ficando aos cuidados do meu tio, ótimos cuidados, um alcoólatra que não cuida nem de si mesmo.
 
  Desde que ele se aposentou ele só bebe e mais nada, eu já tentei fazer com que ele parasse mas a essa altura do campeonato eu já me rendi, desde que tenho treze anos eu trabalho quase que para sustentar esse cara, infelizmente ainda não consegui dinheiro o bastante para me mudar, eu pago todas as contas e me viro com tudo, por enquanto o melhor para mim era estar longe daqui.

-Ainda bem que amanhã eu vou para Demacia.

  Me sentei na cama e encarei o retrato de meus pais sobre a mesinha, eu suspirei, me perguntava como teria sido conhecer minha irmã, ou como tudo estaria hoje se nada daquilo tivesse acontecido.

-Queria ser o homem que você achava que eu seria.

  Eu  encarei meu pai no retrato, me deitei encarando o teto rendido a fraqueza em meu coração, e a toda a dor que eu segurava dia após dia.
 

Opostos ComplementaresOnde histórias criam vida. Descubra agora