Vi
Nós caminhamos para dentro do estabelecimento, não faço ideia do horário em que abre, mas não havia ninguém ali, Caitlyn foi para um lado e eu pelo outro, cada detalhe do local parecia normal.
Enquanto eu andava perto da esteira da fábrica analisando o local, avistei um mural com a foto dos funcionários, parei ali na frente e suspirei levemente.
Inúmeras pessoas terão um futuro incerto, é foda como até quando fazemos o certo alguém que não está errado se fode, o erro da Renata é capaz de modificar uma vida, e a nossa missão, ela limpou Zaun, mas para alguns, tiramos sustentos, é difícil entender como as coisas funcionam as vezes, fazendo o certo ou errado, os reflexos sobre aqueles que estão envolvidos sempre chegam.
Eu voltei a caminhar sem olhar para o lado, apenas caminhei, atenta a cada detalhe do local, eu andava perto das empilhadeiras, eu dei uma geral nos armários e gavetas da sala de administração, mas me parece que a única sala aonde existem dados de contrabando é a dela.
"Menos mal!"
Eu me virei caminhando para a sala de Renata, eu abri a porta e Caitlyn me encarou, ela se sentou na cadeira e cruzou as pernas encarando uma pasta que estava aberta com alguns papéis que pelo olhar dela, julgo ser suspeito, ou preocupante, ela parecia distante enquanto me olhava.
-O que foi Deusa?
Eu questionei e ela ergueu a sobrancelha parecendo surpresa e ao mesmo tempo pareceu achar graça da palavra usada, mas sua expressão ficou seria de repente.
-Bom, tem alguns dados aqui, que podem ajudar a Renata a não sair mais da cadeia, só que o problema é que aqui, está listado o desaparecimento do Tremello nas últimas reuniões.
-E o que tem?
Eu questionei tentando não entregar o jogo, eu havia me livrado dele, e eu sei que Caitlyn ficaria louca comigo se soubesse disso, mas acho que entre nós, ela é a raposa e não eu.
-Ele desapareceu...E...Detalhe importante... -Eu engoli a seco e ela se levantou e me encarou profundamente, ela ainda nem é minha chefe e já me dá calafrios quando me olha com raiva. -Na mesma noite em que você apareceu em sua casa, coberta de sangue, sem explicação alguma.
-Você disse que isso não importava.
-Depende do que você fez, se você brigou com alguém ou se era o sangue de alguém que você socorreu ou sei lá...Mas não havia passado ainda pela minha cabeça, que o Tremello estava desaparecido, porque você matou ele.
-Pera aí, eu não disse que matei o magrelo!
-Violet... -Ela respirou fundo e encarou meus olhos fixamente, o calafrio retornou e eu suspirei, que merda, eu não vou conseguir mentir. -Eu só vou questionar você, uma vez, não minta! -Ela deu uma pausa torturosa e seus olhos me fitaram com um resquício de esperança, mas parecia que no fundo ela sabia a verdade, antes que ela perguntasse eu confirmei e falei baixo:
-Sinto muito.
Ela confirmou e desprendeu seu olhar do meu suspirando fundo, parecia desapontada, chateada e com raiva.
-Você é policial.
Ela falou em um tom desapontado, eu entendia sua visão, mas eu conhecia os dois lados da polícia, o bom, e o ruim, Caitlyn nunca passou por nada que levasse ela a sentir medo deles, tudo o que ela sentiu, foi admiração.
-Eu fiz o que qualquer um queria fazer.
-Querer não é poder!
-O que é uma gota de sangue em um mar de dores?
-O que é? -Ela negou com a cabeça e suspirou correndo a mão pelos cabelos. -Homicidio é um crime, se é que você não está lembrada.
-Caitlyn, esse é o nosso trabalho, nós matamos pessoas, eu você e todo mundo ali, seja qual for a causa por trás, tem sangue nas suas mãos também!
-Mas por um motivo!
-É, e eu não tive?
-Não sem uma prova! Se souberem disso você vai ser presa, no mínimo cinco anos...E ainda me arrasta junto com você pra lá, eu não tenho como provar que não sabia disso, e você não pode provar que não foi você.
Ela ergueu um pouco a voz mas se manteve firme apesar da sua voz trêmula; eu neguei com a cabeça.
-Ninguém sabe.
-E você acha que não vai ter uma investigação?
Naquele momento minha ficha caiu, era óbvio, eu não sou mais importante do que seu sonho de vida, do que seus objetivos, e agora, eu só sou mais uma decepção, está nítido na voz dela.
-Você não deixaria isso impune não é?
-Não.
-Porra, você é a futura Xerife, é óbvio que não vai...
-Eu não vou... -Ela negou algumas vezes com a cabeça e massageou as têmporas. -Eu não vou; se eu for Xerife eu não vou permitir que você trabalhe conosco, não com isso, ou você vai...
-Vai mandar me prender?
Eu franzi o cenho e seu silêncio foi o bastante para que eu me calasse, eu confirmei algumas vezes com a cabeça, eu achei que os sentimentos dela por mim fossem o bastante.
-Entendi...
Eu falei baixo e tirei o distintivo o colocando sobre a mesa, ela enfim disse algo:
-Não pensa que isso é simples pra mim.
-Saquei Kiramman, faz o seguinte então, leva meu distintivo, vai embora e fingi que nunca me conheceu, talvez assim seja melhor pra você, não é?
-Eu não disse isso.
-Vai em frente, me exonera.
Ela encarou o distintivo sobre a mesa, eu simplesmente não voltaria mais, e bom...Não sei o que pode ser de mim agora, dei as costas para ela, e por mais que eu quisesse voltar, acho difícil que isso aconteça.
Caitlyn
Quando ela saiu da sala eu senti um aperto enorme tomar meu coração, essa foi a coisa mais difícil que eu já fiz, não exonerei ela do cargo, ela mesma o fez, sabendo que daqui dois dias quando eu trocasse a farda, eu faria aquilo, mas ela o fez, aqui, diante de mim, para que eu não fizesse, diante do batalhão todo, o orgulho prevaleceu, e a decepção também o acompanhou, eu retirei fotos de tudo o que achasse suspeito e voltei para o carro, a chave estava na ignição, eu a peguei girando e sai do local, meu coração estava apertado e disparado, como se eu quisesse desesperadamente falar com ela.
Mas como eu vou olhar para a cara dela agora? Por que tanta coisa ruim acontecendo de uma vez? A melhor coisa que eu posso fazer diante disso, é me afastar totalmente, porque por mais que eu sinta que amo ela, meu trabalho é meu sonho de infância, e meu objetivo por toda a vida, eu não posso trocar todos os meus princípios e ética, por uma pessoa, que praticamente, chegou a pouco tempo, eu dirigi firme e em silêncio.
-Sinto muito Violet...
Eu senti uma lágrima enfim despencar de meu rosto quando eu estacionei o carro na garagem do quartel, eu suspirei falando baixo enquanto segurava as lágrimas:
-Sinto muito pela gente.
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Opostos Complementares
FanfictionCaitlyn e Vi são pessoas completamente diferentes, com vidas diferentes e histórias muito distintas. Mesmo assim, vencer as diferenças pode ser necessário para um bem maior. Da diferença, nasce algo ainda maior do que tudo já conhecido por ambas. ...