Cinco dias

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Vi

Eu confesso que quando eu abri a porta dando de cara com a mãe da Caitlyn eu quis fechar, mas a forma como ela me encarou quando disse que queria falar comigo me fez entender que era algo sério, até porque essa mulher nem vai com a minha cara, então é sério o bastante para que ela venha me procurar.

Então eu dei uma oportunidade para ela dizer o que quer que fosse, e quando ela deixou claro que era sobre Caitlyn e que ela havia desaparecido, um certo desespero bateu em mim, eu me senti impotente e fiquei imóvel, eu pude sentir meu coração disparar, por que ela foi até lá sozinha? Pra que se arriscar desse forma? Caitlyn não é burra ela sabe dos riscos...

Ela planejou algo que deu errado, eu tenho certeza disso.

Eu não queria deixar tão nítida minha preocupação então eu só me permiti fazer questionamentos altos quando ela saiu para pegar a pasta da Xerife.

-Por que? -Eu abri a mochila a preenchendo com itens de primeiros socorros. -Por que você fez isso? Por que foi sozinha? O que tem na sua cabeça? -Peguei alguns panos, uma marreta e algumas correntes, nunca se sabe o que te espera.

Um longo suspiro saiu dos meus lábios quando eu joguei a mochila ao lado das luvas, eu me sentia preocupada e uma lágrima deslizou do meu rosto, eu permiti que elas viessem, eu pensei várias coisas ruins de uma só vez.

Eu suspirei correndo as mãos pelos fios, eu fiquei meses distante, meses sem fazer nada do tipo, e agora a Caitlyn depende de mim, simplesmente porque a polícia está cheia de gente que não faz ideia do que é Zaun.

Eu sei que se eu não fizer nada ninguém vai fazer!

Eu suspirei profundamente e ouvi a mulher tocar a campainha, ela entrou quando eu pedi e ficou em silêncio enquanto eu estudava as hipóteses, eu passei um bom tempo anotando algumas coisas, vez ou outra ela me fazia perguntas, era nítido que ela não queria estar ali mas seu desespero a trouxe para a única pessoa que ela acredita que pode fazer algo, talvez por ser Zaunita...Ou pelo último caso que resolvemos ter sido um sucesso.

Eu deslizei a caneta pelo papel e retirei do caderno um papel dobrado que era o mapa de Zaun, encarando-o eu me lembrava vagamente das coisas que vivenciamos nesse pouco tempo que eu estive ao lado dela, como alguém foi capaz de me prender a ponto de eu arriscar tudo novamente?

-Vou precisar do seu marido.

A mulher franziu o cenho e eu suspirei fechando o caderno.

-Me descola um atestado quando eu voltar, não tô afim de procurar emprego de novo.

Ela pareceu pensativa e confirmou, eu suspirei novamente e peguei a chave de casa, girei na mão e encarei a mulher que se levantou.

-Quando você volta?

-Eu mando notícias em cinco dias, fechou?

Ela engoliu a seco e eu caminhei até a porta com a mulher me acompanhando, assim que tranquei a porta eu encarei a ponte, eu sabia bem para onde estava indo, e os possíveis riscos, e agora tudo o que eu sei é que Caitlyn estava investigando algo relacionado as viaturas, e que eu deveria pegar um rumo similar se quisesse concluir tudo.

Eu caminhei para a ponte e não olhei para trás, eu estipulei mentalmente um prazo de cinco dias, eu preciso conseguir antes disso, os bandidos não mantém as pessoas vivas por muito tempo, e devem querer algo com ela, espero que nenhum imbecil tenha machucado ela.

Eu estava no ponto zero, coloquei o capuz e fui caminhando pela rota que a viatura fazia, eu não estava com as luvas, e espero não me arrepender disso.

Caminhava me atentando a todos os detalhes do local, eu imaginava que era algo referente aos barões, havíamos deixado três deles vivos e soltos, nada vai me desacreditar que tenha a ver com eles, eu me abaixei abrindo a tampa do boeiro e pulando para o esgoto, eu retirei o mapa da mochila e fechei a tampa, segurei uma lanterna com uma mão e encarei o mapa, eu sabia aonde eu estava, e quais caminhos já trilhei, então sei por onde começar.

Caitlyn

Por mais que fizessem apenas três dias, minha mente parecia desmantelar, a dor dos músculos dispostos na mesma posição era horrível, eu já não sentia meus pés, aqueles caras não tinham humanidade alguma, por sorte eu ainda não passei por nenhum abuso, e chegava a ser surreal imaginar como meus pais estavam, provavelmente eles estavam péssimos, será que estão dormindo bem? Será que havia alguém me procurando?

A polícia encerra um caso de desaparecimento em 72 horas, em resumo meu prazo acaba hoje.

Não sei se existe alguém me procurando, no fundo eu torcia para que existisse, eu não queria morrer dessa forma, mas estava decidida a não entregar as chaves do batalhão, se eles fossem corajosos o bastante eles iriam até lá tentar entrar, mas sabiam que estariam em desvantagem, temos armas e pessoas competentes.

-Droga.

Eu sussurrei baixo, eu torcia as mãos tentando de alguma forma me libertar, o que era inútil, a única hipótese seria quebrar meus ossos da mão para sair, ainda sim, não havia força para isso, eu sentia que as correntes haviam cortado a pele do meu pulso, e eu já não tinha forças o bastante para tentar sair.

Muito pelo contrário, minha cabeça latejava, eu havia me tornado saco de pancadas do Singed, como se ele detestasse a ideia de não conseguir o que queria, eu imagino que estou cheia de hematomas, mas eu continuava ali, firme em minha palavra.

A porta abriu e eu sequer encarei a figura que entrou por ela, o homem que entrou se sentou no banco ficando na minha frente como de costume.

Ele correu sua mão por meus cabelos e colocou-os atrás de minha orelha, eu torci mentalmente para que ele não me tocasse de forma alguma, ele afastou o cabelo de meu pescoço e eu encolhi meu corpo como se quisesse de alguma forma me proteger, o que era visivelmente inútil, ele gargalhou e suspirou.

-Você tem medo de mim?

-Que mulher não teria repulsa?

Ele pareceu não gostar muito do que eu disse, e eu engoli a seco, acho que ficar quieta não é minha maior habilidade.

Cassandra

Eu adentrei minha casa e aquele vazio enorme estava me consumindo, naquele momento eu senti um peso enorme tomar conta de mim eu me sentei no sofá da sala e toquei meu rosto sentindo minhas mãos tremerem, encarei o quadro na parede, na imagem estávamos nós três, as lágrimas correram sem parar.

-A minha filha...Por que a minha filha? -Eu soluçava entre as lágrimas e sentia meu coração palpitar forte, o ar começou a faltar e eu apertei meus olhos, eu torcia mentalmente para que Vi a encontrasse e para que ela esteja bem, mas era horrível, até aqui eu tentei ser firme para não deixar minhas emoções tomarem conta de mim, mas era praticamente impossível. -Por favor... -Eu senti o ar faltar e a garganta parecia ter um nó. -Por favor, traga a minha filha de volta.

Eu dizia aquelas palavras entre lágrimas e soluços enquanto minhas mãos tremiam, eu as proferi, como se a mulher estivesse aqui, como se eu estivesse implorando para que ela conseguisse trazer Caitlyn de volta.

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