Cap 78 - O capítulo do aqui não é o meu lugar

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Aqueles minutos passaram mais rápido que Usain Bolt nas últimas Olimpíadas. Dinah percebeu meu nervosismo, mas preferiu não falar nada. Melhor assim. Melhor não me dar esperança e nem desesperança. Eu já não dou minha opinião na vida alheia pra que não me dêem opinião sobre a minha. Questão de saúde gente. Não consegui nem tomar meu frappuccino, e nem me sujei de creme. Deve ter sido o café mais triste que já tomei na vida. Na TV não parava de passar o tal congestionamento e eu só conseguia olhar meu celular e ficar stalkeando a Lauren pelo "visto hoje às" e para a minha surpresa, a última vez que ela olhou o Whatsapp, foi quando falou comigo.

Nesse momento passa tudo pela minha cabeça, desde um acidente com ela até um flashmob no meio da rua de pessoas dançando Lepo Lepo. Mas o melhor mesmo seria vê-la como a mocinha de Velozes e Furiosos, correndo contra o tempo em Montreal. Enquanto eu não sei o que tá acontecendo, o que eu posso fazer agora? Droga!

- Segunda chamada para vôo Montreal - Boston

- Mila, a gente precisa ir. Temos que passar pela imigração e isso leva tempo. - Olhei uma última vez para o meu celular, peguei minha bolsa e me levantei, ainda com meu frappuccino na mão. Não tinha mais como ficar esperando. Nem notícias eu tinha e também não queria pressioná-la. -

- Vamos!

Ah, é claro que eu estou chateada... bom, acho que chateada nem seria a palavra correta, estou mesmo é frustrada. A esperança é a última que morre e a minha não morreu, ela continuou deitada em posição fetal no meio do meu coração cantando "Seu guarda eu não sou vagabundo, eu não sou delinquente, sou uma Mila carente, eu dormi na praça pensando nela...". O aeroporto é enorme e bom, chegamos até aquela revista inicial e eu olhei uma última vez ao redor jurando que estava em um filme desses que um dos mocinhos sempre vai atrás do outro e diz "Oh, não se vá Lúcia Cristina, eu te amo!". Ou até mesmo em séries... tipo Friends. A Lauren tem uma voz bonita... poderia mobilizar o aeroporto inteiro cantando "Please don't go". Sucesso.

É, agora não tem mais volta. Parece que ficou faltando a despedida, sabe? Faltaram abraços, faltaram beijos, faltou tempo para conversar, faltou tempo para viver uma vida juntas.

Passamos pela imigração e fomos em direção ao avião. Ainda faltavam 20 minutos para a decolagem e eu olhava pela janela (fizemos um acordo de que na volta eu pegaria o acento da janela) o aeroporto e tudo que poderia ter acontecido se não fosse pelo maldito tempo, maldito congestionamento, maldito congresso de odontologia que mais parecia ser em Nárnia porque né, olha o tempo que levou...

Eu queria chorar sabe? Eu queria ficar aqui e não precisar ir embora. Eu estou totalmente disposta a largar tudo para vir pra cá. Mesmo. Nem que me contratem como ajudante de churrasqueiro ou vendedora de chucrute. Ou posso ser ajudante de dentista... o que eu vou achar ótimo porque eu vou aproveitar muito o tempo que teremos entre um paciente e outro para... aprender a fazer... um... tratamento de canal. Ahá, acharam que era safadeza?

Isso também. SHH. E também realizar um sonho. Não, nunca foi um sonho meu ser ajudante de dentista. Fazer amor com a Lauren na cadeira dela, sim. Isso sim.

Cinco minutos para a decolagem e eu sem wi-fi para saber da Lauren. Não sei se minha vontade de decolar e saber o que aconteceu é maior que a minha vontade de aproveitar até o último minuto respirando na mesma cidade que ela. Isso é ridículo... mas é real.

- Máscaras cairão por suas cabeças (...) mantenham os cintos afivelados (...) em caso de despressurização (...) - Céus! Se acontecer algo com o avião eles acham que eu terei a consciência de apertar o botão pro banco flutuar se eu tiver a sorte de cair numa lagoa, num mar ou na piscina de um ser rico? Tá certo. -

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