Meu Único Amor - 𝑷𝒂𝒃𝒍𝒐 𝑮𝒂𝒗𝒊

MATANDO A SAUDADE

Mirella Águiar

cheguei ao hotel onde ficarei hospedada, eu e meu pai viemos conversando o caminho inteiro tentando colocar os assuntos em dia.

assim que coloquei minha bagagem no canto da cama já fui imediatamente tomar um banho de banheira.

não pude conter toda minha vontade de entrar nela, ela era gigante, então já fui logo retirando minha roupa e entrando.

assim que chegamos ele me fez o convite de ir conhecer o CT do Barcelona, eu realmente estava cansada e só queria banho e cama, embora eu tivesse dormido o vôo inteiro.

então falei que iria no dia seguinte sem falta.

(...)

nem me lembrava da última vez que tinha demorado tanto em um banho. assim que saio já vou direto a minha mala e pego a primeira roupa que vejo.

excelente opção fiz para o que eu ia fazer no momento, dormir.

seco meu cabelo, fecho as janelas e já ligo o ar-condicionado, deixando aquele quarto bem gelado do jeito que gosto.

(...)

de onde tirei sono? não sei, só sei que dormi.

me levanto e já pego meu celular pra ver que horas era, me assusto ao ver que já estava noite, eu gostaria que alguém me explicasse como eu durmo tanto.

desbloqueio meu celular e vejo mais de 5 ligações perdidas do meu pai.

eu sou do tipo de pessoa que quando você precisar de ajuda não ligue pra mim, ligue direto pro samu, por que se tem uma coisa que odeio é atender ligações.

disco seu número para retornar a ligação, e em alguns segundos ele atende.

- eu espero de verdade que alguém tenha morrido pra poder me ligar tantas vezes pai. - não que eu queria que alguém morresse, longe de mim.

- vejo que continua odiando ligações né filha. - sim?!. - desculpa se atrapalhei algo é que quero te fazer outro convite.

- e o que seria pai?

- quero que jante comigo hoje. - opa, comer é comigo mesmo.

- claro que sim papai, só vou me arrumar e vamos.

- tudo bem, quando estiver pronta me avise que eu te busco.

(...)

termino de me arrumar e já mando uma mensegem pro meu pai avisando que estava pronta, não demorou muito pra ele chegar, e então fomos jantar. eu não sabia onde seria e nem o que comeriamos, confesso que estava ansiosa pra minha primeira refeição em Barcelona.

- onde vamos hoje?

- surpresa meu benzinho - ele fala e eu concordo, embora eu não gostasse muito de surpresas.

chegamos no tal restaurante cujo nome era bem difícil de se pronunciar, já reparei que era um local bem chique, passamos pela entrada e uma mulher comprimenta meu pai e logo nos guia até nossa mesa que já estava reservada.

nos sentamos e um garçom vem até nós recolher o nosso pedido, meu pai pede um vinho tinto e eu só peço um suco natural, mas na hora de fazer o pedido dos pratos meu pai me pergunta se poderia escolher o meu, eu não vejo problema e aceito, logo ele mostra o prato pro garçom sem dizer o nome, confesso que estava com medo de não gostar do prato.

- como estavam as coisas no Brasil filha? - ele pergunta e eu pensava em como contar sobre o caos que estava.

- ah pai, você sabe como é a mamãe, sempre pegando no meu pé e me proibindo de viver. depois que vocês terminaram parece que ficou pior.

- como assim ficou pior filha? o que sua mãe fez desta vez?

- o de sempre, não tinha um só dia que não brigamos.

- sua mãe realmente sempre foi um pouco complicada filha, mas pelo que você diz ela ficou totalmente complicada. - e como.

- talvez a culpa fosse minha.

- nem fale isso pai! nada disso foi culpa sua, ao contrário, quando vocês estavam juntos tudo era fácil pra mim. se alguém estiver errado nessa história, esse alguém é ela.

- se eu não tivesse ido embora talvez ela ficasse menos rude com tudo e todos, por que querendo ou não quando eu estava no Brasil, mesmo com nós dois separados ela não era assim.

- mas com o tempo eu entendi o por que da separação de vocês, e não quero que se sinta culpado.

- e como ela lidou com sua vinda pra Barcelona?

- mal, muito mal.

- eu já imaginava que ela não lidaria da melhor forma, sua mãe nunca gostou que as pessoas que ela amava fossem embora da vida dela, sempre foi assim. e quando alguém decide seguir outro caminho que não seja o que ela aprove, ela sempre vinha com um discurso e no meio dele uma frase do tipo " você vai se arrepender, e esqueça que eu existo quando isso acontecer" sua mãe nao era fácil filha, mas no fundo eu entendo ela.

- entendo pai, mas tem hora que cansa. - realmente eu estava cansada de tudo o que tava acontecendo.

- as vezes penso que ela não me ama e só me quer ao lado dela pra poder ter em quem mandar.

- não fale isso filha, sua mãe te ama e sempre te amará, independente de qualquer coisa que tenha acontecido, ela só não gosta de perder pessoas que ela ama.

- ah, sei lá pai.

- eu sei que não deve ter cido fácil pra você todos esses anos filha, e eu sinto muito por tudo de ruim que te aconteceu, eu prometi que iria te proteger de todas as coisas ruins desse mundo, e sinto que falhei.

- eu entendo seu lado pai, e você nunca falhou comigo, mesmo com a distancia eu sabia que você estaria comigo independente da situação.

no mesmo instante nossos pedidos chegam e eu fico surpresa com o prato que estava em minha frente, eu me perguntava como ele se lembrou de uma coisa que eu gostava de comer desde criança?

- pai, como se lembra depois de tantos anos? - eu pergunto já louca pra atacar aquele enorme prato de lasanha.

- como esquecer filha, quem te viciou em lasanha fui eu.

- verdade pai, mas depois de tanto tempo pensei que você já iria ter esquecido. - ainda bem que não.

- nunca meu amor, agora vai em frente. - ele fala apontando pro prato.

começo a atacar aquela lasanha como se nunca tivesse comido.