Meu Único Amor - 𝑷𝒂𝒃𝒍𝒐 𝑮𝒂𝒗𝒊

LIÇÃO DE MORAL

Mirella Águiar

uma puta dor de cabeça, foi assim que eu acordei hoje de manhã e nem me fale da ressaca moral que acho que era pior. sinceramente não sei se é melhor quando eu me lembro de tudo o que fiz ou quando não me lembro de absolutamente nada, eu não era de beber mas normalmente quando eu bebia eu não me lembrava de nada. bem que eu queria que hoje fosse mais um desses dias. e sim, infelizmente eu me lembrava de TUDO, e sem direito a exceções.

não fazia ideia de que horas eram, mas tinha a certeza de que havia perdido o horário de trabalho, só de lembrar do esporro que eu levaria do meu pai por isso minha cabeça doia mais, vontade de morrer não me faltava. e como eu me conheço, tenho a certeza de que tudo iria ficar pior ao longo do dia.

me levanto da cama tombando e com minhas pernas fracas. chego ao banheiro e fico um tempo me olhando no espelho e me perguntando o porque de ter feito isso.

- que humilhação Mirella, que humilhação. - falo a mim mesma negando com a cabeça enquanto ainda me encarava no espelho.

nem vou me dar o trabalho de olhar que horas eram, já tinha coisas demais para me preocupar, e além disso eu já tinha a certeza de que estava bem fudida.

mas agora tiro a coragem não sei de onde e já entro de baixo daquela água gelada, acho que fazeria bem.

(...)

sentada na cama secando meu cabelo me pego pensando que poderia ter feito tudo diferente, de onde tirei a ideia de que beber em uma segunda-feira seria uma boa? ou melhor, de onde eu tirei que seria uma boa beber loucamente para esquecer os problemas, e como se não pudesse piorar eu ainda dancei igual uma vadia apenas para provocar um cara que não quer nada comigo e deixou isso bem claro, isso só me mostrava o quanto eu era imatura. eu preciso urgentemente de um esculacho, nível aos que meu pai da nos jogadores quando vão muito mal nos jogos.

acho que a ideia do Gavira de contar ao meu pai o que fiz ontem, seria uma boa. só assim pra tomar um esporro e tomar jeito de gente. tenho dó dos meus ouvidos, mas não posso reclamar pois eu praticamente pedi por isso.

depois de eu mesma me humilhar, já estava pronta já descendo pra pegar um táxi.

aí você me pergunta pra onde eu iria, com aquela dor de cabeça que parecia que eu iria morrer e aquela puta consciência pesada. pra casa do meu pai, pois é, olha que ironia né, eu que odiava sermão estava indo atrás de um, a frase "vivendo em um conto de falhas" nunca fez tanto sentido.

ao desbloquear meu celular percebo o tanto de ligações perdidas que tinha ali, sem contar as mil mensagens não lidas. ligações de meu pai, do gerente da loja, da Elisa e de mais alguns números que eu não fazia ideia de quem era mas tinha certeza que era a loja atrás de mim, e as mensagens a maioria era de meu pai e de Elisa, só meu pai tinha mandado mais de 20, não ironicamente.

vacilei com Elisa, mas a culpa toda é do Gavira, devo ter a deixado preocupada. imagina estar curtindo com sua amiga e do nada ela desaparece? me sinto em uma novela. onde a personagem principal só se ferra. mas que merda de vida.

(...)

antes de eu ir para casa do meu pai, passei pra pegar um café na cafeteria onde as meninas que trabalhavam lá já estavam acostumadas com minha cara, nem pergutavam mais o que eu iria querer, eu ia tanto ali que eu chegava e elas já falavam "o mesmo de sempre", mas também né, indo todo santo dia, quem não decoraria o pedido. até eu que sou péssima de memória conseguiria fazer isso.

após isso volto para o táxi e já passo o endereço do meu pai para o taxista.

(...)

chego na entrada da casa do meu pai, respiro bem fundo e fico encarando a campainha que havia ali, nessa hora me veio o pensamento de por que não invocar o espírito encapetado de crianças brasileiras e simplesmente tocar a campainha e sair correndo. fugir dos problemas não iria me ajudar, aliás só iria me trazer mais problemas e eu já estava cansada de tentar fugir de tudo e só me ferrar depois. me livro deste pensamento insano de sair correndo e logo toco a campainha.