Azul

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Tom: Tudo tem cheiro de azul agora.

Luna: O que?

Tom: Desde que você lançou o último feitiço, tudo agora cheira a azul para mim.

Luna: Tom, azul não é um cheiro. Não tem como você sentir o cheiro do azul.

Tom: Eu sei disso. É só que... tudo tem um cheiro azul forte. Eu não gosto disso, isso está me assustando.

Luna: Talvez devêssemos ser mais seletivos quanto aos feitiços que tentaremos no futuro?

Tom: Provavelmente é uma boa ideia. Onde você encontrou esse último feitiço?

Luna: Ah, é algo que eu mesma inventei.

Tom: Você fez isso?

Luna: Sim, é uma combinação de...

Tom: EU PROÍBO VOCÊ DE INVENTAR SEUS PRÓPRIOS FEITIÇOS.

Luna: Por que?

Tom: Por várias razões.

1. Criar feitiços é muito difícil. Até mesmo os bruxos altamente treinados são aconselhados a não fazerem isso, pois há quase 100% de chance de dar errado.

2. Você tem 11 anos e claramente não é uma bruxa altamente treinada.

3. Ainda não estou totalmente convencido da sua estabilidade mental.

4. Porque eu não quero que você use feitiços duvidosos em mim.

Luna: Esses são alguns pontos justos, Tom, mas acho que você pode estar exagerando. Já experimentei feitiços antes, eu sou muito cuidadosa.

Tom: Essa não é a questão. Crianças de 11 anos não deveriam brincar com feitiços não testados.

Luna: Eu gosto de tentar coisas novas. Meus pais eram iguais. Minha mãe começou a criar feitiços quando era ainda mais nova que eu.

Tom: E veja onde isso a levou. Ela morreu. Como seu pai se sentiria se perdesse você da mesma forma?

...

Tom: Luna?... Luna, eu sei que você ainda está aí. Eu posso sentir você chorando em mim. Na verdade, isso está entorpecendo o cheiro azul.

...

Tom: Me desculpe se eu te chateei, mas fazer seus próprios feitiços é muito perigoso.

Luna: Eu sei.

Tom: Eu não quero que você se machuque.

Luna: Sério?

Tom: Claro, você é tudo que eu tenho.

Luna: Obrigada, Tom.

Tom: Você está se sentindo melhor agora?

Luna: Um pouco.

Tom: Como era sua mãe?

Luna: Por que você quer saber?

Tom: Achei que você gostaria de conversar sobre ela, afinal eu sou um diário.

Luna: Eu não quero falar sobre ela agora.

Tom: Eu nunca conheci minha mãe.

Luna: Sinto muito, Tom. Isso deve ter sido difícil.

Tom: Sim. Pelo menos nunca conhecê-la significava que eu nunca seria capaz de realmente sentir falta dela. Eu não sei o que é perder uma mãe.

Luna: É horrível, Tom.

Tom: Bem, pelo menos você ainda tem o seu pai.

Luna: Sim... Eu nunca pensei que pudesse estar me colocando em risco, que eu poderia acabar deixando ele sozinho.

Tom: Não há vergonha nisso. A mortalidade não é realmente o tipo de coisa em que uma criança normal pensaria, embora eu use esse termo "normal" vagamente.

Luna: Acho que você tem razão.

Tom: Deve ser legal passar a vida experimentando coisas novas e não ser oprimido por medos ou preocupações. Acho que nunca me senti tão livre. Eu sempre tive medo de morrer.

Luna: Por que?

Tom: Eu realmente não sei dizer o porquê.

Luna: Parece estressante. Nunca ser capaz de apenas relaxar e aproveitar o mundo ao seu redor.

Tom: Eu realmente nunca pensei sobre isso. Sempre estive muito focado na luta da vida.

Luna: Acho que quem vê a vida como uma luta provavelmente está fazendo algo de errado. Minha mãe sempre me ensinou que a vida é uma dádiva, cada momento deve ser valorizado.

Tom: Minha mãe me ensinou o contrário.

Luna: Você disse que nunca a conheceu.

Tom: Eu não a conheci, mas sabia a história dela. Ela foi expulsa e maltratada pela própria família, evitada pelo homem que ela amava, abatida pela sociedade. A última coisa que ela fez na vida foi me levar para um lugar seguro antes de morrer. Às vezes eu penso que fui a única pessoa neste mundo que a amou, e ela nem viveu o suficiente para me ouvir dizer isso.

Luna: Eu sinto muito. Isso é horrível.

Tom: Essa foi a lição dela para mim. Ela me ensinou que a vida é cruel e depois você simplesmente morre.

Luna: A vida é um presente, Tom. Foi o presente dela para você, seu último ato. Tenho certeza de que ela gostaria que você aproveitasse a vida ao máximo.

Tom: Você acha isso?

Luna: Sim. Devemos aproveitar a vida ao máximo por elas.

Tom: Acho que você tem razão. Me prometa que você não fará mais feitiços.

Luna: Eu prometo.

Tom: Bom, agora encontre-me um feitiço pronto que possa me livrar do gosto de sinos tocando.

Luna Lovegood e o Diário do Lorde das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora