Crente

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Pedro se encolheu no fundo do baú encantado onde estava preso. Todas as tentativas de sair mastigando como um rato falharam miseravelmente e deixaram-no apenas com um dente lascado. Doeu um pouco, mas foi um pequeno inconveniente em comparação aos vários feitiços que Crouch o lançou desde que foi trazido para cá.

Felizmente, seus captores ainda não pareciam estar causando nenhum dano real. Pelo menos, ainda não.

Pedro sabia que era uma isca. Uma armadilha para atrair seu mestre para o Comensal da Morte enlouquecido e aquele remanescente quebrado de Voldemort lá fora. Ele se perguntou quanto tempo levaria para perceberem que Tom não viria. Reformado ou não, o garoto ainda era Tom Marvolo Riddle. Ele não se importava com um rato que já havia cumprido seu propósito. Ninguém se importava.

Nem mesmo seus amigos se importaram no final. Não se importaram em notar enquanto os fios da escuridão se enrolavam ao seu redor e o arrastavam para baixo.

Sirius o chamou de covarde. Traindo seus amigos para salvar sua própria pele.

Não foi bem assim.

Apesar de todos os seus defeitos, Pedro era um grifinório e tão corajoso quanto qualquer outro. Ele não era um covarde. Ele era um crente.

Ele não tinha sido desde o começo, é claro. Não com James, Sirius e Remus por perto, fazendo suas opiniões serem conhecidas. Sua desaprovação daquele "idiota maluco do Lorde das Trevas."

Mas então Greggory Glard apareceu, precisando de um espião por dentro. Não podia ser um Auror, veja bem, eles eram todos conhecidos do Lorde das Trevas. Tinha que ser alguém invisível, alguém discreto, alguém silenciosamente inteligente, mas totalmente esquecível, que pudesse se misturar às fileiras sem ser notado. Alguém de quem ninguém jamais suspeitaria.

Ninguém poderia saber, é claro. "Quanto mais pessoas sabem de um segredo, mais provável é que ele seja vazado", Greg disse a ele. Então ninguém sabia. Ninguém sabia que os primeiros passos de Pedro na escuridão foram em nome da luz.

Um ano depois, Greggory estava morto, assassinado em um ataque, e Pedro estava preso, muito longe e sem saída. Ninguém para responder por ele.

Ele queria poder dizer que foi quando começou, mas não foi. A essa altura, os fios já tinham se fixado, quase sem que ele percebesse.

Cercado por uma multidão com a qual nunca ousara se associar antes, envolvido no fascínio das promessas e no glamour da riqueza, Pedro já estava começando a escorregar. Os Comensais da Morte eram ridiculamente bem financiados, ele descobriu. Todas aquelas famílias de sangue puro liderando o caminho. Havia muita elegância. Muito mistério. Noite após noite de festas extravagantes e excitação incalculável, que tinham muito apelo para um jovem que cresceu com pouco.

Mas não foi isso que o pegou. O que o pegou foi a conversa. A conversa sem fim sobre um novo mundo. Um mundo melhor. Algo o agarrou. Em algum lugar ao longo do caminho, Pedro começou a ouvir. Ouvir de verdade.

Não foi uma decisão rápida, nem mesmo uma decisão consciente.

Um dia ele foi dormir como um espião e acordou como um Comensal da Morte.

E ele acreditou.

Uma criança.

Foi o que lhe disseram.

Uma criança e a guerra logo acabaria.

Logo seria conquistada e toda a morte, miséria e ocultamento ficariam para trás, trazendo o novo mundo que lhe fora prometido.

Sim, foi terrível.

Sim, isso significava trair James da pior maneira possível, mas James não entendia a visão dos Lordes das Trevas da mesma forma que Pedro.

Ele nunca conseguiu entender.

Apenas uma criança. Um pequeno sacrifício no grande esquema das coisas.

Pedro estava errado.

Ele sabia disso agora.

Conversas com Tom, por mais limitadas que tenham sido, revelaram a Pedro o homem por trás da loucura.

Era uma loucura.

Não havia glória. Não havia um mundo melhor. Não havia um grande plano.

Apenas a raiva e a frustração de um homem que se espalharam para outros e ficaram fora de controle, destruindo o mundo deles.

Tudo foi em vão.

Um estrondo abafado vindo de cima de sua prisão encantada foi suficiente para tirar brevemente Pedro de seus pensamentos. Os sons distantes do que quase poderia ser uma briga mal alcançavam os encantos que o mantinham preso. Pedro suspirou; provavelmente era apenas Crouch tendo mais um acesso de raiva e explodindo seu covil.

Ele era apenas um rato, ele se lembrou pela centésima vez.

Ninguém estava vindo.

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Nota do autor: Não consigo lembrar se os livros deram uma razão para Pedro se juntar a Voldemort, mas esta é minha versão disso. Já que a equipe Luna decidiu salvá-lo, pensei que era importante torná-lo um pouco mais resgatável. Espero ter conseguido ao menos um pouco.

Luna Lovegood e o Diário do Lorde das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora