Birthday

capítulo 23

Allie

   Eu senti como uma vela caísse em um posto de gasolina, como uma bomba explodindo. Eu já sabia que não era normal, mas agora faz sentido, culpa é uma merda. Então ele sempre foi desse jeito. Sabe o que mais me deixa extasiada? Que eu estou sentindo tudo. Deve ser o limite para tudo que eu tenho dentro de mim. Deve ser a merda da linha tênue estourando, deve ser minha racionalidade indo para o inferno. Ando até a mesa e pego meu telefone, olho ao lado tem uma garrafa de vodka e um isqueiro ali. Pego a garrafa e abro com o dente e guardo o esqueiro no bolso.

— Allie espere...

— Não. — Levanto o dedo calmamente — Nem pense em falar comigo Kai. Estou passando por uma tempestade nesse momento.

    Passo por todos sem uma palavra, viro a garra e dou goles enormes, procuro nos meus bolsos e pego o frasco laranja e coloco duas pastilhas na boca. Passo pelo jardim e paro em frente a todos aqueles carros esportivos caríssimos. Eu poderia só sair e esquecer essa última hora. Mas...não quero mais. Olho para garrafa em minhas mãos e seguro ela pelo gargalo e olho para o carro do Kai, lindo um mustang. Levanto a garrafa e desço no vidro quebra a garra e o vidro junto, os estilhaços caem na minha mão mas não estou muito ligada nisso.

     Sinto uma sensação de euforia tomando conta de mim, efeito da droga. Entro com metade do corpo dentro do carro do meu irmão abro o portaluvas e pego um canivete que eu sei que ele nunca retira de lá. Assim que agarro ele de um jeito confortável afundo ele nos bancos de couro e rasgos tudo, depois saio do carro, olho para os pneus e enfio a faca em todos eles e olho ao redor e vejo os outros carros e faço praticamente a mesma coisa. Com a diferença que no do Damon Torrance.

   Entrei e mexi no banco de trás e peguei uma chave de rodas quase do tamanho do meu braço, assim que peguei sai do carro.

       Meu cabelo está no meu rosto, minhas mãos estão sangrando, mas tudo que eu sinto é euforia. Saio e ergo a chave com as duas mãos, e afundo na lataria, várias vezes e depois dos vidros e subo em cima do carro e pulo com meu coturno em cima para amassar de verdade, seguro a chave e afundo até abrir a lataria. Depois começo a fazer o mesmo com dos outros. O barulho fez muita gente aparecer mas não ligo eu estou sentindo todo e é a sensação mais viva da minha vida. Estou em cima do carro de Damon com a chave nas mãos, totalmente desgrenhada e suja, encaro todos eles. Todos arrumadinhos.

— Queriam a vadia louca? — Pulo renovo — Vão ter a vadia louca arrombados!

   Retiro o esqueiro do bolso e sento em cima do carro, encaro todos eles. Todos. Com a mesma expressão, o único que parece satisfeito com essa merda é o dono do carro.

— Vadia desgraçada. — Ouço um xingo e levanto os olhos para Rika.

— Não estamos no mesmo nível. Eu não sai por aí gemendo para os irmãos Crist. — digo e ela até tenta vir para cima mas alguém segura ela.

   Foi o Kai. Sempre protegendo todo mundo mas não a mim. Estava na cara. Agora que eu tenho a perfeita convicção disso vou fazer um inferno na vida dele.

     Desço do carro e caminho meio tonta até o carro dele e ele trava há poucos metros de mim.

— você está brava, ok! — ele diz com as mãos levantadas — Tem coisas aí... importantes.

— Ótimo. — Digo levantando a chave e afundando na lataria. — Melhor ficar onde estar Kai. Eu louca. Posso acertar sua cara achando que é o carro.

— Você só precisa que eu explique, o Damon não disse tudo. Não-

— Disse sim. — Viro para o Damon que está olhando para o carro dele — Eu não menti, disse cada palavra da verdade, você deveria destruir mais esse carro Allie.

— Cala a porra da boca Damon.

    Olho para dentro do carro. Não sinto remorso, ele tem dinheiro, tem muito. Pode usar isso ter tudo de volta. Não ligo.

— As coisas que o Mads gostam...

— Vai usar seu filho para tentar me parar Kai? — Acendo o esqueiro — Tenta de novo.

— Caralho Allie! Eu já disse que não é assim! — ele caminha até mim com tanta raiva e então eu soltei o esqueiro dentro do carro.

O álcool de antes pegou muito mais rápido com o fogo, e logo tudo estava em chamas.
    Soltei a chave e caminhei até o Kai e fechei as mãos em punho e virei já cara dele. Eu também sou filha do pai dele. Eu também sei bater para machucar.

— Você me traumatizou pra caralho sabia? — Digo e ele tenta me segurar mas afundo meu joelho no queixo dele — Acabou comigo! Você de acha melhor que a escória do Damon mas é pior que ele. Seu filho da puta dissimulado.

   Cada soco, é como se fosse uma revanche pelos apelidos, cada socos e pelas vezes que eu chorei até dormir quieta para minha mãe não ouvir. Cada soco fodido é para eu recarregar quase 15 anos de pura...tortura.

— Se acha o melhor né? — Digo seguro a cabeça dele e avanço minha cabeça na dele. Sinto a dor dilacerante mas não para — Fez sua vidinha medíocre desgraçado! Ainda tem coragem de me mandar melhorar. Você vai morrer Kai, eu vou te matar!

    Ele me dá um soco e eu dou uma cotovelada na cara dele ele chuta meu estômago e eu viro um soco no meio da cara dele, ele tenta me desmaiar com um mata-leao mas eu dou outra cabeçada nele e mordo o braço dele até quase arrancar pedaço e ele socar minhas cabeça para eu soltar. Assim que solto fico meio tonta mas dou uma rasteira dele e ele cai de costas e eu coloco as duas mãos no pescoço dele e aperto para matar.

— Alguém tira ela de cima dele. — Alguém grita.

— Deixa matar. Não vai fazer falta...

— Damon! — Ouço todos dizerem ao mesmo tempo.

   Kai tenta me tirar de cima dele e arranhar minha cara. Aperto mais e ele ele me olha com tanta raiva e coisas no olhar que aposto que ele está vendo o mesmo na minha cara.

— Eu tô falando sério? Vão de meter nisso? Os dois parecem dois cães de briga. — Ouço a voz de Misha.

— Pelo amor de Deus. Ela está tendo um surto psicotico. Ela vai matar ele. — Quanto desespero.

Aperto minhas unhas no pescoço do Kai e ele arregala os olhos.

— Está ouvindo Kai? Parece que eles não sabem que você é medíocre quando está em uma briga comigo...— Digo e ele está pálido e quase desmaiando.

   Alguém me dá um mata-leao mas não solto, na verdade mordo o desgraçado e não solto Kai.

— Hora de dormir Allie.

   Sinto uma dor no meu pescoço e apago.