capítulo 51

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Allie

     Meus olhos abrem, ainda não consegui assimilar, estreito os olhos pelas luzes e tento identificar onde estou. Esse barulho irritante, esse cheiro nojento de hospital.


   Pulo da cama e coloco a mão na minha barriga, não, não, não, não, meu bebê... droga, encaro meu braço e puxo o acesso com tudo e levanto, sinto tontura, ânsia de vomito e dor de cabeça, olho ao redor e abaixo os olhos denovo, cadê? Ando até a porta meu zonza, coloco as mãos no puxador e a porta abre, encaro o corredor vazio, onde estou? Olho pelos corredores e não tem nada.

— Alguém? — Digo meio alto. — Oi!?

   Sinto ânsia de vômito e fico mais tonta, droga quanto tempo eu dormi? E minha filha? Não... ela não pode ter morrido...


A escuridão envolve minha mente, tornando cada pensamento uma agonia insuportável. Sinto meu peito se apertar, como se um punho invisível estivesse espremendo minha alma. Cada lembrança se transforma em uma lâmina afiada, cortando meu coração em pedaços.

"Ele iria embora, a primeira oportunidade..."

As lágrimas começam a rolar, quentes e salgadas, rastreando caminhos tortuosos pelas minhas bochechas. Eu engasgo com soluços, uma melodia dissonante misturada à minha própria miséria. O choro é uma válvula de escape, mas também uma confirmação de minha impotência.

"Nem sua filha te amou..."

A voz interior agora é um grito ensurdecedor. Meus dedos, trêmulos, agarram punhados de cabelo, como se pudesse arrancar a dor de dentro de mim. O chão frio da sala parece absorver meu desespero, enquanto a luz vacila como uma chama fraca em um vendaval.

Pare, pare, pare, pare, pare...

Mas a cacofonia persiste, aumentando até se tornar um rugido ensurdecedor. Cada palavra, uma condenação, uma sentença que ecoa em minha mente fraturada.

Minha respiração se torna irregular, e sinto um vazio profundo, uma ausência que deveria ser preenchida pelo riso do meu bebê. A solidão é como um punhal afiado, cortando fundo, deixando para trás a dor aguda da perda.

O pensamento invade minha mente, sussurrando como uma serpente venenosa:

"Por que você não morre? Seria mais fácil, ninguém vai lamentar mesmo. Allie. Acabe com isso."

Cada batida do meu coração parece um lembrete de minha própria fragilidade. Quero correr mas não tenho ar, quero gritar mas minha voz não sai, quero morrer...

"Os lençóis Allie, lá no quarto, tem fios lá, tem a agulha, acabe com essa dor Allie...você sabe que não aguenta mais. Foi sua última tentativa, não deu. Vai ser melhor pra você, pra nós. Você está cansada."

   Me levanto ainda zonza e com dor de cabeça, ânsia e muito vontade de usar Hades. Caminho até o quarto, entro, olho ao redor, sozinha, completamente abandonada. E eu...pensei que fosse ser diferente. Eu deveria ter me casado com o Conrad, pelo menos eu estaria bem e segura com ele. Ele era louco. Mas me amava. Os fios do fluxograma. Caminho até a trás do aparelho e puxo, não é tão grande, o banheiro. Deve ter um box. Caminho quase automaticamente até ele. Amarro o fio no box, deixo um lugar pra minha cabeça me olho no espelho, eu sou tão feia e marcada e tão nojenta. Está certo. Tudo bem eu fazer isso. 1...

Fecho os olhos.

2

    Tento me desculpar com o Will.

3

   Tomara que não seja ele que me encontre.

Finalmente, desisto de tudo, meu ato de mais puro amor próprio, minhas pernas que estavam completamente fracas cedem, sinto o aperto do fio, a dor, a asfixia, isso dói... ouço um barulho alto, seja que for tomara que não entre no banheiro.

   Tudo está ficando, preto. Então eu despenco no chão, não, não, o ar...está voltando, eu não quero.

— Allie, Allie... — Sinto o fio afrouxar.— Pelo amor de Deus... Allie...

— Me deixa morrer...— Digo com o gosto de sangue na boca.

— Allie...— sinto as mãos quentinhas, nas minhas costas.

   Sinto minhas bochechas caindo em um lugar quentinho e sinto as lágrimas caindo assim que sinto o cheiro...

— Me deixa morrer...por favor....

— Não...— ele me aperta contra o corpo dele como se eu fosse entrar dentro do peito dele. — Está tudo bem... não precisa fazer isso.

— Você mentiu!

— Não...não menti, está tudo bem. — Ele está fingindo desespero.

— minha bebê...eu quero minha bebê...— Digo quase sem ar...

— Ela está bem. Eu juro que está bem... — a ânsia de vomito voltou e dessa vez eu não consegui segurar e vomitei em cima dele.

    É puro líquido, não tem nada no meu estômago. Assim que termino eu me jogo pra trás e quase desmaio. Minha garganta está doendo...

— Você precisa deitar. — Olho para Will, ele já tirou a jaqueta a camiseta. — Está tudo bem Allie.

— Não está...

— Está sim. — Ele me pega no colo e sinto o calor do corpo dele. —. Greta está bem. Eu sei que você deve estar pensando. Mas ela está bem. Você que não está bem.

— Não minta pra mim.

— Não estou mentindo. — Ele diz saindo do banheiro e andando até a cama.

   Quando ele vai me por na cama eu agarro ele. Não me deixe sozinha... de algum jeito ele deitou na cama comigo no colo. Ele puxou o cobertor pra cima de mim e apegou um botão por ali.

— Por que o banheiro?

— Seria mais fácil de limpar. — Digo fechando meus olhos.

— Me deu um susto. — Ele diz me apertando — promete que não vai mais fazer isso Allie...por favor.

— Quero morrer Will.

— Mas eu não quero perder você Allie.

— Você não me ama.

— Eu te amo sim. Você que está doente e precisa se tratar pra perceber isso.

— Will...

— Sim allie...

— Não me deixe sozinha. — Sinto sono.

— Nunca...quando acordar vou estar aqui.

BirthdayOnde histórias criam vida. Descubra agora