Capítulo 61

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Narradora

Aquele apartamento localizado em um dos melhores bairros da capital paulista, nunca foi tão silencioso. As mais longas conversas só eram feitas quando a funcionária tentava manter uma conversa que envolvia as duas, mas assim que a mesma saia pela porta em direção a sua casa, o apartamento voltava a ser frio e silencioso.

O sentimento impetuoso de culpa, atingia a Ludmilla todas as noites antes de dormir, ao ver que a morena deitava ao seu lado, mas não como antes, ela não lhe dava um beijo de boa noite e nem um abraço de bom dia, e isso estava a corroendo. Por mais que em toda oportunidade ela a pedisse desculpas, não foi o suficiente para que ela decidisse ter a tão esperada conversa.

Se passaram a Terça, a Quarta, a Quinta e a Sexta. Brunna estava sendo consumida pelo sentimento de tristeza e ansiedade. Amanhã ela irá conhecer o pequeno que tem uma - grande - Parcela de culpa na briga com sua namorada. Mas ela também sabe que a culpa não é do mesmo, e a última coisa que quer é ter um ambiente de briga para o menino, mesmo ela não estando totalmente de acordo com sua chegada.

Hoje, muito diferente de todas as sextas já vividas por ela, acordou um pouco antes das sete horas da manhã. Fez um simples café da manhã e se sentou no sofá da sala. Ela sabe que terá que adaptar toda a sua vida pra tão - ou não - esperada chegada do menino. O lugar em que elas moram é espaçoso o suficiente para caber uma criança, mas e os móveis? E os brinquedos? A decoração do quarto? A escolinha?

- Bom dia. - ela escutou a voz rouca da Lud a cumprimentar, ou talvez a salvar de uma crise - Acordou cedo. - ela tentou conversar.

- Bom dia. - a mais nova suspirou - Eu estava pensando em umas coisas que a gente precisa comprar.

- Como assim? - a mais velha perguntou confusa, porque pelo que ela se lembre a compra do mês foi feita no dia anterior.

- As coisas pro seu menino, Ludmilla. - ela falou um pouco mais grossa, fazendo a morena se lembrar de que não havia feito nenhum preparativo pra chegada do seu sobrinho.

- Nossa! Eu não estava me lembrando desse detalhe. - falou sincera e suspirou - Você tem uma idéia do que precisa?

- Móveis pro quarto dele, brinquedos, roupas, fraudas, mamadeira, chupeta e claro, achar uma escola boa pra colocar ele. - ela falou se uma só vez, fazendo a cabeça da outra latejar.

- Isso tudo? - questionou assutada.

- Uai, Ludmilla. - ela sorriu irônica - Você estava pensando que era fácil? Eu sempre te avisei que é muita responsabilidade, se você me escutasse, saberia disso tudo.

- Não precisa jogar na minha cara. - fez sua melhor cara de piedade, mas não resolveu.

- Estou fazendo o que você faz de melhor.

- Brunna, eu acho que a gente precisa conversar. - ela se sentou ao seu lado - Não dá pra passar de hoje.

- Pode falar. - hoje não teria como ela usar mais uma desculpa, então apenas permitiu que ela falasse o que estava com vontade.

- Eu sei que errei muito. Primeiro em te esconder uma coisa que pode mudar nossas vidas. - suspirou - Mas se coloca no meu lugar. Eu não fazia idéia de que tinha uma irmã e muito menos um sobrinho. Eu não poderia deixar um ser com o meu sangue ir morar em um orfanato e ser mal cuidado. - ela fez uma pausa - Eu carregaria essa culpa pro resto da minha vida e eu não quero isso.

- Ludmilla... - ela tentou falar mas foi bruscamente cortada.

- Deixa eu falar. - a olhou - Eu também errei muito em ter falado aquela grosseria, além disso ser contra o meu caráter, quando eu te conheci eu prometi que seria alguem muito diferente dele. - se referiu ao caio - E na primeira oportunidade eu fui igual. E estou muito arrependida disso, estou sentindo a sua falta. Tudo bem que você pode não me perdoar por isso, mas eu queria deixar claro que isso não vai se repetir e que eu te amo, independente da gente ter um filho ou não.

- Sabe porque me doeu? - Brunna questionou e continuou falando - Me doeu, por saber que se você quiser de um filho e depender de mim, eu não vou conseguir. E por você eu sou capaz de fazer tudo, Lud. O possível e o impossível, mas isso vai muito mais além desse impossível. Eu não pedi pra ser assim, você não faz idéia de quantas vezes eu tentei engravidar quando tinha me casado recentemente com o Caio. Você não faz idéia de quantos testes eu fiz, iludida, achando que eu estaria grávida. Então você não tem o direito de olhar pra mim e falar daquela forma. - uma única lágrima desceu em seus olhos - Com ele não me importava, porque eu não o amava, mas ter você ao meu lado e não conseguir fazer o "básico", que é ter um filho, eu me sinto inútil, um lixo.

- Não fala assim. - Ludmilla se sentiu triste por ter causado isso em sua namorada.

- Mas é assim que eu me sinto. - Brunna alterou o tom de voz - E não tem nada que você pode fazer pra que eu não me sinta assim. Mas você pode evitar, não falando as merdas que você disse aquele dia.

- Me perdoa. - a morena abaixou a cabeça, muito mais arrependida do que antes - Eu não me importo se a gente não tiver um filho.

- Tudo bem, Ludmilla. - suspirou - Só por favor, não me machuque mais. Porque eu não quero destruir tudo que a gente demorou meses pra construir.

- Eu te amo muito e prometo não ser mais babaca. - fungou o nariz - Obrigada por mesmo tendo motivos pra me deixar, ainda continua aqui.

- Eu te amo, e não quero ficar longe de você, então sempre que algo me magoar, nós vamos conversar. - a olhou - Mesmo que demore um pouco. - sorriu.

- Demorou mundo. - abaixou a cabeça.

- Eu não queria brigar, e ainda estava muito sensível. - falou sincera - Mas agora está tudo bem. Eu te perdoei.

- Te amo, minha princesa. - ela se aproximou com cuidado - Obrigada por ser a melhor namorada do mundo.

- Eu sei que sou incrível. - se gabou antes de deixar um beijo rápido na boca da outra mulher - Mas agora, você dá um jeito de ir resolver as coisas do seu menino.

- Meu menino? - fez uma careta.

- Seu! Eu vou apenas te auxiliar com essa situação. - se levantou - Porque é bem capaz de eu ter que cuidar de você e dele.

- Vai cuidar de mim? - perguntou safada.

- Não tão cedo, pra você parar de ser besta.

Crazy In Love (Brumilla)Onde histórias criam vida. Descubra agora