50) 13935

81 14 25
                                    

Estar de volta à delegacia após uma manhã turbulenta como a anterior não era agradável. Mas Atthaphan permanecia com a postura indiferente, e isso não significava em hipótese alguma que ele estava calmo com a ideia de estar de volta, sua mente estava tão turbulenta que ele sequer ouviu quando a voz conhecida o chamou.

Sua atenção só foi tomada após a terceira tentativa, quando o homem colocou a mão em seu ombro, o fazendo pular.

— P'Off?

— Eu descobri a senha.

Gun arregalou os olhos e levantou-se da mesa que estava sentado.

— Como? Quer dizer... qual é a senha?

— Alice, nong. A senha é "Alice", você tinha razão, eu estava pensando muito longe. Ela confundiu "Pitágoras" com "Pitagórico".

— Alfabeto pitagórico? A senha vem de uma numerologia astral?

— Na verdade faz mais sentido ao que parece. O alfabeto pitagórico é baseado nos fundamentos matemáticos de Pitágoras, cada número da numerologia carrega significados e símbolos próprios, são usados para definir aspectos da sua personalidade. Quando falamos de personalidade, caminho, mente... podemos ir pela estrada fantasioso. Talvez um personagem que pense demais, uma personagem... maluca.

— Alice no país das maravilhas.

— Exatamente, e isso explica a xícara e o chapéu, que na verdade era uma cartola.

Gun arregalou os olhos e deu vários tapinhas nos braços de Off, que se encolheu ao leva-los de surpresa.

— Off, Off, Off!

— Aí! Nong, você tem a mão pesada.

— Escuta, eu sei de um lugar. É um cassino, um cassino chamado "O chapeleiro". É muito famoso, mas a RFAT nunca se envolveu com ele.

— Mas cassinos são ilegais na Tailândia. - Ele franziu o cenho, confuso.

— Sim, mas a cívil já tem um caso aberto com eles, o coronel da RFAT não tem permissão para se envolver.

— Mas se realmente for o nosso próximo caso, temos o direito de nos envolver.

— Mais ou menos... eles podem interferir na investigação se quiserem, isso é assunto para o Caskey resolver.

— Vamos passar pra ele de qualquer forma.

Gun acenou, e acanhado respirou fundo:
— Pii... - Atthaphan resolveu encurtar o apelido que uma vez significou "idiota", e agora parecia por vezes carregar uma conotação diferente. Chamar alguém de "Papi" na delegacia não seria nada discreto da parte de ambos.

— O que foi, pequeno?

— Vamos colocar o plano em prática essa noite, certo? Sobre a invasão da masmorra. Eu vou fazer o relatório e entregar para o Caskey hoje a tarde.

— Você parece com medo. Acha que vão conseguir ferir você?

Phunsawat olhou em volta e prensou os lábios, respirando fundo e acenando para que Jumpol o seguisse. Os dois caminharam até o refeitório, que como de costume, estava vazio. Gun encostou-se a parede e encarou Off com tensão no olhar.

— Gun, não vou deixar que machuquem você.

— Não pode me prometer isso... não me entenda mal, eu não quero voltar atrás, eu só... - Atthaphan esfregou seu rosto, bufando: - Porra, você é um desgraçado, Off Jumpol.

— O que foi que eu fiz? - ele demonstrou pânico, com medo da raiva que parecia genuína em direção a ele.

— Me fez ter medo de morrer! - Exclamou, deixando Off estático em surpresa: - Antes de eu te conhecer, eu já teria me jogado naquelas agulhas muito antes. - Gun resmungou e deitou a testa no ombro de Jumpol enquanto dava leves soquinhos em seu peito: - Droga... eu não quero morrer, não posso morrer agora. E pior, e se eu só me machucar e tiver que te deixar sozinho? E se te colocarem com outra parceira? Ou pior, e se te colocarem com outro parceiro?

Off revirou os olhos e agarrou a gola da jaqueta militar de Atthaphan, o empurrando para a dispensa, onde fechou a porta e atirou o corpo magro contra ela. Gun poderia dizer que Jumpol havia lhe roubado aquele beijo agressivo, mas não é possível roubar o que sempre foi seu. Aqueles lábios grossos e preenchidos pelo gloss labial sempre estiveram sob o nome de Adulkittiporn, assim que ele os tocou pela primeira vez.

Atthaphan apertou a roupa áspera que Jumpol trajava, agarrando-a com tal força como se, caso o soltasse, ele escaparia para sempre. As mãos de Off tocavam sua cintura modelada pelo cinto da realeza armada, o mantendo colado em seu corpo enquanto a boca faminta devorava Phunsawat da boca ao pescoço.

— Papi... - A voz de Gun saiu trêmula, rouca e manhosa. Off traduziu como um pedido para que ele parasse quando sentiu o pau de Atthaphan, mesmo coberto por camadas grossas de tecidos.

Em contragosto, Jumpol se afastou, cambaleando para trás com a cabeça para cima, enquanto puxava o ar que perdeu.

— Desculpa... - Reconheceu, ainda ofegante. E Gun negou com a cabeça, tão sem ar quanto ele.

— Está tudo bem. - O menor mordeu o próprio lábio, olhando para a sua própria situação miserável.

— Gun, eu posso sim prometer.

— O quê? - A mente nebulosa de Atthaphan por pouco esqueceu o que os levou até ali segundos antes.

— Nada vai acontecer com você, e eu posso sim prometer isso. - Jumpol arrumou o próprio mullet, antes emaranhado. Caminhando de volta ao seu parceiro, segurando sua mão e beijando seu anelar: - Eu tenho um plano. E assim como da outra vez, preciso que confie cegamente em mim de novo. Sei que é difícil pedir isso pra alguém, e eu entendo se você não quiser, mas...

— Eu confio.

— Confia?

— Jumpol, se eu estiver na sua companhia me sentirei seguro, mesmo se cobrirem meus olhos, ouvidos e boca... e me jogarem no meio de uma floresta.

— Então não sinta medo de morrer, Gun. E não se preocupe, porque além de você eu não aceito mais parceiro algum, ninguém além de você trabalha ao meu lado, nunca mais, nem que eu tenha que mudar de segmento.

Phunsawat sorriu, dizer que derretia-se encostado na porta não seria exagero.

— Você não poderia simplesmente abandonar o caso. - Riu, amuado.

— Sim, eu poderia. - Off acenou, com a feição séria: - Ser um policial não significa ser um herói. Principalmente quando se cresce em uma família que vê a profissão como uma obrigação e não uma paixão. Você sempre venceu da minha ética, e isso não é lindo de se dizer... - O homem segurou o queixo de Phunsawat, e deu um selinho em seus lábios: - Mas sei que não sou o único que cometeria crimes passionais por aqui.

— Céus... - Gun agarrou Off outro vez, o abraçando com força: - Eu poderia pegar pena de morte por você, e as minhas últimas palavras ainda seriam um convite para eu te encontrar na próxima vida.

— Eu aceitaria com prazer.

— Eu confio em você, vamos fazer isso hoje a noite.

— Eu acho que podemos estrear a outra coleira hoje.

— Como é que é?

Parceiros - Offgun Onde histórias criam vida. Descubra agora