110) Ampulheta

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O sol nascia quando Gun entrou no hospital acompanhado de Off, que deitado a maca se mantinha apagado. Sua mão apertava com força a haste de ferro, enquanto a outra acariciava o rosto desacordado.

— Vai ficar tudo bem, amor. Eu prometo que vai ficar tudo bem. - Dizia baixinho.

Foi quando a maca continuou e ele foi bloqueado pelo médico:

— Agente Phunsawat, me desculpe. Mas aqui o senhor não pode entrar.

Gun mantinha-se em prantos, acenando:

— Salve o meu marido, doutor.

O profissional da saúde o encarou com pena:

— Vamos fazer o possível. - Alertou, antes de apertar o passo para dentro.

Atthaphan cobriu o rosto se encostando a parede, enquanto sentia todo o seu corpo doer. Ele nunca foi alguém de fato religioso, nunca clamou por deuses ou sequer fez méritos em templos budistas, por toda a sua vida ele foi um maldito pecador aos olhos do sagrado, mas naquela manhã, ele implorava aos céus por um milagre, rezando para deuses que sequer acreditava.

Ele questionava sentado a cadeira, enquanto arranhava a carne de seus dedos os ferindo em ansiedade: "Se ele não tivesse chamado seu nome, Off não teria se virado. Então ele não seria baleado, certo?" - Certo, Gun Atthaphan podia não ser aquele que apertou o gatilho, mas foi quem deixou o alvo vulnerável.

— Me desculpa... me perdoa, por favor. - Sussurrava com o rosto coberto. As pessoas o encaravam, e mesmo sem saber o contexto, sua feição, gestos e súplicas eram o suficiente para fazer com que qualquer um sentisse pena. Ele não sabia quantos minutos haviam se passado enquanto sua mente o culpava de todas as formas que conseguia. Mas ouviu de longe o soar da voz familiar;

— Gun? - O homem levantou a cabeça e observou sua irmã, a feição tensa e a pele mais pálida que o normal demonstrava preocupação extrema, ela correu até Atthaphan, que levantou-se e foi fortemente abraçado: - Você está vivo, graças a Deus. - Disse em meio a um suspiro aliviado. Mas a palavra "você está vivo", foi o suficiente para que Atthaphan desabasse em lágrimas nos ombros de sua irmã, apertando o abraço e por ventura manchando a roupa alheia de sangue. Pimwalee se manteve confusa, mas retribuiu: - Ei, o que foi? Está tudo bem, você está bem.

— Ele levou um tiro, Pim... o meu noivo levou um tiro.

A mulher arregalou os olhos e afastou-se brevemente do abraço, apenas para encarar o rosto vermelho, inchado e encharcado:

— Seu o quê?

Gun desviou o olhar, cobrindo os olhos pois chorar os fazia doer como o inferno. Então Pimwalee pôde ver a aliança banhada a sangue em seu dedo, e mesmo que estivesse com raiva e cheia de perguntas relacionadas ao motivo dela só estar descobrindo que seu irmão estava comprometido agora, ela guardou para si mesma, não parecia de fato o melhor momento para uma discussão.

— Aonde ele está agora? - Ela questionou em um sussurro, novamente puxando ele para um abraço.

— Na sala de cirurgia.

— Não teve mais notícias? - Gun apenas negou com a cabeça, sentindo uma carícia em seu cabelo: - Ele vai ficar bem, irmão. Olhe pra mim... - Ela secou as bochechas molhadas, dando o seu melhor para sorrir: - Eu fiquei em pânico quando recebi o alerta com o seu nome. Não me deixaram embarcar por se tratar de alguém de família, mas vim o mais rápido que pude para o hospital.

Gun sequer conseguia se sentir grato, mesmo que fosse bom ter a única pessoa de sua família que realmente parecia ama-lo, a pessoa que o fez conhecer o amor poderia morrer a qualquer momento, e nada conseguiria alegra-lo.

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