57) Sniper; II

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O som de um tiro se submete a rapidez alta e clara, é doloroso referente a audição humana, mas sua curta duração não causa graves danos. Isso difere em situações onde há repetição de disparos, que por sua vez, além de causar danos físicos, também altera sua percepção psicológica do ambiente, causando em suma, pânico.

Gun se acostumou com aquele som, o que poderia ferir os tímpanos de alguém, para ele era música, e a visão da morte tornou-se cada vez mais comum aos olhos daquele homem.

O que difere um soldado de um assassino? — Naquela manhã, quando Gun voltou ao batalhão, haviam pessoas o aplaudindo por executar noventa homens em campo, detendo o que a RFAT, ou a própria monarquia, chama de "rebeldes", sendo eles os responsáveis pelas tensões políticas e conflitos internos do país. Eram jovens, todos jovens como Atthaphan, e apesar de seus métodos extremistas de lidar com o que não concordavam, ainda eram cidadãos que acreditavam em uma ideologia menos autoritária. Foi a primeira vez que Atthaphan viu a morte, a primeira semana em campo de batalha, e ele se lembrava bem do quanto doeu na primeira vez.

— Cara, você não pode se trancar aqui. - Utah, um de seus colegas próximos na infantaria, com quem Gun dividia uma beliche, estava agora sentado na sua frente, tentando tirá-lo daquele quarto. Mas o menor permanecia atônito, sem qualquer brilho no olhar opaco.

— Foram muitos... eu lembro o rosto de todos eles, todos eles... tinham a minha idade, ou quase, eu tenho certeza.

O homem respirou fundo, e aproximou-se mais de seu colega.

— Gun, você se lembra do seu juramento quando se alistou?

— "Eu, Gun Atthaphan Phunsawat, juro solenemente que serei leal ao rei e à Pátria, que defenderei a Constituição do Reino da Tailândia, que obedecerei às ordens dos meus superiores, que cumprirei os meus deveres com honra, coragem e disciplina, e que estarei pronto para sacrificar a minha vida pela nação."

— Perfeito, e você por um acaso descumpriu algo nessa lista? Gun, você foi o primeiro soldado a executar mais de setenta terroristas na sua primeira vez em campo. Eu sei o quanto isso parece assustador agora, mas quando você estiver na infantaria, não deve olhar o rosto deles. Deve olhar o crime, aquelas pessoas realizam sequestros, bombardearam uma escola com crianças dentro. Não importa o que eram antes disso, ou o que fizeram para chegar a esse ponto, elas sabiam as consequências e fizeram mesmo assim, então devem pagar por elas.

Não deve olhar o rosto deles, deve olhar o crime

Não deve olhar o rosto deles, deve olhar o crime

Não deve olhar o rosto deles, deve olhar o crime

— Gun, você não pode fazer isso! Ele é um dos nossos. - Utah estava agora em cima da laje à qual Atthaphan estava estrategicamente posicionado para atirar contra o seu próprio parceiro, o mesmo parceiro que naquele noite voltaria para casa e espancaria sua esposa.

— Um dos nossos? Esse homem é um monstro, uma escória hipócrita e criminosa.

— Você não pode matar um soldado, Gun. Por favor... - Com o passar dos anos, aproximar-se de Atthaphan quando o homem estava ao seu extremo era o mesmo que chamar a morte. As pessoas á sua volta começaram a temer sua presença e respeitar seus comandos, sendo eles lúcidos ou não, pois as consequências para uma possível rebeldia eram piores que o inferno: - Não pode fazer justiça com as próprias mãos... ele não é o inimigo, ele é um aliado.

— Ele tortura a esposa e a filha todos os dias. Elas me pediram ajuda... - Gun riu: - Eu me lembro bem do que você me disse uma vez, Utah: "Não devo olhar o rosto, devo olhar o crime".

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