Capítulo 36

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Foi estranho como o Slytherin vestido de preto parecia se encaixar bem no quarto decorado pela Gryffindor quando ele entrou.
"Ei! Entre, sente-se", disse Harry com um sorriso. Ele ofereceu ao homem uma das duas poltronas que havia conseguido dos elfos para esse propósito exato.
"Não posso acreditar que é assim que você vive quando criticou minha decoração", Snape falou de forma arrastada.
Harry riu. "Ainda estou me mudando. Não seja um idiota. Você trouxe suas correções?"
"Naturalmente."
"Ótimo! Eu tenho uma surpresa para você", ele cantarolou.
Snape arqueou uma sobrancelha. Harry sorriu e estalou os dedos, esperando que o globo no canto do quarto se movesse sozinho. Ele fez, e então se abriu voltado para Severus.
"Minerva te deu seu próprio estoque de uísque", disse ele com um riso.
"Ela deu. Junto com o primeiro lote de redações", respondeu Snape com um sorriso.
Snape pegou dois copos e a garrafa no armário de bebidas, decorado para parecer um globo.
"Vejo que o selo está quebrado", comentou o homem mais velho.
"Sem comentários", cantarolou Harry.
Seu amigo riu e serviu os dois. Harry se levantou e se aproximou, sentando casualmente na beira da poltrona do outro homem. Severus se moveu para dar espaço, sorriu suavemente para ele.
"Você está ocupado com suas correções?", ele perguntou.
Severus deu um gole no uísque e olhou para Harry através de olhos meio fechados. "Não terrivelmente. Não tão cedo no ano."
"Eu também não. Xadrez, mais tarde?"
"Eu não exatamente trouxe o tabuleiro... ou Minerva te deu um daqueles também?"
Ele riu. "Ela deu, na verdade. Me emprestou um dos dela sob a condição de que eu jogasse contra ela."
Severus riu, um som agradável. "Quão rápido ela te destruiu?"
Ele bufou e se acomodou contra o corpo do amigo. "Minutos. Nem sabia o que aconteceu."
O Slytherin riu baixinho - e para surpresa de Harry, uma mão afagou sua lombar, se acomodou em sua cintura em um gesto gentil. Quando ele olhou para baixo para Snape, o outro homem parecia quase aterrorizado, como se esperasse que Harry se afastasse.
Ele gostou, no entanto, gostou do toque suave, do calor daquele braço ao seu redor.
"Você consegue vencê-la?", ele perguntou.
Snape bebeu. "Ainda não", admitiu Harry rindo.
"Então ela é simplesmente tão boa assim?"
"Eu estaria inclinado a dizer que você é simplesmente tão ruim assim, mas suspeito que seja um pouco dos dois", Snape falou de forma arrastada, relaxando o braço ao redor da cintura de Harry enquanto parecia se acomodar.
Ele sorriu para seu copo, satisfeito por seu amigo parecer superar suas reservas gradualmente.
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Ele sorriu, uma expressão forçada de lábios finos para a bruxa rindo à sua frente. Ela era simpática - pelo menos começou sendo -, mas rapidamente se tornou desagradável. A filha de um dos bruxos no conselho de governadores era, segundo ela mesma se apresentou, sua maior fã.
Que ela estava interessada nele era óbvio também - ela era bonita o suficiente, mas ele não tinha interesse algum, mesmo que ela fosse atraente. Se algo, achava o riso agudo dela irritante, considerava o vestido dela excessivamente apertado, mais desconfortável do que sedutor como era sem dúvida pretendido.
Ele ressentiu - não pela primeira vez - ter sido até mesmo obrigado a comparecer, mas Minerva insistira que os professores tinham que comparecer à festa anual de arrecadação de fundos.
"Com licença", disse ele, interrompendo-a no meio da palavra. "Preciso discutir algo com um colega rapidamente", antes de se virar e sair. Foi fácil encontrar Severus - ele estava encostado em um canto, com um olhar carrancudo o suficiente para manter todos afastados.
Bem, todos exceto ele. Ele se apoiou na parede com um gemido aliviado. "Santuário?", implorou.
"O clube de fãs adoradores está se tornando demais?", disse o homem com um resmungo.
"Você sabe que eu não gosto disso", ele sibilou de volta.
Snape bufou. "Você não gosta? Ela deveria ser, eu acho, seu tipo."
Harry olhou para ela. "Ela é bonita, sim", disse, estudando o cabelo castanho escuro dela, seus olhos cinza brilhantes e as curvas óbvias que ela acentuava à perfeição. "Mas eu não estou interessado", disse.
Snape murmurou e se aproximou. "E por que seria isso?"
"Ela só está atrás de mim por ser famoso, tenho certeza. Ela nem me conhece."
"Ah, a maldição de ser o salvador", Snape falou de forma arrastada.
Harry olhou para ele com um sorriso fraco. "Você está de mau humor hoje, não está?"
A expressão do outro homem escureceu ainda mais. Antes que ele pudesse dizer algo - sem dúvida algo maldoso - Harry balançou a cabeça e continuou. "Eu também não queria vir aqui, mas ei, temos que tirar o melhor disso. Pelo menos não há imprensa."
"Eu estava sob a impressão de que você gostava desse tipo de eventos", Snape disse.
Ele resmungou. "Eu não gostava antes, agora eu praticamente os odeio. Eu preferiria muito mais me esconder em seus aposentos e apenas beber", admitiu.
"Você já teve alguns", observou seu amigo. Harry terminou sua bebida - a terceira.
"Sim. Você tem me observado, não é?" Ele perguntou sem muito julgamento.
"Sim", Snape admitiu, evidentemente igualmente indiferente.
"Quer dar uma escapada? Provavelmente poderíamos nos safar agora", disse, estudando a multidão. A maioria estava bêbada e ocupada - até Minerva estava dançando.
"Ela vai nos caçar até a morte", Severus apontou.
"Não, vamos ficar bem", disse, subitamente atingido pelo desejo infantil de tentar escapar, de fazer uma fuga silenciosa e se esconder em algum lugar. Ele segurou a mão de Snape. "Quer ir?"
A resposta demorou um momento. "Se você quiser", disse Severus, apertando levemente os dedos de Harry.
Seu sorriso se alargou e ele puxou Severus junto, mantendo-se ao lado da parede do salão, onde a iluminação era pior. Seu companheiro permaneceu confortavelmente escondido nas sombras - suas próprias vestes vermelhas e douradas eram um pouco menos discretas. Ainda assim, eles correram ao longo do lado do Salão Principal e conseguiram sair.
O coração de Harry estava acelerado quando ele puxou o outro homem para um pequeno recanto. Ele estava constrangedoramente sem fôlego, dado que mal tinham corrido, apenas pela exaltação da sugestão de "proibido" de se esgueirar.
Eles ficaram próximos, pouco espaço no pequeno recanto entre eles. Harry sorriu para Snape, que, para sua surpresa, também estava sorrindo. "Você acha que algum dos professores vai nos pegar? Tirar pontos?" Ele provocou.
Snape riu. "Acho que você está seguro com o chefe da casa Slytherin."
"Estranhamente, é o chefe da minha casa que me preocupa", admitiu Harry com um risinho infantil.
Severus pausou por um momento, parecendo pensar em algo, antes de se aproximar muito de seu espaço pessoal e puxar Harry contra si mesmo. "Então se segure", ele praticamente ronronou. Harry teve tempo suficiente apenas para fechar os dedos nas vestes pretas antes que o mundo mudasse, derretesse, mudasse enquanto Snape os transportava.
Ele descobriu que não era muito melhor fazer isso enquanto - relativamente - sóbrio. Ainda tropeçava quando pousavam, ainda se via pressionado contra a parede para se equilibrar - e, para sua surpresa, reconheceu o corredor onde estavam como sendo o de seus próprios aposentos.
"Não os seus?" Ele perguntou.
Severus sorriu ao se afastar. "Ela procuraria lá primeiro."
"Verdade. Vamos lá então", disse, puxando Severus pela barra de suas vestes.

Blowing Smoke [TRADUÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora