Capítulo 1

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Marcelo Menezes.

Estou deitado no banco de trás do carro de Sofia há pelo menos uma hora, meio dormindo, meio acordado, murmurando coisas que nem eu mesmo entendo. Minha cabeça está pesando toneladas e eu mal consigo erguê-la para olhar para a carranca da minha melhor amiga. Quando ela para o carro de novo, provavelmente porque estamos no meio de um engarrafamento, a ouço falar pela primeira vez desde que me pegou na boate às seis da manhã.

─ Eu não ia falar nada, mas você me conhece e...

─ E você não consegue ficar quieta ─ murmuro, torcendo para que ela não entenda.

─ Como é que é? Eu estive quieta desde que te enfiei no carro! E ele estava cheirosinho porque deixei no lava rápido ontem mesmo!

─ Eu pago a próxima lavagem.

─ É claro que você vai pagar. Não é por isso que estou reclamando ─ solto um resmungo, ao que ela provavelmente entende como um sinal de que deve continuar. ─ Estou dizendo que esta é a segunda vez que você faz isso em um mês, Marcelo. O que está acontecendo com você? Até parece um alcoólatra.

─ Não é pra tanto.

─ Não? Você bebe e volta para casa com uma mulher diferente em todas as suas folgas. E até quando não está de folga.

─ Não é verdade. Eu trabalho sério.

Abro o olho por um segundo e a vejo me fuzilando.

─ Você mesmo me disse que o delegado já está por um fio com você.

─ Não só comigo. Ele tá por um fio com todos, já que ele odeia todo mundo que trabalha naquela delegacia.

Menos a Megan, é claro.

─ Tá, tá. Que seja. Mas de verdade, você precisa dar um tempo de tanta curtição. A Nina já casou, eu estou prestes a me casar e você continua na mesma ─ permaneço em silêncio, esperando que ela pense que eu adormeci, mas ela continua a todo vapor: ─ Não é que nós não podemos te buscar quando está bêbado, mas isso está ficando frequente e preocupante. Eu não quero ter que recorrer a sua mãe.

Começo a rir.

─ Para, vai, Sô.

─ É sério, Celo! Você precisa encontrar uma namorada ou... Sei lá, sabe? Estou preocupada.

Neste instante o carro de trás buzina e Sofia solta um palavrão, mandando-o passar por cima. Dou risada novamente, mas continuo quieto, ao que ela se vira para o volante de novo e volta a dirigir.

Continuamos assim pelos próximos quarenta minutos, quando por fim nos livramos do trânsito e Sofia para o carro de frente ao nosso prédio. Ela não voltou ao assunto, mas passou todo o caminho de cara amarrada e aos resmungos.

─ Bom... Sã e salvo ─ digo ao sair do carro, esperando vê-la rir ou sorrir. Mas ela não faz nenhuma das duas coisas. ─ Ahn... Você já está indo trabalhar, certo? Então tchau, pentelha ─ ergo a mão para acenar, fingindo que não estou sentindo as coisas girarem ao meu redor. Sofia olha para mim pela janela e franze a testa. ─ Obrigado e... Foi mal. Por tudo.

─ Você vai ficar bem?

─ Eu sempre fico.

─ Sei. Trabalho até as cinco hoje, mas me ligue se precisar. A que horas começa o seu turno?

Ah, merda! Eu me esqueci de que precisaria trabalhar ainda hoje.

─ Às três.

─ Tome um banho e, sei lá, tente melhorar essa sua aparência, porque meu Deus do céu.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora