Capítulo 65 (mini)

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Marcelo Menezes.

David não precisou dizer duas vezes.

Antes mesmo que ele terminasse de puxar o gatilho, atiro. O som faz os caixotes tremerem. O chão sob meus pés tremem.

E então Bianca grita. Sérgio grita (provavelmente ainda de dor). E um palavrão lá de longe se faz ouvir também. E eu conhecia bem aquela voz. Delegado Matias.

Finalmente eles estavam a caminho.

Ali, porém, a cena se desenrola rápido demais: David, cuja camisa agora se manchava de sangue, cai no chão, já inconsciente, ao lado de Bianca, que corre em minha direção ao perceber que está livre.

Foi mal, cara, eu penso, ao me lembrar de que atrapalhei sua vingança pessoal contra Sérgio. Quem sabe eu pudesse ter colaborado se, nos seus planos, você não tivesse envolvido a mulher que eu amo.

Bianca me abraça, e de repente a sensação de seu corpo perto do meu me faz esquecer de que aquilo ainda não havia terminado. Me permitindo respirar fundo pela primeira vez, a aperto contra mim.

- Você está bem? Bi? Você tá legal?

Bianca murmurava coisas sem qualquer nexo contra a minha camiseta e chorava, soluçava, mexia as mãos, gesticulava, apontava para o pai, voltava a me abraçar...

- Me perdoa, Bi, me perdoa - eu tentava dizer, mas ela não parecia me ouvir agora.

Sérgio, que se contorcia em agonia, começa a gritar para Bianca:

- É PARA MIM QUE VOCÊ TEM QUE CORRER! EU SOU SEU PAI!

Bianca congela.

- CALA ESSA BOCA! - ela diz, amargurada, mas olha para ele. Seu olhar era duro, mas parecia extremamente amedrontado. Ela quase parecia sentir a sua dor.

Ah, qual é!, penso... ninguém morre com um tiro no pé. Ele merecia cada segundo daquela dorzinha.

- Sua ingrata! Ele matou o seu tio! Você não percebe? Ele merece morrer!

Bianca, parecendo repentinamente ter se lembrado daquele fato engraçadíssimo sobre a minha pessoa, passa as mãos pelo rosto, cansada, e dá alguns passos na direção do pai, provavelmente para avaliar a situação.

- Não fode, loirinha - falo, porque é impossível que ela realmente estivesse preocupada com aquilo.

- SEU ASSASSINO DE MERDA! SEU MOLEQUE! - ele gritava para mim. Parava apenas para tomar fôlego; a dor estava estampada em seu rosto suado e manchado. - ERA VOCÊ QUE MERECIA ESTAR AQUI!

Eu não sabia como Sérgio conseguira esconder o ódio que tinha por mim durante tanto tempo. Como ele pôde jantar do meu lado? Estar no mesmo lugar que eu? Deixar sua filha sair comigo?

- Cala a porra da sua boca! - resolvo dizer, incapaz de ficar quieto. - Seu desgraçado! Você tem ideia do perigo que fez sua filha passar só para se vingar? Você é doente!

- Marcelo, para... - ouço Bianca dizer, mas àquela altura eu já sentia o ódio correr pelas minhas veias.

- ELA PODERIA TER MORRIDO! SEU VELHO MISERAV...

Minha voz se perde no momento em que vejo Sérgio se remexer. Devagar como se o movimento lhe custasse muito esforço, ele ergue a mão trêmula. A mão que só então percebo que ele esteve escondendo desde... desde que atirei em David.

Bianca arqueja ao ver a arma na mão de seu pai. A arma de David.

O velho filho da puta a havia pego.

Merda, eu estava mesmo fodido.

Bianca corre os últimos passos em direção ao pai, mas ele é mais rápido. Sérgio aponta a arma bem para o meu peito e, no mesmo milésimo em que tenho um vislumbre de Daniel e metade da equipe chegando à cena, ele atira.

Um estrondo atira meu corpo para trás, ao mesmo tempo em que uma dor lancinante me invade o peito, a cabeça, os pés, as pálpebras... caio no chão no mesmo instante em que meus olhos se fecham.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora