Capítulo 33

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Marcelo Menezes.

Não demorou muito até que a viúva do Richard Trajano visualizasse e respondesse à mensagem que eu havia enviado em seu perfil no Facebook. Parecendo estar mais curiosa do que preocupada, ela concordou que nos encontrássemos ao fim de seu expediente e de muito boa vontade me passou o endereço de um lugar próximo à empresa em que trabalhava como secretária (não que essas informações me fossem de fato necessárias, tendo em vista que hoje em dia é possível stalkear pessoas com a mesma facilidade com que se respira).

Apareci no bar/lanchonete enquanto ainda anoitecia. Tinha pedido ao Daniel que me cobrisse no trabalho e saí pouco antes das três para conseguir passar em casa a tempo de trocar de roupa a fim de parecer menos, ahn, intimidador, talvez. Quero dizer, eu havia contado à Lavínia brevemente que era policial e que precisava trocar uma palavrinha com ela a respeito de Richard, mas sabia que a farda e o distintivo tinha o poder de muitas vezes assustar ou travar a pessoa, e eu não podia me dar ao luxo de perder a oportunidade de ver a viúva dizer tudo o que sabia, certo?

Sendo assim, lá estava eu às seis e meia numa mesa na área externa de um lugar movimentado e descontraído, como se, por acaso, estivesse esperando por alguém que não via há anos. Quando Lavínia entrou, a reconheci instantaneamente devido ao cabelo curto e a maquiagem pesada. E, bem, é uma verdade universal que não sei avaliar mulheres sem parecer imensamente machista ou cafajeste, então, pouparei detalhes e só direi que, quando ergui a mão e acenei para ela do outro lado do bar e a vi caminhar até a minha mesa, tive a impressão de que ela estaria disposta a falar. Quase que a fim.

─ Policial Menezes, certo? ─ pergunta ela ao parar diante de mim e estender a mão formalmente.

─ Marcelo ─ respondo, me levantando para responder ao seu cumprimento. ─ Obrigado por vir, Lavínia.

Ela coloca o casaco nas costas da cadeira e a puxa para se sentar de frente a mim.

─ Tudo bem. Acho que atrasei um pouco, então, desculpe se o fiz esperar. Bom, por onde quer começar?

Tento não demonstrar que estava surpreso pela agilidade, coisa e tal, então aponto para o cardápio que estava na frente dela.

─ Pedi uma cerveja para mim, mas preferi não fazer o pedido por você. Quer beber ou comer alguma coisa?

Ela ergue as sobrancelhas por um momento, mas depois assente, pegando o cardápio. No fim, opta pela mesma cerveja que eu.

─ Olha só, devo admitir que esperava um gravador ou, no mínimo, um bloco de notas ─ diz ela, abrindo um sorriso enviesado. ─ Sabe, faz muito tempo que ele morreu. Eu fiquei bem surpresa por você ter entrado em contato agora.

─ O pessoal com quem Richard esteve envolvido está atrás de mim. Em outras palavras, querem acabar com a minha raça. Então, bem, é por isso que você está aqui agora.

Ok, por que fui direto ao ponto? Sei lá. Eu só não estava a fim de ficar de mimimi para a viúva que de tão boa vontade veio até aqui. E eu também não achava que precisava ser cauteloso. Para ser sincero - e que Helen não me veja dizendo isso -, estava de saco cheio de tanto agir por debaixo dos panos.

Lavínia não disfarça e arregala mesmo os olhos escuros. De repente sua expressão se ilumina e ela parece compreender alguma coisa implícita.

─ Foi você, não foi? ─ pergunta ela rapidamente. ─ O policial que atirou nele. Foi você?

Tenho apenas um segundo para decidir se me esquivo ou se mando para o inferno a discrição. Dando um gole rápido na cerveja, bato o copo na mesa com um baque seco e a encaro.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora