Capítulo 47

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Bianca Trajano.

Minhas mãos suavam como há tempos não acontecia. Quando percebo, estou sentada no sofá e com o bilhete praticamente amassado entre os meus dedos.

Um filme passava lentamente pela minha cabeça ─ eu quase podia observar as pecinhas de um pequeno quebra-cabeça se juntando em minha mente.

Questões como "o que um cara como o Marcelo viu em mim?" eram respondidas e, a cada resposta, eu sentia meu coração se partir.

─ Vai me dizer que esse cheiro é de brig... ─ quase como se tivesse vindo de outra dimensão, ouço a voz de Marcelo se aproximar.

Balanço a cabeça a fim de enxergar melhor, porque, àquela altura, eu havia começado a ver as coisas meio embaçado. Marcelo, que havia chegado à sala, está parado a alguns metros de mim, me observando.

─ Bi? O que é isso? ─ ele pergunta, olhando para o meu colo. Acredito que, de onde ele estava, aquilo parecia apenas uma caixa.

E era mesmo. Uma caixa que acusava o meu tio de alguma coisa. Uma coisa que, para Marcelo e Helen, eu estava supostamente envolvida.

─ Seu porteiro pediu para buscar ─ explico, mal reconhecendo a minha voz. ─ Eu... Não tive a intenção de olhar. Bartô quem abriu.

Marcelo franze o cenho, mas não se aproxima.

─ Quem deixou isso aqui?

─ Helen ─ respondo. ─ Megan. Que seja.

Ele, que havia somado dois e dois e, muito provavelmente, havia percebido algo em meu olhar, enfim dá alguns passos em minha direção.

─ Bi. Eu posso te explicar.

Tudo aquilo era tão surpreendentemente surreal e clichê que até as palavras dele eram as que os mocinhos usavam nos filmes quando faziam alguma merda.

Explicar? Explicar o quê? Que você e sua amiga estão esse tempo todo me espionando?

─ Não! Claro que não ─ ele nega, com a voz esganiçada. Cerro os olhos, me perguntando como ele havia conseguido ser tão bom ator até o presente momento e agora mal sabia o que dizer. ─ Eu nunca desconfiei de você. Nem por um segundo. Eu juro.

Dou uma risada, porque de repente a situação estava engraçadíssima. Ele nunca desconfiou de mim? Por que raios ele poderia desconfiar de mim? Do que eles estavam desconfiando, afinal? O quê eles estavam planejando? Eu estava perdida. Completamente por fora de uma parte enorme da vida do cara com quem eu estava há quase dois meses e em quem pensava que podia confiar.

Me levanto, colocando a caixa no sofá enquanto encaro o bilhete da tal Helen. Eles pareciam íntimos.

"Desculpe pelo o que insinuei sobre a Bianca. Sei que você gosta dela, mas não posso deixar de repetir que, até que se prove o contrário, ninguém é inocente."

Eu nem sabia o que ela tinha insinuado sobre mim, mas já não gostava dela.

─ Eu não consigo entender. O que ela acha que eu fiz? Ninguém é inocente? Por que meu pai e meu irmão estão nessa caixa também? Junto com a ficha criminal do meu tio que... ─ paro de repente, chegando a uma ridícula conclusão. Me viro para encarar Marcelo, que continuava com aquela expressão de desespero. ─ Ai, meu Deus. Vocês por acaso acham que meu pai matou o próprio irmão e que eu estou envolvida?

Ele engole em seco, dando uma passo em minha direção.

─ Não, nós não achamos que seu pai matou o Richard ─ ele responde sério, me convencendo por dois segundos, mas então lembro que tudo o que ele me dizia podia não passar de uma mentira. Se não fosse isso, o que mais poderia ser?

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora