Capítulo 49

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Alguns dias depois.

Bianca Trajano.

- Você parece melhor - ouço a voz de Murilo e me viro para observá-lo. Ele estava parado à porta do meu quarto e me olhava com uma espécie de contentamento.

- Eu disse que ia ficar bem, não disse? - pergunto e volto a encarar o meu reflexo no espelho de corpo inteiro à minha frente. Estava me arrumando para ir à faculdade e, só para variar, me encontrava um tiquinho atrasada, quando não podia me dar ao luxo de nem mesmo cinco minutos de atraso, já que precisaria comparecer à uma palestra importantíssima para a minha nota final. 

- Você disse. Eu só pensei que seu término com o Marcelo fosse... Sei lá, te deixar abalada.

E, de novo, aquela droga de dor. Quase como se uma mão se projetasse dentro de mim e me cutucasse o coração. De novo.

Eu detestava ouvir aquele nome. Detestava. Havia me forçado durante todos esses dias a não pensar e pedira - ou melhor, obrigara - as pessoas a não o dizerem nem por um momento na minha presença. Trazer Marcelo de volta à uma simples conversa me fazia remoer todos os acontecimentos e me odiar por tanta ingenuidade. Por nunca sequer ter desconfiado de suas verdadeiras intenções. Por deixá-lo entrar na minha vida e na da minha família e estar tão próximo a ponto de fazer com que eu me apaixonasse e esquecesse de ir devagar.

Droga.

- Eu fiquei abalada, Mu. E estou. Mas também estou prestes a pegar DP em algumas matérias e preciso estudar se quero um diploma para esfregar na cara do nosso papaizinho. Não posso me dar ao luxo de sofrer por amor.

Pelo espelho, vejo Murilo sorrir.

- Você não precisa de diploma algum, Bia. Sabe disso.

- Sei. E sei também que, se eu não chegar na faculdade daqui a vinte minutos, estarei frita! - comento, me inclinando um pouco para aplicar o rímel nos cílios infelizmente discretos que eu tinha.

- Claro, claro... Então, boa sorte. Espero que o trânsito não te prejudique mais que o habitual.

- Há, há, há. Muito obrigada - digo e ele ri, dando um passo para trás. Depois, subitamente, volta e olha para mim.

- Ei, Bia?

- Hm - faço. Ele, por outro lado, fica quieto. Observando seu rosto pelo espelho, vejo que, de repente, Murilo havia ficado sombrio. Suas sobrancelhas estavam unidas e uma ruga de preocupação havia se projetado categoricamente em sua testa. Resolvo me virar e encará-lo de frente. - O que foi?

- Você se lembra do dia em que foi assaltada? O dia em que conheceu o... Marcelo.

Sinto minha garganta secar e se fechar. Cerro os olhos, incomodada pelas lembranças que voltavam à minha mente com tanta nitidez. 

- Lembro. É claro. Por quê?

Ele desvia o olhar, focando-o na escova de cabelo sobre a penteadeira.

- Uma amiga foi assaltada ontem na mesma agência que ocorreu o assalto em que você estava.

- Ah... Que droga.

- É. E eu pensei... sabe... O que você tinha ido fazer lá, mesmo? Aquele dia?

Pisco algumas vezes, surpresa pela pergunta que nada tinha a ver com o comentário sobre a suposta amiga.

- O que isso tem a ver? Eu estava no banco, ué. Todos vão ao banco.

Ele volta a olhar para mim.

- Você não vai ao banco. Sempre faz tudo pelo aplicativo - diz e, de repente, me dou conta de que ele tinha razão. - Mas esqueça. Eu só... Fiquei com isso na cabeça.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora