Capítulo 43

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Bianca Trajano.

Alguns dias depois...

─ Eu estou começando a desconfiar que você está mentindo pra mim, Bianca.

─ Eu? Por quê? ─ pergunto, ofendida. Me sento na cama ao lado de Murilo, para amarrar o cadarço do all star.

─ Você está quase morando naquele ateliê esses últimos dias. Não vai me dizer que mente pra mim e vai se encontrar com o Marcelo?

─ Não preciso mais mentir pra você sobre isso, Mu. Eu realmente estou indo para o ateliê todos esses dias porque estou focada em terminar um quadro. Hoje eu finalmente acabo! ─ conto, empolgada, me lembrando do quadro quase finalizado. Era, modéstia a parte, um dos meus melhores trabalhos.

─ Ok, agora você conseguiu me deixar curioso. Quando eu vou poder passar lá pra ver?

─ Eu bato uma foto ─ respondo, me pondo de pé e colocando a bolsa do ombro, pronta para sair.

─ Há, há, há. Eu quero ir lá. Faz tempo que não vou, deve ter bastante coisa nova.

─ Não muitas. Mas a gente combina essa semana. Agora preciso ir porque ainda preciso voltar para me arrumar e sair a noite.

─ Com o policial? Vocês já saíram ontem!

─ Com a Camila, coisa chata!

─ Ah... Posso ir junto?

─ Me dá um ar, Murilo! ─ grito do corredor, correndo para descer as escadas antes que ele viesse atrás e me fizesse mais mil perguntas.

Ao estacionar em frente ao ateliê, entro direto, afinal hoje era domingo e meu casal de vizinhos comerciantes não estavam por ali.

Antes de pôr o avental e começar a finalizar o quadro, dou uma ajeitada nos meus trabalhos pendurados na parede. Estava uma verdadeira desordem e Murilo me xingaria querendo ver todos. Eu tinha tantos que acabei desistindo de contá-los. Antes de conseguir alugar essa sala, eu escondia meus quadros no quarto do Murilo, lugar onde meus pais raramente entravam (já que ele era um adolescente rebelde) e pintava escondida em qualquer lugar que conseguisse. Seja em casa durante o dia, seja na casa da Camila e até mesmo ao ar livre, pelas praças da cidade. A gente não é muito racional quando se tem 16 anos. Eu, pelo menos, não era. Não que eu seja hoje em dia. Mas enfim. Com 18 anos, loquei essa sala e decorei aos poucos, com meu salário no jornal. Hoje, apesar de ainda ter a minha identidade, eu mal conseguia deixar o lugar organizado por conta da quantidade de quadros que criei.

Eu tinha um preferido. Estava pendurado e emoldurado logo na entrada. Otávio costumava dizer que eu me sentia a última coca-cola do deserto de tanto que eu me exibia com ele. Vou fazer o que se ele era bonito mesmo? Era de uma paisagem que eu ainda tinha viva em minha memória, de tantas vezes que fui com minha família quando pequena.

Quando enfim termino de ajeitar minha bagunça (ou transformar em uma bagunça organizada, que seja), coloco meu avental e tiro o pano de cima do cavalete, fixando meus olhos no bonito rosto de Marcelo. Os traços desenhados e pintados por mim me davam orgulho. É a primeira vez que me arrisco desse jeito. Digo, fazer um retrato em um quadro. Já havia rabiscado alguns rostos em folhas de papel quando estava entediada, mas nunca me senti preparada para fazer um retrato de ninguém. Até hoje não consigo entender aquela inspiração toda que me deu quando cheguei da casa dele.

"Eu seria um bom quadro" ele havia dito. E não era mentira.

Talvez, mas só talvez, eu estivesse mudando de quadro preferido nesse exato momento. Como preferir qualquer outra coisa além dos olhos claros e enigmáticos de Marcelo?

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora