Capítulo 34

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Marcelo Menezes.

Era para ter havido algum barulho. Claro que era. Qualquer coisa que nos alertasse. Ora, uma viatura havia entrado no estacionamento. Os portões logicamente se abriram, não? As portas do carro bateram quando o policial que estava dentro dela saltou para fora.

Mas eu não tinha ouvido nada. Nem Helen, aparentemente.

Então, quando a porta de entrada da delegacia se abriu - cuja visão certeira era as portas dos fundos, onde Helen e eu estávamos parados -, meu olhar encontrou o de ninguém menos que Daniel, que havia acabado de retornar de sua patrulha.

Sinto meu coração bater descompassado outra vez e, então, parar. Meu sangue gela e eu nem sei em que pensar. De repente é como se nada daquilo estivesse de fato acontecendo, tamanha falta de sorte seria.

E é como dizem por aí, não? Talvez tivéssemos dado sopa para o azar.

No segundo seguinte ao que Daniel abre a porta, Helen recua, eu recuo, mas tudo devagar demais. Quando, juntos, nós olhamos para ele, vemos sua testa se franzir quase tão rapidamente quanto os olhos que se apertam. Ele desvia o olhar e, quando nos olha de novo, tem um sorriso enviesado.

─ Boa noite? ─ diz, em tom de dúvida.

Helen não responde e quase no mesmo segundo sai porta afora, me deixando sozinho com um Daniel confuso e, talvez, num transe pré vou-socar-a-sua-cara.

A casa havia caído para mim, pensei. Já era. Eu estava ferrado. Encrencado. Fodido! O que for, mas estava.

─ Ahn, e aí? ─ respondo, engolindo em seco e contendo o impulso de levar a mão à nuca.

Ele fecha a porta, olha para trás de mim e depois para mim de novo. Fica quieto. Depois franze a testa.

─ Eu... Interrompi alguma coisa? ─ e ri, mas isso não era nem de longe um bom sinal. Daniel sempre ria quando estava nervoso. ─ Por um momento achei que... Que...

─ Não ─ eu o corto, me movendo pela primeira vez desde que ele havia surgido. ─ Só estava conversando sobre a... Investigação.

Os olhos dele se abrem mais que o normal, como se ele entendesse alguma coisa, depois assente, parecendo confuso ainda assim.

─ Ah... ─ murmura, virando-se para o porta-chaves e pendurando as da viatura ali.

Depois ele se vira para mim - e sim, devo dizer que estava observando todos os passos dele como um louco, mas não consegui evitar - e, de novo, franze a testa. Era quase como se estivesse repassando a cena em sua cabeça e procurando detalhes a me questionar.

Mas então ele não diz nada. Só olha para mim, depois para a porta pela qual Helen havia saído, depois para mim de novo e, devagar, balança a cabeça.

Ah, merda.

Dan ─ digo.

─ Você...

─ Não, porra ─ eu o corto de novo. ─ Não. Só estava conversando.

Conversando? ─ repete em voz controlada e dá um passo na minha direção, os ombros tensos e o maxilar travado.

Eu o encaro, ciente da merda que estava prestes a fazer.

─ É ─ respondo, desejando arduamente que qualquer outra coisa me viesse à mente para dizer, mas estava, mais uma vez, vazia.

Porra, eu havia sido pego. E estava mentindo. Eu estava mentindo para o único cara que eu podia dizer ser meu amigo, mas acreditava sinceramente que dizer a verdade só pioraria as coisas.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora