Capítulo 50 (mini)

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Bianca Trajano.

Eu detestava palestras, mas isso não era novidade.

Enquanto eu me dirigia para fora da faculdade, carregando toda a minha indignação e uma dor de cabeça terrível por ter de ficar ouvindo palestrantes falarem mais do que eu - e qualquer outra pessoa ali - era capaz de entender ou decorar, penso em abrir o jogo para o meu pai. Claro que ele sabia que eu não tinha o menor jeito para aquela área e, embora eu tivesse o emprego no jornal, eu sabia que outra pessoa muito mais interessada ou qualificada poderia ocupá-lo. E meu pai também sabia disso - só não queria admitir para si mesmo.

Respiro fundo. Só faltavam alguns semestres. Eu podia mostrar a ele o diploma que muito corajosamente eu havia conseguido e, de quebra, a minha total falta de vontade de engrenar naquele mundo, aproveitando a deixa para apresentá-lo ao meu próprio mundo.

Entro em meu carro e todo o meu dialeto comigo mesma é varrido da minha mente quando meu olhar encontra o lixeiro cor de rosa. Droga. Eu ainda não tinha conseguido me livrar dele.

Solto o ar pesadamente e me permito, por apenas um momento, me lembrar do dia em que Marcelo e eu nos conhecemos. A lembrança era tão nítida: ele, parado à porta do meu quarto no hospital, com um sorrisinho de lado, dizendo ter gostado do lixeiro.

Tudo seria mais fácil se ele tivesse sido um babaca desde o início, não depois... de eu ter me apaixonado por ele. 

Guio o carro para fora do estacionamento do campus, pensando em como meus dias tinham passado rápido desde que deixei seu apartamento aos trancos e barrancos. O porteiro, seu Inácio, provavelmente havia ficado sem entender nada. Ou, talvez, ele estivesse acostumado a ver garotas deixando o prédio às lágrimas graças a alguma idiotice que Marcelo tinha feito. Ainda assim, foi realmente difícil. Eu passei mais horas do que era capaz de contar no ateliê e pintei, pintei e pintei. Coloquei tudo o que eu sentia para fora (embora, é claro, soubesse que só estava gastando materiais à toa, já que aquilo, toda aquela violência contra a tela, não iria me render nenhum reconhecimento artístico ou aprendizado). Apesar disso, eu gostava de como aquilo me acalmava. E de como as cores misturadas expressavam o que eu realmente sentia.

Dias depois, eu me sentia menos... perdida. Claro que o sentimento de traição permanecia impregnado à minha espinha e eu o levava com muito esforço para qualquer lugar ao qual eu tentava ir para me distrair. Havia pedido encarecidamente que Camila, Otávio ou meu irmão não voltassem a mencionar Marcelo numa conversa. Eles apenas deviam entender que tínhamos terminado e que estávamos bem - por mais que Camila soubesse que eu não estava. 

Mas ela - e os outros - eram bons. Não invadiram a minha privacidade. E eu os amava e agradecia muito por isso. 

Paro o carro num engarrafamento que, de acordo com o aplicativo, duraria uns bons vinte minutos. O trânsito de São Paulo tinha tudo para melhorar aos fins de semana, mas não melhorava. Não quando você mora no centro da cidade e as ruas são fechadas para a circulação do público. Isso por si só já me fazia querer me enfiar no meu quarto e só voltar a sair na segunda-feira.

Aproveito para me recostar ao banco e pensar em outra coisa... Claro, como se isso fosse possível. Quando eu não estava pensando no Marcelo (e no quadro que eu quebrava a cabeça para conseguir me decidir se enfiava na lata de lixo ou apenas o guardava no fundo de algum guarda-roupa), era na porcaria do curso ou... Bem, ou nas coisas que Marcelo havia dito sobre a minha família. Meu tio e meu pai, especificamente. Como se estivessem ligados de alguma maneira no suposto crime que o meu tio havia cometido e que, por sinal, o havia matado. 

Droga, eu havia obrigado a mim mesma a não pensar, não cogitar, não fazer nada. Nem por um só segundo desconfiar do meu próprio pai, mas... A imagem daquela caixa cheia de evidências contra ele era tão... Conveniente. Me embrulhava o estômago? Sim. Mas, ao mesmo tempo, era tão intrigante. Um policial formado há anos iria mesmo juntar provas contra alguém à toa? 

Não... Era muito estranho! Até porque Marcelo não estava naquela sozinho. Helen o havia ajudado. Talvez alguém mais da delegacia. Ele não conseguiria aquilo tudo sem a ajuda de alguém. 

Seria mesmo possível que vários policiais (não apenas qualificados, mas também dotados do famoso sexto sentido ou faro, que seja) estivessem equivocados?

Pelo amor de Deus, Bianca. Pare! Agora!

Seu pai é um bom homem! É honesto! E te ama!, eu reforçava.

Seu tio era um bom homem! Ele só... Bem, só se envolveu por um momento com algo que não era... Ahn... Aceitável e... Ok. O tio Richard era um bom tio. E isso bastava para mim. 

Meu pai não precisava estar necessariamente envolvido com aquilo, precisava? Ele já tinha dinheiro o bastante, não tinha? Tínhamos uma casa grande e bonita, bens materiais e tudo era fruto do seu trabalho incessante há anos como jornalista. 

Era, não era?

(...)

Apenas a alguns metros do portão de casa, aciono o controle remoto que o abria e, no mesmo instante, franzo a testa. Ele não havia rangido e tampouco começava a deslizar para o lado. 

Droga, devíamos estar sem energia. Tudo de que eu precisava, hein? Ter de sair do carro e o abrir manualmente, logo agora que começava a anoitecer. 

Dou uma olhada nos retrovisores à procura de algum movimento estranho. Nada. A rua estava vazia, exceto por... Um carro. Mas aquele carro vivia parado sob aquela árvore e eu sabia que, provavelmente, o dono o deixava lá para não ter de pagar por algumas horas num estacionamento particular. Era, definitivamente, um absurdo de tão caro.

Sendo assim, destravo as portas e pulo para fora, sentindo um calafrio estranho que provavelmente era causado pelo vento frio. 

(...)

Oi, gente! Que saudade de postar aqui hahahaha

Esperamos que tenham gostado. Quarta-feira sai capítulo novo, tá? 

Enquanto isso, não esqueçam do votinho e comentário :)

Beijos e boa semana ♥


Gabriela e Natália

29/01/2018

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora