Capítulo 21

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Marcelo Menezes.

Pouco depois de Bianca sair, ouço o meu celular tocar em volume baixo no meio da mesa de centro. Por um momento chego a pensar que poderia ser ela ligando para sei lá o quê, mas me lembro de que não trocamos telefone. O que, de certa forma, era até compreensível. Eu não era do tipo que pedia o número de alguém despretensiosamente, ainda mais se a pessoa em questão fosse... Sei lá, fosse ela. Eu não sabia exatamente o que ela era.

Sabe aquela regra dos médicos de não saírem com pacientes? Pois então. É mais ou menos isso. A diferença está na parte que, ao invés de num hospital, nos conhecemos num banco e com a presença espetacular de um calibre 38. E é claro que, como num hospital, ela também corria risco de vida e eu tinha sido o herói. Caraca, isso até que pegava bem.

Pego o celular e o levo ao ouvido, apagando por um momento a foto de Nina e eu na tela.

─ E aí?

Onde é que você está, cabeçudo?

Ahn... Em casa?

Ela fica em silêncio por um momento.

─ Em casa? Você quer dizer na sua casa, a que fica a alguns andares da minha?

─ E eu tenho outra?

─ Ai, grosso!

Dou risada.

─ Por que a pergunta? Onde é que você está?

─ Porque é quase meio dia e você ainda não apareceu para revistar a minha geladeira. Por acaso tem comida aí, é? Ah, não, já sei, você roubou comida do casamento!

─ Não, senhora. Eu mesmo fiz o meu café da manhã.

Nina solta um "pffff" desenfreado e ri, provavelmente esperando que eu desminta. Mas, quando eu fico em silêncio, ela se interrompe:

─ Espera, é sério?

─ É, ué. Ovos e café.

─ Ovos? Que nojo, Marcelo!

─ Não ficou ruim. A loirinha comeu sem reclamar ─ digo sem pensar, já fechando os olhos quando percebo o que viria a seguir.

Mas Nina fica em silêncio e, em seguida, há um chiado estranho do outro lado.

─ Ni? ─ chamo, mas ela não responde.

Dou uma olhada na tela e vejo que a ligação foi encerrada. Ué, que maluca! Aperto para retornar a ligação, mas nem sequer chama de novo. De repente ouço um barulho na minha fechadura e, quando olho para lá, Nina já está abrindo a porta.

Ela crava os olhos em mim no sofá e vem pisando duro em minha direção.

─ Ahn, oi? ─ eu digo, olhando para ela. Estava com aquela carinha de ressaca que eu passei bons anos da adolescência vendo.

─ Não me venha com oi, rapazinho!

Sou incapaz de conter o sorriso, mas disfarço da melhor maneira que posso.

─ Por que você desligou na minha cara?

─ Sou eu quem faço as perguntas aqui! ─ ela diz em tom decisivo, indo até a televisão e a desligando. O apartamento irrompe em silêncio, e eu apenas olho para ela, sem entender porcaria nenhuma.

─ Do que você está falando?

─ Veja bem, eu estava na minha cama ao lado do meu digníssimo esposo, ambos morrendo de dor de cabeça porque, afinal de contas, bebemos todas ontem, porque foi o casamento da minha melhor amiga!

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora