Capítulo 22

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Marcelo Menezes.

─ Aí, Megan, você não sabe da maior ─ Daniel diz assim que entramos no DP naquele mesmo dia, mais tarde.

Olho para ele, em dúvida, porque não tenho certeza do que ele vai dizer. Helen se ergue da cadeira atrás do balcão da recepção e faz o mesmo que eu, aparentemente interessada.

─ Descobriram alguma coisa? ─ ela pergunta, provavelmente se referindo à investigação.

─ Hã? Não! ─ ele balança a cabeça, depois olha para mim e me dá uma palmadinha no ombro. ─ Adivinha quem esse fanfarrão aqui levou pra casa esse fim de semana!

Ah, mas que filho de uma puta.

Balanço a cabeça de leve pra ele, de forma que Helen não percebesse, mas nem ele mesmo percebe, recomeçando a rir feito um idiota. Helen permanece impassível, exceto pela testa franzida pra mim.

─ Ah, pelo amor de Deus. E eu pensando que era algo importante ─ ela bufa, voltando a se sentar na cadeira e digitar sabe-se lá o quê no computador.

Cala a boca, infeliz ─ sibilo para o Daniel, que continuava olhando para Helen, sem nem mesmo me ouvir.

─ Você não quer nem tentar imaginar? ─ ele pergunta, rindo de se acabar. ─ Pequenininha. Loirinha. Filha do dono do jornal. Começa com Bi e acaba comanca.

Isso por si só já atrai a total atenção de Helen para nós dois. Ela se levanta outra vez e se debruça sobre o balcão, desferindo um olhar incrédulo na minha direção. Reviro os olhos, decidindo se matava Daniel agora ou depois.

─ Ficou maluco? O que deu em você? ─ ela pergunta em voz baixa, dando uma olhada para o corredor que levava às outras salas. ─ Ela está envolvida no caso! No seu caso, seu idiota!

─ Por que de repente todo mundo começou a agir como se eu, sei lá, tivesse pedido a garota em casamento? Foi só a porra de um beijo! ─ falo, num tom mais alto (e mais irritado) do que o necessário. Defensivo também, se formos ver.

Helen se encolhe um pouco, provavelmente surpresa pela minha reação, mas depois retoma à posição inicial. Abre a boca para retrucar, mas parece pensar melhor, pois desiste e volta a se jogar sobre a cadeira. Tinha no olhar aquela expressão de "não vou falar mais nada" que as mulheres costumavam adquirir quando se sentiam com a razão ou impacientes demais para debater.

Olho para Daniel de relance, mas ele apenas comprime os lábios e ergue as mãos na altura do peito, como quem diz "não está mais aqui quem falou".

Balanço a cabeça e os deixo sozinhos, indo até a minha sala.

Eu não sabia exatamente porque estava irritado. Normalmente eu teria agido com naturalidade, feito piadas e irritado a Helen com a minha total indiferença ao fato da loirinha estar envolvida no meu caso. Mas, sei lá, de repente eu me vi cansado de responder às mesmas coisas. O fato de ter sido só um beijo estava me irritando a ponto de desejar que tivesse havido qualquer outra coisa, só para as pessoas terem motivos reais para me encher o saco.

(...)

Ao fim do meu turno, apago a luz da minha sala e tranco a porta, saindo devagar pelo corredor até a recepção. Podia ouvir a voz da Helen ao telefone, agora provavelmente sozinha, já que Vânia havia saído mais cedo. Ao chegar na sala, a encontro com o telefone entre o ombro e o pescoço, anotando qualquer coisa num papel.

Apoio um dos pés na parede e espero que ela me note ali, só para acenar e ir para casa. Mas, é claro, ela nem sequer ergue os olhos. Continua respondendo em voz baixa quem quer que estivesse do outro lado, vez ou outra cacheando uma mecha solta do cabelo escuro agora preso no alto.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora