Capítulo 70

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Bianca Trajano.

Quanto tempo aquela cirurgia levaria?

Eu estava com tanto medo que não conseguia fazer outra coisa que não olhar para os meus próprios tênis manchados de sangue. Ou pro meu colo manchado de sangue. Sangue dele.

Meus pulsos continuavam inchados e provavelmente doíam, mas eu não sentia grande coisa. Meu coração parecia saltar dentro do meu peito a cada vez que as portas da sala de espera se abriam e um médico passava por elas. Como será que Marcelo estava?

Eu nunca conseguiria me perdoar se...

Nina e Sofia interrompem meu pensamento ao entrarem na sala de espera. Um homem alto, loiro e magro entra atrás delas; uma de suas mãos conduz Nina pela lombar. Reconheço-o como Alex, o esposo bonitão dela.

Como se tivéssemos combinado, Daniel e eu nos levantamos na mesma hora. Alex estende a mão e o cumprimenta, depois olha para mim e acena educadamente com a cabeça.

- E então? - pergunto, ansiosa.

- Ainda em cirurgia - diz Nina. - Me tiraram da galeria.

- Galeria?

- É. É um lugar em que dá para assistir a cirurgia - ela responde. - Acho que eu estava muito...

- Neurótica? - pergunta Alex com um sorrisinho.

Ela olha para ele, séria. Ele desfaz o sorriso.

Suspiro, sentindo aumentar o aperto que eu sentia no coração.

- Quanto tempo dura essa cirurgia?

- Depende - responde Sofia, se largando num dos sofás.

Médicos... tão precisos.

Assim que voltamos a nos sentar, um choro corta o silêncio incômodo da sala de espera. Pela porta entravam minha mãe, cujo rosto parecia ter engordado vinte quilos, tamanho seu inchaço, e meu irmão, parecendo mais velho do que nunca.

- Ah, filha! - ela diz, emocionada, e corre em minha direção.

Levanto no mesmo instante e corro também para abraçá-los. A sensação de tê-los perto outra vez depois de tudo o que aconteceu era quase como estar segura de novo. Quase.

(...)

Daniel me entrega o septuagésimo copo de café. Já passava das quatro da manhã e tudo o que eu tinha comido era o almoço de ontem na palestra da faculdade. Meu Deus, era impossível de acreditar que há menos de 24 horas eu estava sentada na plateia de um auditório, ouvindo pessoas murmurarem sobre a importância do Jornalismo Esportivo.

Ainda assim, eu não conseguia comer. Até havia tentado colocar para dentro alguns biscoitos há alguns minutos, mas me senti enjoada. Não havia o menor apetite.

Eu apenas bebia café e água e observava Nina andando para lá e para cá, com Sofia em sua cola. Nina bufava e ia atrás de notícias, depois voltava xingando metade do hospital de nomes que eu nem consigo reproduzir.

Por fim, às cinco da manhã, o cirurgião que Nina mandou à merda diversas vezes entra na sala. É difícil julgar sua expressão: ele parecia cansado e com vontade de vomitar. Não dava para saber se estava triste ou feliz.

Nina faz uma careta, mas é a primeira a se levantar.

O doutor não sabe para quem olhar. No fim, decide olhar para Sofia.

- A bala se alojou na clavícula do Marcelo. Conseguimos retirá-la a tempo - ele fala. Permanecemos todos sem respirar. - Ele está estável. Só tivemos de engessar.

Ao som de suas últimas palavras, todos os presentes soltam o ar e de repente a atmosfera fica mais leve. Alex faz uma piadinha e Daniel ri, em seguida Nina e Sofia se abraçam. Minha mãe aperta carinhosamente a minha mão. A única coisa que eu faço é piscar.

- Nós podemos vê-lo? - pergunta Sofia.

- Sim, mas um por vez - diz o doutor. - Ele ainda está dormindo, mas vocês podem começar a se organizar. Ele está no quarto 1523 no 5º andar.

Em seguida, ele pede licença e se retira. Nina revira os olhos de uma maneira que me faz sentir vontade de rir pela primeira vez em horas.

Sofia pergunta se quero ser a primeira a vê-lo, o que sinceramente me faz gostar dela ainda mais. Entretanto, respondo que não. Marcelo ficaria mais feliz se seus pais (que tiveram de abandonar a viagem que estavam fazendo e voltar às pressas para São Paulo; Sofia me informara que eles chegariam por volta do meio-dia) ou os amigos fossem os primeiros a estarem com ele.

No fim, bastou o acidente para que eu me sentisse ainda menos importante em sua vida. Definitivamente precisava de um chá de ânimo; estava me sentindo péssima.

Como se soubesse exatamente do que eu precisava, Murilo sumiu por uns instantes enquanto o pessoal se revezava para ir ao quarto de Marcelo. Quando voltou, trazia um croissant com chocolate nas mãos.

- Vai melhorar essa sua carinha - ele falou, me entregando o prato.

Após todos verem e conversarem o bastante com Marcelo, que eu soube ter acordado, Nina voltou para a sala de espera e, inexplicavelmente, sorriu para mim.

- Ele quer ver você - diz ela, parecendo satisfeita. - Na verdade, você foi a primeira por quem ele perguntou.

Àquela altura, alguns policias amigos de Marcelo haviam chegado para também visitá-lo. O mais velho deles havia aproveitado a ocasião para pedir que minha mãe, Murilo e eu fôssemos à delegacia no dia seguinte para depor sobre meu pai. Ele, a propósito, havia realmente perdido metade da perna esquerda. O tiro, explicara o cirurgião ortopedista, havia acabado com os nervos de seu pé.

Mamãe e Murilo subiram para vê-lo, mas eu ainda não me sentia pronta. Nem sabia se voltaria a me sentir.

- Ok. Obrigada, Nina.

Nina sorri (de novo! Uau!) e vai até Alex, que estava sentado no sofá com Sofia, ambos com o bom humor restaurado.

Com o fim das ameaças ao Marcelo, a paz havia sido restaurada para seus amigos.

E para mim também, no fim das contas.

(...)

Saio do elevador pensando no que eu diria. Claro que não adiantaria nada ensaiar. Eu sequer duvidava de que conseguiria falar, tamanho seria meu alívio ao vê-lo vivo.

Dou uma leve batida na porta. A mesma havia sido deixada entreaberta, de modo que só precisei empurrá-la um pouquinho para conseguir enxergar a cama. Marcelo repousava numa pilha perfeita de quatro travesseiros, exatamente como ele gostava. Seu cabelo estava bagunçado e ele se parecia muito com uma criança, o que me deu um calorzinho no peito e uma vontade enorme de correr e o abraçar.

Ele olha para mim e abre seu típico sorriso, aquele de que eu sentia tanta falta. Parecia extremamente cansado e seu rosto perdera um pouco da cor, mas eu sentia que o pior já havia passado.

- E aí, loirinha? Pensou que ia se livrar de mim?

Na vida eu nunca me senti mais feliz.

(...)

Ok, deixem aqui seus comentários aliviados e apaixonados pelo nosso Celinho hahahaha
Bom fim de semana, suas lindas ❤️
Nos vemos na segunda <3
PS: tá acabando :'(

Beijão e fiquem bem,

Gabriela e Natália
10/03/2018

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora