Capítulo 46

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Marcelo Menezes.

Que grande merda você é, minha consciência me dizia enquanto eu parava meu carro de frente à casa da Bianca na manhã seguinte. Não é capaz de confiar na pessoa com quem você está?

Mas eu precisava fazer aquilo. Precisava acabar de vez com o que estava, aos poucos, conseguindo acabar comigo.

- Bom dia, lindo - Bianca diz assim que entra no carro. - Você é sempre pontual assim?

Eu sorrio, aceitando seu beijo e voltando a ligar o carro. Antes mesmo de respondê-la, pergunto:

- Ei, Bi, passei pelo ateliê agora e vi um cara parado lá.

Maravilha! Eu mentia feito um idiota!

Olho de soslaio para ela e percebo que Bianca mal se interessou pelo assunto, pois continuava digitando em seu celular.

- Hm - murmura. Sério, Bi? Não dá para me ajudar um pouquinho?

- Ahn... será que... Que ele não está esperando por você?

- Eu sei lá? - ela ri. - O ateliê fica numa avenida movimentada, Celo, e de frente à uma banca de jornal. As pessoas param por lá naturalmente, sabe?

- Sei - respondo, me xingando mentalmente. Eu não prestava nem para bolar uma mentira decente!

- Como é que ele era, hein? - ela pergunta após um tempo.

Tentando fazer com que aquilo pareça casual, digo o que vi na foto que Helen havia me mostrado:

- Não reparei bem, mas estava usando óculos escuros e com uma caixa na mão.

Bianca, eu observei, não pareceu nem um pouquinho perturbada. Curiosa, talvez. Ela bloqueia o celular e ergue o queixo para me observar.

- Ah... Se for quem estou pensando, é apenas meu fornecedor.

- Fornecedor? - repito, sentindo um nó em minha garganta.

- É. De telas, tintas, pincéis e coisas assim - responde, franzindo a testa. - Mas é estranho tê-lo visto. Ele só vem uma vez por mês e nós sempre marcamos com antecedência, sabe?

- Hm... - murmuro, procurando qualquer assunto em minha mente antes que Bianca me pegasse na mentira. - Então, Bi, o que...

- Vou ligar para ele! Talvez tenha algo importante para me dizer - ela me interrompe, levando o celular à orelha.

- Não, Bi - eu falo, esperando não ter saído num tom muito desesperado. Ela me observa com os olhos um tantinho quanto arregalados e abaixa o celular. - Quero dizer... Vai ver ele só passou para ver como você estava, não?

- Hm, não - ela responde resoluta. - Ele só vende e eu pago. Não somos amigos ou algo assim.

Bianca leva o celular outra vez à orelha e, segundos depois, desliga.

- Não atende. Bom, vou enviar uma mensagem - ela volta a dar de ombros. E na maior naturalidade, alguns minutos depois, esfrega as mãos e diz, animada: - Estou morrendo de fome! Será que hoje tem brownie?

Naquele momento, percebo que havíamos chegado ao Fran's Café e que eu, de uma maneira muito estranha, havia dirigido até aqui.

Enquanto procurava por uma vaga para estacionar e ouvia Bianca contar sobre o brownie que vendia na cafeteria da faculdade, me flagro pensando se eu devia me sentir aliviado por ser um fornecedor e não um cara da quadrilha, ou ferrado por saber que o cara certamente diria para ela que não havia estado de frente ao ateliê coisíssima nenhuma.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora