Capítulo 20

2K 212 68
                                    

Bianca Trajano.

Mal consigo identificar onde estou quando o barulho do meu celular me acorda em algum lugar do quarto estranho. Contrariada, abro os olhos devagarzinho. Minha cabeça lateja pedindo por um analgésico e meu corpo parece pesar três vezes mais do que o normal sobre a cama macia.

Apesar de reconhecer imediatamente que não estou no meu quarto, me sinto confortável ali. Quase como em casa. As paredes e móveis eram brancos com todos os detalhes em preto, assim como o meu. Uma bagunça organizada em cima da escrivaninha, uma das portas do armário aberta (me fazendo ter vontade de levantar para fechá-la) revelando uma outra bagunça dentro do mesmo, persianas brancas fechadas, escondendo (pelo o que parecia) um dia nublado e chuvoso. Ótimo.

Me viro para o lado da porta, que estava encostada, deixando uma frestinha de luz no quarto. Puxo o cobertor para me cobrir por completo, tentando lembrar como vim parar aqui. Com a coberta mais perto, consigo sentir o perfume inconfundível.

Marcelo.

Como um estalo, vou lembrando da noite interior. Do casamento, do beijo, do álcool, das mentiras para Murilo, da vinda para o apartamento no carro do policial, da minha insanidade ao pedir para que ele dormisse comigo e da risada gostosa que ele deu em seguida, soltando um "ainda não, loirinha. Não assim".

"Ainda não"? "Não assim"? Céus! O que raios esse policial queria dizer?

Preciso de analgésicos urgente. Me sento na cama, prendendo o cabelo num coque desajeitado. Quando me levanto (e ajeito o meu vestido que estava mais amassado do que minha cara), noto o criado mudo com mais coisas do que o normal na frente de um porta retrato com uma foto dele com Nina.

Em cima de uma toalha de banho branca, havia o que parecia um vestido florido, uma escova de dente, uma cartela de remédios, uma garrafa de água e um bilhete.

"Ei, loirinha.
Espero que tenha dormido bem. Ou pelo menos melhor do que eu.
Se você quiser tomar banho, pode tomar aqui no meu banheiro mesmo. O vestido é da Sofia. Bom, o estranho é que você consegue ser menor do que ela... Então serve de certeza.
Ah, e toma uns dois remédios de uma vez. Você tava com uma cara que ia acordar com uma puta de uma resseca."

Devo ter ficado uns cinco minutos parada relendo o bilhete, tentando entender o porquê dele estar sendo tão... Cuidadoso comigo. Não consigo encontrar motivo nenhum. Tomo os comprimidos e pego as coisas para tomar banho. Se eu começasse a pensar muito nas últimas 24 horas poderia ficar louca.

Depois de devidamente acordada e um pouco mais apresentável pós-banho, tomo coragem de sair do quarto o mais silenciosamente possível. O apartamento estava gelado e o tempo parecia piorar cada vez mais lá fora, com direito a relâmpagos. Meu vestido de verão e o cabelo molhado não estavam ajudando muito. Pelo menos um chinelo de Marcelo eu tinha conseguido roubar.

Ao passar pelo corredor e entrar na sala, consigo visualizar o corpo do policial estirado no sofá-cama. Ao contrário de mim, ele parecia estar bem sóbrio ontem a noite. Afinal, depois de arrumar tudo para mim, ainda tomou banho (porque o cheirinho de shampoo estava presente na sala) e não dormiu com a roupa do casamento. Se bem que eu não teria reclamado se tivesse, porque encontra-lo semi-nu ao acordar não era uma das coisas das quais eu estava contando.

De barriga para baixo, tenho uma visão privilegiada da suas costas largas. Na parte de baixo, graças a Deus (ou não) ele vestia uma calça de moletom cinza. Dormindo quietinho assim, parecia até um anjo. Não é preciso muitas horas de conversa para perceber que de anjo ele não tem é nada.

Resisto a vontade maluca de me deitar ao lado dele e desvio os olhos para a TV ligada no mudo em algum canal de música.

Droga, eu preciso ir embora daqui. Rápido.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora