Capítulo 74

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Bianca Trajano.

Um mês depois...

Minha vida mudou drasticamente de uma hora para outra.

Essa era a verdade.

Meu pai estava preso num centro de detenção a 60 km de onde morávamos. Eu não o tinha visitado, mas sabia que um dia teria de ir. Em algum momento você terá que perdoá-lo, Murilo havia me dito. Eu só esperava que esse momento chegasse daqui a uns dez anos.

Eu havia trancado a faculdade. Assim que os policiais me liberaram para sair de casa, juntei toda a minha coragem e fui até o campus. Ao sair de lá me senti quase que com asas; eu seria capaz de voar se tentasse.

Também larguei o emprego como repórter aprendiz no jornal do meu pai. Ele, inclusive, andava um caos, por isso Murilo, minha mãe e eu resolvemos nos juntar e ajudar na administração. No fim, eu estava feliz por ceder minha antiga vaga a alguém realmente qualificado e que gostasse daquilo.

Anunciei alguns dos meus quadros na internet - e com alguns eu quero dizer "dois". Ainda é difícil para mim, mas com o costumeiro apoio que eu sempre recebi dos meus amigos e do meu irmão, criei uma página na internet para mim e os anunciei. Os dois haviam sido vendidos em apenas dez dias.

Eu não sabia como me sentir a esse respeito. Claro que havia ficado muito feliz; afinal de contas, um quadro meu seria colocado na parede de alguém. E eles eram fruto do meu esforço, da minha criatividade e imaginação... nada mais gratificante do que isso. Mas eu ainda sentia alguma coisa fervilhar em minha mente. Eu sabia que era possível sentir algo mais, além da satisfação e orgulho por uma simples venda. Só não sabia o quê e como sentiria isso.

O terceiro quadro, porém, permanece sem lances desde então. E eu o considerava um dos melhores. Eu não sabia por que não atraíra ninguém.

A dúvida de estar ou não fazendo a coisa certa me importunava todas as manhãs.

Entrementes, existia Marcelo. Ele havia saído do hospital e voltado para casa. E provavelmente voltara ao trabalho também. Sofia havia me convidado para a festa surpresa de boas-vindas que ela e Nina planejaram para ele, mas senti que devia ficar em casa. Claro que desde aquele dia eu me arrependo; penso que poderia ter ido, depois penso que fiz bem em não ir.

Minha mente está numa confusão além da que estou acostumada.

Ele às vezes aparecia. Havíamos nos adicionado novamente nas redes sociais, então eu o via curtir uma foto, um post, um elogio de alguém feito numa foto minha. Durante seu tempo de recuperação, eu sentia que minhas redes sociais eram muito mais do que stalkeadas por ele.

Esse fato me deixava... feliz.

Nesse meio tempo resolvi perguntar se ele estava bem. "Como anda a recuperação?", mandei. Deus, eu era ruim nisso.

Conversamos por pouco mais de meia hora. Eu sentia tanto a falta dele que minha mente traiçoeira começava a me sabotar: por que ele não sente a minha falta? Por que não me convida pra um café? Será que não sente mais nada? Ou ainda acha que as coisas não mudaram para mim?

Eu precisava entender o que estava se passando. E permitir que ele entendesse também. Guardar para mim não adiantaria nada.

(...)

Poucos dias depois, eu estava no ateliê quando ouvi a campainha tocar. Ninguém tocava a campainha de lá, por isso eu mal me lembrava de que tinha uma campainha. Camila, quando vinha, costumava avisar por mensagem. Mesma coisa para Murilo.

Não passava das quatro da tarde de uma sexta-feira, por isso imaginei que fosse os donos da banca de jornal à frente... embora Iolanda costumasse chamar ao invés de bater ou tocar a campainha.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora