Capítulo 24 (parte I)

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Marcelo Menezes.

A semana passou como um borrão. Além de cumprir o meu plantão de quarta para quinta e perder as contas de quantas vezes fomos chamados para botar ordem em barracos de senhoras desocupadas, assaltos à postos de gasolinas e à uma loja de artigos esportivos, ainda tive de cobrir o Ruan por várias horas na noite de sexta-feira, o que acabou por me deixar um caco.

O delegado, que nos últimos dias havia se trancado ainda mais em sua sala para investigar sabe-se lá o quê (provavelmente o meu caso, pelas minhas costas), havia dado folga para a Helen por ter trabalhado feito um burro de carga nos últimos dias, o que significava que eu não a tinha visto durante o dia todo. Mas as coisas haviam voltado às boas entre nós, embora às vezes ela me deixasse confuso com tamanha boa vontade que havia começado a agir desde segunda. Era como se ela estivesse se esforçando além da conta para parecer que não estava chateada. Quer dizer, Helen raramente ria das minhas piadas, e agora havia passado até a fazê-las comigo. Isso sem contar terça e quarta-feira, que ela havia ido até a Fran's Café, na esquina, comprar para mim o meu café preferido. Algo me dizia que ela estava empenhada em agir com indiferença.

Quando deixo a minha sala, dez minutos antes do horário habitual, aceno para Vânia, que estava ao telefone, e saio porta afora. O DP estava tranquilo como em toda sexta-feira, de modo que vou até o estacionamento na parte de trás sem sequer encontrar uma alma viva. Entro no carro e já puxo o meu celular do bolso do casaco, a fim de avisar a Helen que já estava saindo para encontrá-la no bar. Acreditava que o Daniel e o Felipe iriam com a gente, mas só saberia na hora em que chegasse.

Pouco tempo depois - o que eu agradeço, pois não tinha trânsito naquela parte da cidade -, volto a desligar o carro, agora no estacionamento da boate. O som no primeiro andar era tamanho que as paredes pareciam tremer no ritmo das batidas.
Saio do carro e me dirijo para a parte de dentro, agora iluminada por um novo jogo de luzes. Passo pelo segurança sem problemas e me encaminho para as escadas que levavam ao segundo andar. Havia combinado de encontrar Helen lá, pois era mais sossegado e contava com várias mesas e reservados.

Quando chego, mal passo os olhos pelo local e já a encontro sentada numa das banquetas do bar. Me aproximo, tentando localizar o Daniel ou o Felipe por perto, mas não vejo ninguém. Somente Helen e alguns caras que olhavam para ela.
Paro ao seu lado e toco em seu ombro, coberto por uma jaqueta de couro. Ela se vira e, por um segundo, penso que vai me xingar ou algo do tipo, mas só respira fundo ao perceber que sou eu.

– Ei – digo. – Cadê os caras?

Ela solta um muxoxo e dá de ombros ligeiramente, para então voltar a se concentrar no pequeno copo de uísque que tinha no balcão à sua frente.

– O Dan não pôde vir. Você não lê as mensagens? – resmunga, mas nem mesmo espera pela resposta. – O Felipe bebeu o bastante para esquecer que o plano era beber. Provavelmente está lá embaixo dando em cima de alguém.

– Hm – faço, percebendo que aquilo havia me incomodado um pouco. Me sento na banqueta ao lado da dela e levanto um dedo para o barman, indicando a geladeira de cervejas atrás dele. – O que houve com o Dan?

Olho para Helen, agora iluminada pela luz fraca do teto, e vejo que ela esteve me olhando nesse meio tempo. Estava maquiada e com o cabelo solto, parecendo estranhamente... Diferente. Era quase como se não fosse ela ali.

– Problemas em casa, eu acho. Ele não falou muito, mas... Sei lá. Bom, pelo menos vou poder... Você sabe. Flertar em paz.

Começo a rir.

– Flertar? Ah, pelo amor de Deus.

– O quê? – ela rebate, agora com os olhos arregalados. – Eu flerto, tá legal? Só que com o Daniel em cima fica meio difícil de algum cara se aproximar. Quer dizer, ele assusta um pouco, sabe? Me rondando o tempo todo e... – ela treme os ombros. – Você sabe. Ele queima o meu filme.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora