Capítulo 23

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Bianca Trajano.

Minha vida voltou ao normal na segunda-feira. Fui para meu ateliê na parte da manhã, porque estava mais inspirada do que nunca. Trabalhei no jornal a tarde, cumprindo meu horário de estágio e fui para a faculdade a noite. A única coisa não-normal (ou talvez não, porque Camila era sempre assim desesperada), foi minha melhor amiga ansiosa por detalhes do meu final de semana, afinal eu sumi desde que mandei a mensagem dizendo "cheguei no casamento!". Ah, e houve também uma ligação não atendida no meio da madrugada quando eu estava podre de bêbada e queria perguntar se devia ou não beijar o policial. Mas disso ela ainda não sabia.

─ Posso saber por que você não atendeu a porcaria do seu celular a porcaria do domingo inteirinho, Bianca Trajano? Eu estava quase indo na sua casa dar na sua cara.

─ Boa noite amiga! Meu dia foi muito produtivo, obrigada. E o seu? ─ a abraço fingindo falsa simpatia. Ela me empurra emburrada e coloca os mãos na cintura, impaciente.

─ Vamos desembuchando, bonita. Como foi o casamento? Murilinho deu um show como sempre? A médica noiva estava bonitona? Era tudo muito chique? Porque você sabe que quando falam "casamento de médicos" a gente já imagina a decoração toda de ouro com cristais.

─ Murilinho deu um show, é claro. Sabemos que ele é o melhor. E não! Nossa, que exagero. Estava muito bonito e simples. Eles não são podre de ricos, Mila. São só médicos. Eles até moram num prédio bem normal.

─ E desde quando médico não é tudo rico? E como você sabe qual é o prédio dela? Tô vendo que tem mais coisa pra me contar do que eu imaginei.

─ Você nem imagina.

─ Meu Jesus Cristo! Vamos sentar, vem.

Ela tenta me puxar pela mão até um banco, mas eu travo. Quando ela me olha com a testa franzida, fecho os olhos e conto de uma vez só:

─ Beijei o Marcelo e passei o domingo no apartamento dele.

Provavelmente uns dez segundos de silêncio completos se passaram quando eu abro os olhos de novo. Ela não parecia horrorizada como eu esperava.

─ Quem diabos é Marcelo?

─ O policial.

Ela demora mais alguns segundos até parecer associar.

─ O policial? O Marcelo? ─ ela pergunta começando com a expressão que eu temia. Horror. ─ O cara que você quase morreu por culpa dele?

─ Eu não quase morri, Camila! Foi só uma coronhada.

─ Ah, agora que você já beijou a boca dele é "só uma coronhada"? Até sexta-feira, que eu me lembre, era o fim do mundo. Ai, meu Deus! Eu preciso conferir com meus próprios olhos se ele é gato mesmo. Ele beija bem? Socorro!

Começo a rir com a confusão de sentimentos que ela estava sentindo por eu ter beijado um cara.

─ Respira, conta até dez.

─ Não! Eu quero saber de tudo. Espera! Vocês passaram o domingo juntos?! Vocês estão... Ficando?

─ Não, amiga. Eu só fiqu...

─ Espera! ─ ela repete me interrompendo e arregala os olhos. ─ Você disse que você, Bianca Trajano, de um metro e meio, cabelo loiro e olhos azuis, beijou ele? Você?! O que é que te deu?

─ Eu bebi.

─ Foi, é? Então está tudo explicado, não precisa nem falar mais nada. Você bêbada é uma versão de Bianca bem diferente do comum.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora