Capítulo 11

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Marcelo Menezes.

Gostaria de dizer que fiz algum avanço quanto a investigação ou que pelo menos as coisas começaram a clarear para mim, mas era difícil com tanta coisa para fazer no trabalho. Não era como se eu pudesse deixar tudo para lá e focar em um caso que há muito esteve esquecido e que do nada voltara a ser alvo de interesse de tanta gente. O delegado não falava muito, mas eu sabia que estava mexendo os pauzinhos na sala dele. Nos encontrávamos nos corredores e ele só me dava um aceno com a cabeça, como se soubesse que, caso mandasse ao menos um "e aí?" para mim, teria que me aguentar o enchendo de perguntas pelos próximos minutos. Sendo assim, eu tentava me dividir entre trabalhar (o que ocupava grande parte do meu tempo e paciência, dada a quantidade de chamados que o DP recebera nos últimos dias), dar atenção às meninas e suas novas vidas e, é claro, tentar descobrir sozinho ao menos mais alguma coisa quanto ao caso "mate o Marcelo".

Ok, não exatamente sozinho. Eu sabia que Helen e Daniel se prontificaram a me ajudar e que mais pessoas do DP fariam o mesmo por mim, mas não estava a fim de meter mais gente nisso. Já era difícil o suficiente saber que Nina, Sofia e todo o resto corriam perigo.

Na sexta-feira à noite, quando a poeira enfim havia baixado e o clima tenso diminuído em parte, chamo Helen e Daniel para bater um papo até então despretensioso na minha mesa. O DP estava consideravelmente vazio - a maioria do pessoal estava na rua atendendo à chamados ou enfiados em suas próprias salas. Havia trazido comigo o CD que o seu Inácio me entregou no início da semana, e o mesmo estava sendo reproduzido há alguns minutos. Helen mordiscava o dedo e olhava para a tela, apreensiva. Daniel dava zoom em partes que eu mesmo já havia dado pelo menos umas cinco vezes.

─ Azul ─ ele diz depois de um tempo. ─ Decididamente é azul, não preto.

─ Que maravilha, Dan. Enfim poderemos solucionar o caso porque, céus, descobrimos que o casaco do indivíduo é azul. Minha nossa, meus parabéns ─ Helen diz, batendo nas costas de Daniel.

Eu tento não rir, feliz por eu mesmo não ter feito aquele comentário. Ele faz uma careta.

─ Não é muita coisa, mas nem isso nós tínhamos há dez minutos atrás ─ ele enfatiza. ─ Agora a pergunta que não quer calar: homem ou mulher?

─ Mulher? ─ chuto, esperançoso. Olho para Helen, que solta um muxoxo.

─ Por que mulher?

─ Ahn... Deve ter menos de 1,70m. pode ser mulher.

Puff ─ Helen resmunga. ─ Vocês por acaso sabem quanto eu tenho de altura?

Daniel olha para ela, meio abobado.

─ Sei outras coisas ─ ele diz.

─ 1,73m. Quer dizer que, se fosse eu a pessoa encapuzada ─ ela aponta para a tela do computador ─, vocês me confundiriam com um homem?

─ Não dá pra te confundir com um homem, Megan ─ eu digo. ─ De qualquer maneira, não consigo acreditar sinceramente que seja mesmo uma mulher. Foi um trampo meio... Arriscado.

─ Não querendo ser feminista ou coisa do tipo, mas meu Deus do céu, por que vocês subestimam tanto as mulheres? Pode ser sim uma garota. A mulher de um dos caras, talvez, por que não?

Dou de ombros.

─ Tá, que seja. E o que eu faço agora?

Nós três ficamos em silêncio. Daniel solta a respiração.

─ O que tem na rua do prédio em que você mora?

─ Hm, casas. E mais prédios ─ respondo, já sacando aonde ele queria chegar. ─ Mas esquece. Já pensei nisso. Mesmo se algum estabelecimento próximo tivesse câmera, a distância dele para quem deixou a carta é, no mínimo, imensa. Não daria para ver nada além do que já vimos.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora