Capítulo 29

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Bianca Trajano.

Ele se encostou no carro, braços devidamente cruzados sobre o peito, e me olhou daquele jeito, ahn, desconcertante. E eu, é claro, estava pilhada. Tentava me fazer de esperta o tempo todo, quando era óbvio para quem quisesse ver que eu estava bem perdida. Afinal de contas, não era nenhuma idiota. Já tinha me perguntado aquelas coisas inúmeras vezes. Não acreditava sinceramente que tudo fosse clarear só porque eu estava contando a um policial meramente interessado num caso desinteressante como o do meu tio.

A menos, é claro, que Marcelo estivesse me escondendo algo. E que o caso não fosse tão desinteressante assim como eu pensava.

Erguendo o celular acima da cabeça ─ e, provavelmente, parecendo bem esquisita aos olhos dele ─, verifico mais uma vez a quantidade de rede.

─ Mas que droga ─ falo quando fica óbvio que o sinal não era muito melhor ali.

Marcelo inclina a cabeça e me mostra um sorrisinho de quem está se divertindo. É claro.

─ Vamos dar uma volta. Vem ─ ele diz, dando um passo a frente para a saída do estacionamento do Fran's.

Ele segue adiante e eu me adianto para acompanhá-lo, parando bem ao seu lado, ainda de olhos grudados no celular. Enquanto andava, pouquíssimo ciente das coisas em meu caminho, sinto Marcelo repousar uma das mãos no meu ombro, meio que só para me conduzir, e eu, é claro, olho para ele, meio desconcertada.

Olha só, gente, em minha defesa: eu não sou assim, tá legal? Garotos não me intimidam. Mas ele não era um garoto, correto? Correto. Ele tinha, sei lá, uns vinte e três, vinte e quatro anos e...

─ Quantos anos você tem? ─ pergunto antes de sequer pensar no quão ridículo aquilo pareceria naquele momento.

Ele arqueia a sobrancelha e solta uma risadinha, jogando o corpo um pouquinho para o lado para nos desviar, juntos, de uma poça no meio da calçada.

─ Quantos você quiser que eu tenha ─ responde, novamente naquele tonzinho cheio de graça.

Sentindo as bochechas esquentarem, me vejo outra vez pondo minha mente nem tão silenciosa assim para trabalhar numa das desculpas esfarrapadas das quais eu era tão boa:

─ Só para deixar claro, não estou perguntando por nenhum motivo especial. Quero dizer, eu nem mesmo me interesso pela sua idade ou... Na verdade, eu só perguntei mesmo porque... Me lembrei de uma coisa e...

Ele ri, desta vez mais alto.

─ Ahã. Vinte e sete.

Viro o pescoço para olhar para ele.

─ Mesmo? Meu Deus, eu pensei que era uns, sei lá, vinte e três.

─ Andou pensando nisso? ─ ele arqueia as sobrancelhas de novo, me dirigindo um olhar interessado. Ah, droga.

─ O quê? Não. Quero dizer, é o normal, não? A gente olha para alguém e se pergunta: quantos anos essa pessoa tem? Não? Não é assim com você? Porque é assim comigo e... ─ me interrompo no momento em que o ouço desatar num riso solto outra vez. ─ Há-há-há. Não tem graça.

─ Tem, sim. Eu te deixo nervosa.

─ Ah, faça-me o favor ─ reviro os olhos, voltando-os para o celular. ─ Não deixa nada... Ah, olha só, um pauzinho!

─ Um o quê?

─ Pauzinho! ─ e mostro o celular, me virando para parar de frente a ele. Ele olha para o celular e, ao entender que eu me referia à rede, sorri. ─ Vejamos... Não me lembro o nome dela... Laura... Larissa... Algo assim.

Amor em Risco (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora