Sustentei o olhar por um tempo. Por algum motivo que eu não sabia qual era, eu não queria desviar, não queria quebrar aquele contato visual.
Sua expressão não estava fechada e sim suave e... seus olhos me puxavam para dentro, como se fossem um portal para sua alma que, pelo visto, era desconhecida por todos ali. O garoto não abaixava o olhar por um só segundo. Nós quase não piscávamos, não fazíamos nada. Apenas nos encarávamos.
Para falar a verdade, nem eu sabia o porquê estava olhando para ele. Ele havia sido muito "estou pouco ligando para você" comigo. Mas... havia alguma coisa nele que...
Me puxava.
— Acho bom anotarem o dever de casa para amanhã.
A voz do professor de história entrou rasgando os meus tímpanos e eu me virei para a frente.
— Leiam os textos das páginas 148 a 182 e respondam os exercícios de 1 a 80 da apostila.
Esse cara só pode estar brincando comigo. Ele não podia dar um prazo maior para entregar? Era impossível fazer tudo isso hoje, sendo que ainda tínhamos deveres de outras matérias para fazer.
Rolei os olhos. Eu fazia tanto esse movimento que a qualquer dia eles não voltariam ao normal.
O sinal bateu. A aula de inglês passou se arrastando, já que a matéria que o professor passou eram coisas que eu já havia aprendido no meu curso de inglês, ou seja, dividi o meu tempo entre olhar para o teto, esperando ela acabar, e rabiscar algo no meu caderno.
Assim que estávamos liberados para ir para a casa, guardei as coisas e esperei por Carol, enquanto a manada de brutamontes saía quase correndo da sala.
— Eles são sempre assim?
— Sempre.
Avistamos as meninas que eu havia conhecido mais cedo logo à frente do portão da escola e fomos até elas.
— Gente, o Gabriel está brigando de novo com o Renato — disse Laura — Eles agora estão se batendo fora da escola, em uma rua aqui perto.
— Como sabem disso? — perguntou Carol.
— Uns idiotas que estão na rodinha em volta da briga mandaram um vídeo. Acho que eles estão na rua de cima. O Renato saiu quase voando da minha sala, devia estar com muita vontade de resolver esse assunto — disse Júlia rolando os olhos.
— O Renato está na sala de vocês, então? — questionei a elas.
— Sim, a diretora proibiu os dois de ficarem na mesma sala. Eles se odeiam.
— Mas o que o Renato fez para o Gabriel odiá-lo? — perguntei
— Provavelmente deve ter dito alguma coisa da irmã do Gabriel — Júlia sugeriu.
— Que irmã?
— A irmã gêmea dele, Mirella. — Laura respondeu — Ela foi assassinada há dois anos e um tópico bem sensível para o Gabriel. Ele perde a cabeça sempre que esse assunto vem à tona e não acho que Renato perderia a oportunidade de provocá-lo com isso.
Eu não conseguia imaginar como seria a dor de perder uma irmã. Por um momento, senti uma compaixão fora do comum por essa pessoa que eu nem conhecia. Seu coração devia estar em pedaços e é compreensível perder a cabeça em uma situação dessas.
Tentei repassar mentalmente quem das pessoas da sala poderia ser esse tal de Gabriel, mas eu não conhecia ninguém e não havia decorado nenhum rosto. Por enquanto, a única pessoa que eu conhecia da minha sala era a Ana Carolina, então era muito difícil ter um palpite sobre isso.
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Os Opostos se Atraem? - Livro 1
Teen FictionO que faria se você conhecesse um garoto de aparência estonteante, discreto, que se refugia na música, porém, que é completamente o seu oposto, meio mal educado, egoísta e só se importa consigo mesmo? O que faria se você se aproximasse demais desse...