Capítulo 18

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Não posso dizer que nunca suspeitei. Eu seria mentirosa se dissesse isso.

Na verdade, eu já esperava por aquilo, mas ainda sim era meio surreal ver o pinos ali na minha frente, afinal, não é porque você tem vagas suspeitas de algo que você está preparado para encarar aquela verdade.

A frase que pairava em minha mente era um pouco assustadora de certa forma, era algo que eu não conseguiria dizer em voz alta.

Gabriel usava cocaína.

Era impossível deixar de imaginar se algum dia ele estava sob o efeito da substância enquanto estava perto de mim, mas provavelmente sim.

Suas mudanças de humor, suas faltas à escola, sua irritabilidade... a forma como me tratou na primeira vez que conversamos depois do ocorrido.

Ele com certeza estava sob o efeito do pó naqueles momentos. E se por acaso não estivesse, provavelmente se comportava daquela forma porque estava sentindo a sua falta.

Abstinência.

Drogas era um assunto delicado para mim. Eu nunca havia chegado perto, nunca havia usado e, com certeza, nunca havia me relacionado com alguém que usasse. Eu cresci ouvindo que quem faz uso desse tipo de coisa nunca iria ser nada na vida porque a droga te fazia cair em um buraco impossível de sair. Ouvi também que estar perto de quem usa é perigoso, porque a pessoa vai querer te levar para esse caminho também.

Era uma vida escutando todos os piores tipos de coisa sobre as pessoas que carregavam algum vício e ter que me desfazer desse estereótipo agora, com Gabriel, até porque eu sabia que ele nunca faria nada disso, era muito difícil.

— Pode sair correndo agora — ele se levantou da cama, indo para próximo da janela, olhando a rua, dois lances de escada acima.

— Sair correndo por quê?

— Porque eu provavelmente não sou aquele príncipe que você sonhou.

Eu me levantei da cama e fui até ele. Peguei-o gentilmente pelo braço e o fiz olhar para mim.

— Acontece que eu sei que príncipes não existem. Todos temos luz e trevas dentro de nós. Todos somos imperfeitos. E eu não preciso de um garoto perfeito para ser feliz.

— Um imperfeito serve?

Sorri.

— Sim

— E se for um garoto imperfeito, errado e rebelde? — tocou meu rosto.

— Melhor ainda.

Seu olhar amoleceu e a tensão desapareceu de seus ombros.

— Faz quanto tempo que você não usa?

— Como sabe que faz um tempo que eu não uso?

— Eu só sei.

Gabriel suspirou.

— Algumas semanas. Eu estou tentando parar, e tem dado certo...

— Mas...?

— Mas sozinho é muito difícil — ele voltou os olhos para a rua.

Eu não respondi. Eu sabia que qualquer vício, por qualquer coisa que fose, não era fácil de ser abolido. E eu não iria julgá-lo por recorrer às drogas para tentar aliviar um pouco das dores que a vida lhe trouxe. Sem mãe, sem pai, sem irmã, sem muitos amigos... sem ninguém. Tragédia e mais tragédia marcou sua vida desde sempre. Como eu poderia apontar o dedo na sua cara? Que tipo de hipócrita eu era?

— Você não precisa estar sozinho, Gabriel.

Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso.

— Obrigado. Eu procuro escrever quando a vontade bate. É uma das formas de controlar. Aliás, eu tenho mais uns poemas para te mostrar, quer ver?

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora