Capítulo 70 - Se lembre de mim

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~Melissa~

Mais uma semana se passou. Meu pai me disse que foi conversar com Gabriel, mas não disse  o assunto. Eu fiz a ele o que prometi, fui ao médico. No consultório, a secretária disse que o resultado do exame de sangue demoraria uma semana ara sair, já que eles estavam com muitos exames para analisar. 

Eu estava indo na escola normalmente. Conversava e ria com as meninas. Por um lado estava tudo normal, mas pelo outro, eu sabia que algumas pessoa me lançavam olhares com pena, sabiam que cochichavam sobre o meu namorado matar alguém, sobre estar preso, mas nunca me falavam nada disso na cara.

Meu pai me tranquilizou ao explicar que, se por acaso Gabriel for culpado, ele não vai ficar tanto tempo. Pelo menos não é previsto que fique. E isso já me fez acostumar com a ideia. Ao longo dessa semana, eu saí com as meninas. Fomos todas na casa de Laura dessa vez, sem meninos e sem bebidas, apenas nós, filme, cobertores e pipoca em cima da cama e dos colchões durante a noite toda. Algumas vezes eu simplesmente fechava os olhos e pensava que minha vida poderia estar voltando ao normal, e olhava para as meninas. A doçura da aula, a simpatia de Carol, e o jeito meio marrento da Ju me mantinham na Terra.

Mas eu não fazia ideia que mais uma bomba estava por vir.


~Gabriel~

Dez dias. Já fazia 10 dias que eu estava nesta cela. Agora que arrumei um advogado de defesa, o processo pode rolar mais rápido, e porra, tinha que ser o pai de Melissa? Melhor ele do que algum estranho qualquer, pensando bem.

Melissa conseguia vir me ver às vezes. Agora, o pai dela sabia das visitas e fazia questão de esperar do lado de fora da delegacia. Nesses dez dias, apenas dois ela não conseguiu vir. Um porque foi no médico, e outro porque estava passando mal.

Nesses dois dias que ela não veio me ver, eu fiquei pensando. Pensei muito. O que eu havia feito com a vida dela? Quer dizer, ela não merece ficar vindo me ver todos os dias. Não  merece viver sabendo que o namorado matou um cara, que usava drogas, que pode ter uma crise de abstinência a qualquer momento e morrer.

Esse tipo de pensamento não saía da cabeça. Ela sempre aparecia com um sorriso torto aqui, mas eu sabia que por dentro ela estava chorando ao ver barras de cela nos separando. O único contato que era permitido fazer eram nossas mãos unidas. Não podíamos ir para a sala onde vi seu pai, por ela ainda não ser maior. 

Eu sentia falta do seu abraço mais do que qualquer outra coisa. Do seu beijo, então, nem se fala. Se eu me concentrasse, podia ouvir sua gargalhada enquanto tentava me convencer a gostar de suas bandas favoritas, por exemplo, The Fray e One Direction e mais algumas formadas apenas por garotas.

Ela tinha vida sobrando. Mesmo que fosse apenas um pouco, ainda tinha. E não merecia morrer toda vez que entrava e me via aqui. Não merecia perder esse resto de vida que ainda tem comigo, sendo que nem sei quando vou sair daqui. Ou se vou sair daqui.

Quando Carlos veio aqui, eu pedi a ele que não me pedisse para eu me afastar de Melissa e ele disse que não faria isso. Mas tudo foi longe demais e essa opção não é tão absurda assim.

Por que pensei que eu seria um bom cara para ela? Por que pensei que eu conseguiria curar todas as suas feridas com desenhos ou músicas? Por que pensei que ela poderia me salvar do mundo em que vivo? Eu tentei mudar por ela. Tentei fazer dela minha âncora e olhe onde estou agora. 

Eu era como fogo. Alastrava tudo o que estava pelo caminho. E Melissa não precisava ser mais uma vítima.

Eu não poderia ser tão egocêntrico e pedir a ela que me espere até quando eu sair daqui. Minha vida está parada, a dela não. E não merece ficar por minha causa. Ela merecia viver, se apaixonar de novo, encontrar alguém que cuide dela como eu não consegui fazer, que não a meta em confusão, que não a faça chorar. Que a faça feliz como eu não consegui fazer.

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora