Por um momento, eu fiquei sem saber o que fazer com o que ele havia acabado de me dizer. Ele era o Gabriel? Aquele Gabriel que se metia em brigas, cuja irmã morreu e a mãe está doente?
O garoto-rock é o Gabriel? Aquele garoto que odiava o professor de história, que era emancipado e chegava atrasado às aulas era o Gabriel? O garoto-rock era a pessoa de quem eu devia ficar longe? Como assim? Não! Isso não está certo, não pode ser ele...
Minha mente teve um estalo quando percebi que sim, podia. A jaqueta do garoto que estava brigando na cantina semana passada, que as meninas disseram que se chamava Gabriel era a mesma que o garoto-rock estava usando quando me apontou onde era a sala de aula.
Eu não consegui exergá-lo naquele dia da briga, pois estava sem os meus óculos e eu nunca cheguei a ver o vídeo que fizeram sobre a briga do Gabriel com Renato fora da escola, mês passado.
Quando comentei com Carol sobre o garoto que me mostrou a sala, ela não me disse o nome dele.
E quando a Laura estava me explicando sobre a irmã de Gabriel, disse que ela tinha os olhos azuis de um tom que ela nunca havia visto na vida, o que foi exatamente o que pensei quando vi os olhos de Gabriel pela primeira vez.
Até que fazia sentido, todos os pontos se encaixavam, mas como eu nunca havia percebido?
— Vai ficar aí parada me olhando até quando? — ele abriu os olhos e ergueu uma sobrancelha.
— Como assim você é o Gabriel? Aquele cara das brigas que eu ouvi falar e...
— Sim, eu sou o Gabriel, "o cara das brigas", o rotulado com vários adjetivos nessa maldita escola por essas malditas pessoas. Algo mais ou vai me deixar em paz agora?
Ele estava esquentadinho demais para o meu gosto e o pavio da minha paciência já estava sendo queimado de novo.
— Garoto, você pensa que é quem? - perguntei gesticulando, e ele me olhou sem entender. — Só porque se mete em confusão, você acha que é o fodão da escola? Só porque falta das aulas ou porque responde as pessoas da forma que quer e quando quer? Pois vou dizer uma coisa: você não é! Se é rotulado com "vários adjetivos" é porque você deixa, e descontar sua raiva nas pessoas não vai mudar nada.
Ele não me respondeu, mas a sua expressão mudou de raiva para curiosidade.
— E essa banda — apontei para a sua camiseta — nem é tão boa assim.
Dei as costas e saí.
(...)
— O que você tem hoje, Mel? — Carol perguntou algumas horas depois. Estávamos almoçando na cantina, mas eu não havia comido quase nada.
— Cólica — menti.
Não era legal mentir, mas o que eu ia falar? Que estava extremamente irritada com um garoto que eu nem conhecia? Não mesmo.
Então, completei:
— Juntando ao fato de termos que ficar na escola à tarde 2 vezes por semana. Odeio segunda e terça-feira. Além disso, nós 4 não temos nenhuma das 3 aulas juntas agora. E minha primeira aula é de história com aquele professor agradável e...
Meu coração despencou quando me lembrei.
Ontem, na aula, o professor de história havia passado mais um dos seus deveres de casa gigantescos, para entregar hoje, mas eu tinha me esquecido completamente dele e não fiz!
Me levantei em um salto.
— Gente, vou correr para a biblioteca. Tenho aula de história daqui a duas horas e esqueci o dever. Até depois.
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Os Opostos se Atraem? - Livro 1
Ficção AdolescenteO que faria se você conhecesse um garoto de aparência estonteante, discreto, que se refugia na música, porém, que é completamente o seu oposto, meio mal educado, egoísta e só se importa consigo mesmo? O que faria se você se aproximasse demais desse...