Capítulo 61

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Depois de eu quase me afogar várias vezes e ficar e cavalinho em Gabriel por um tempo, nós saímos do rio. Nem percebemos que a correnteza havia nos levado para longe da moto.

- Vamos ter que andar um pouco - ele riu.

- Estou morta de cansaço - falei.

Ele sorriu e ficou na minha frente, de costas para mim. Fez um sinal e eu pulei em cima dele e ele segurou minhas pernas imediatamente para eu não cair. Gabriel, então, me levou de cavalinho até a moto.

- Pronto, madame, pode descer - eu ri e desci - Trouxe umas toalhas. Estão na bolsa. Vou pegar minhas roupas.

Ele foi até o banco pegar as roupas que havia deixado lá

Abri a bolsa e tirei de lá duas toalhas, jogando uma para ele, que a pegou no ar, e as minhas roupas.

Ele se enxugou e se trocou bem ali na minha frente. Passou a toalha mais uma vez pelos cabelos loiros úmidos, que agora estavam castanho-escuro, os bagunçou e jogou a toalha em cima da moto. Na mosca.

- Ainda defendo a ideia de que poderia ter trazido um balde para você - ele disse.

- Ah, cale a boca. - rolei os olhos.

Coloquei a lingerie por baixo da sua camiseta e a tirei, torcendo-a. Ele me analisou com o olhar enquanto eu desdobrava minha blusa e a vestia. Gabriel deu um sorrisinho ao ver minha careta quando desfiz o coque do cabelo molhado, passando a toalha pelos fios, e veio até mim.

- Nós vamos embora? - perguntei.

Apesar de querer ficar o dia todo e a noite toda com ele, a matéria da prova de amanhã pesava na minha cabeça. Eu precisava estudar. Isso é, se conseguisse.

- Não estava nos meus planos - ele sorriu - Juro que te ajudo para a prova de amanhã.

- Tudo bem - falei e sorri. Não era todo dia que passávamos juntos em um lugar como esse - Tem mais?

- Tem, sim, baixinha. - ele bagunçou meu cabelo - Vem comigo.

Enquanto andávamos, eu ia deixando o vento colocar meus cabelos no lugar e secá-los. Estava na hora do pôr-do-sol e eu não fazia ideia de onde ele iria me lavar.

Ele entrelaçou seus dedos nos meus e meu coração amoleceu. Era um gesto simples, mas era uma das melhores sensações que existiam no mundo.

Depois de uns 10 minutos andando pela grama e entre algumas árvores, chegamos até trilhos de trem. Eles não funcionavam mais, mas estavam em bom estado e eu estava me perguntando o porquê de Gabriel ter me trazido aqui.

Ele me levou até o meio dos trilhos e se sentou. Eu o olhei e ele fez um sinal para eu me sentar ao seu lado. O fiz, e ele se deitou, descansando a cabeça em meu colo.

Os últimos raios de sol brilhavam em nossa direção, eu prendi meu cabelo já quase seco em um coque. Queria saber o que ele queria fazer aqui, mas não queria interromper essa paz que estava nos rodeando. Ele brincava com seus dedos e eu olhei seus cabelos mexendo com o vento.

- Aqui é o melhor lugar perto da cidade que dá para ver o céu sem as nuvens de poeira - ele disse por fim - Quando anoitece, toda as estrelas aparecem.

Ele sabia o quanto eu amava astronomia e era por isso havia me trazido até aqui, então.

Abri um sorriso e me abaixei. Depositei um beijo suave em seus lábios.

- Isso foi um agradecimento? - ele riu

- Pode considerar como um - me inclinei para trás, apoiando o peso nas mãos.

Gabriel, deitado em meu colo, ficou fazendo carinho na minha perna até a noite cair. E quando isso aconteceu, meu deitei ao seu lado e ele foi me mostrando as constelações que eram possíveis de ver. Um tempo depois, começamos a falar sobre buracos negros, de como não conseguimos vê-los se eles estiverem bem na nossa frente, mas conseguimos ver atrás deles. E de como o tempo fica infinitamente lento dependendo da distância que você está do buraco negro. Em outras palavras, o tempo para. E você passa a não existir mesmo existindo.

Depois de mais de um hora dessa conversa, já era noite quando nos sentamos um de frente para o outro, de pernas cruzadas, e ele me beijou. Suas mãos passeiam por minhas costas e ele começa a levantar minha blusa, roçando os dedos em minha pele. Soltei um suspiro e ele olhou para baixo. Mesmo no escuro, pude ver que sua pupila diminuiu de tamanho. Ele ficou tenso e eu percebi para onde ele estava olhando.

Minha barriga.

Abaixei a blusa num movimento rápido e olhei para o lado.

Gabriel estava imóvel e respirava pesado na minha frente. Não era possível que ele tenha notado tanta diferença assim, nem eu mesma havia notado. Aliás, ele tinha me visto de lingerie agora há pouco, se fosse para ele notar alguma coisa, ele teria notado ali.

Mas sim, era possível, e eu sabia disso. Gabriel conhecia cada milímetro do meu corpo, cada medida. Ele saberia na hora se houvesse alguma medida errada, algum centímetro fora do lugar.

Talvez, quando ele me viu com a lingerie, ele não tenha percebido porque estava olhando para outro lugar... pernas, peito... mas agora, olhando diretamente para a minha barriga, era perfeitamente possível perceber que ela estava diferente.

E isso me dava medo agora.

- Vamos embora - ele falou e se levantou.

- Por quê?

- Você tem que estudar. E eu não tô mais a fim de ficar aqui. - ele disse simplesmente.

Um aperto no meu peito surgiu de repente. Ele não vai voltar com as suas 5 personalidades diferentes, vai? Depois de tantos meses...

Me levantei e fui atrás dele, que já estava em cima da moto quando o alcancei. Ele me entregou o capacete e eu o olhei, pedindo com os olhos alguma explicação para a mudança repentina de humor.

- Vamos logo -falou.

- O que você está fazendo? Por que quer ir?

- Já falei que é porque não quero mais ficar - ele disse, seco - Podemos ir?

Eu arregalei os olhos com sua rispidez, mas subi na moto. Caso contrário, ele poderia me deixar para ir embora a pé sozinha. Com esse humor, eu não queria pagar para ver se ele seria ou não capaz de fazer isso.

Quando chegamos em casa, eu desci da moto, ouvi um "tchau" seco dele antes de ele dar partida, e me encontrei, segundos depois, parada na calçada tentando processar o que havia acabado de acontecer.

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora