Minha mãe perguntou como havia sido a noite com a "Carol". Eu disse que tudo bem, que havia ocorrido normalmente e que Gabriel havia me trazido para casa. Essa parte não teria como omitir nem se eu quisesse, mas, de qualquer forma, decidi contar porque eu estava passando mais tempo com ele do que na minha própria casa ou na escola, entãoela saberia de qualquer forma.
Minha mãe ficou meio pensativa e por fim disse:
- Tem algo com ele?
- Não... aliás, não sei... - falei - Acho que estamos iniciando algo.
- E ele é uma pessoa boa?
Pensei em como devia responder. Em qual das definições de "pessoa boa", minha ou dela. Decidi que na minha.
- Sim, mãe. Ele é... - terminei a frase segurando um sorriso e seu olhar amoleceu.
- Então, tudo bem. E como ele tem já tem carta?
- Ele é emancipado. Mas, de qualquer forma, logo vai fazer 18 anos.
- Certo, então não tem problema. Mas me avise quando for voltar com ele de algum lugar, ok? Para eu não ficar preocupada. E avise o seu pai também.
- Tudo bem. Eu aviso vocês quando eu for voltar de carona com ele. - sorri - Vou para meu quarto.
- Isso é seu? - ela olhou para o casaco que eu estava segurando.
- Não. Gabriel deixou comigo.
Ela fez uma cara de dúvida, então esclareci.
- Ele vai passar uma semana fora, quis deixar a blusa comigo.
- Admito que isso foi fofo - ela sorriu - Ele deve gostar de você.
Sorri fraco.
- Acho que sim...- falei e mudei de assunto: - Vai para a minha vó amanhã? - perguntei.
- Sim, vou almoçar lá. Ela convidou. Você vai?
- Não sei... te falo amanhã.
- Ok. Boa noite.
- Boa noite.
Tomei um banho, coloquei meus pijamas e fiquei o resto da noite em meu quarto. Coloquei os fones, deixando Austin Mahone cantar enquanto eu pensava em várias coisas ao mesmo tempo. Como sempre, quando eu pensava demais, eu devia colocar no papel, adorava fazer isso. Peguei meu diário e deixei que a caneta tomasse conta da minha mão.
" Já sei que nem tudo acontece como queremos. Já sei que talvez tenhamos que ser deterministas em relação a tudo o que não satisfaz nossa vontade; é uma forma da mente contentar a si própria e não admitir a decepção. Afinal, deterministas são quem acreditam que tudo, tudo acontece por uma razão, um propósito. Não existe acaso. E eu sempre fui uma pessoa completamente determinista durante a minha vida toda.
Apesar que não sei mais se a expressão "minha vida" está se encaixando agora. Desde... aquela noite, parece que não estou vivendo minha vida. Parece a vida de outra pessoa, um filme visto de dentro. Um filme sem script, sem forma definida, repleto de improvisos.
Mas no meio de todo esse filme de terror, a ocasião me proporcionou algo de bom. Nem preciso falar seu nome. Não preciso descrevê-lo. Ele é dono dos meus pensamentos durante o dia e dos meus sonhos durante a noite. É nele em quem penso quando acho que algo vai dar errado. É nós traços do seu rosto que encontro motivos para me acalmar e não dar ataques quando estou sozinha em algum lugar, com medo de que o pesadelo possa voltar de uma hora para a outra. É no brilho dos seus olhos azuis que penso que ainda existe esperança para minha mente ser reconstruída e é no som da sua voz que me guio através da escuridão que às vezes ainda me invade quando menos espero.
Se eu sempre fui determinista, se é que isso realmente existe, por que é que vou ficar 168 horas sem ele? Por que é que a pessoa que mais significa para mim, que me acalma, me conforta, me faz sentir como nenhuma outra, vai simplesmente não ter contato comigo por 7 dias? Qual a razão, qual o propósito disso? Nada de bom pode vir disso, ele é minha força. Sem ele é como se... o sol não brilhasse, o mundo não girasse.
Ainda não estou preparada para ficar uma semana sem seu sorriso de canto, que ele sempre tenta esconder ao manter a pose de durão. Uma semana sem seus olhos que percorrem meu corpo toda vez, e ele tenta disfarçar, achando que não reparo nisso. Uma semana sem sua risada, sem seu abraço, sem seus poemas...
Ainda não estou preparada para a semana mais longa da minha vida.
Só minha sombra sabe como eu me sinto em relação a você"
Fechei o diário e guardei a caneta.
Como eu pareço boba, pensei, eu não vou morrer por ficar uma semana sem ele, eu não poderia colocar a minha vida em suas mãos da forma como estava fazendo.
Refleti mais um pouco sobre isso e cheguei à conclusão de que o problema em si não era eu não ver Gabriel por uma semana, afinal, nem era tanto tempo assim, eu aguentaria tranquilamente.
O problema, na verdade, era o desconhecido. Eu havia me agarrado à presença de Gabriel como se fosse uma força familiar que estava ali para me lembrar que tudo continuava igual, que me segurava na Terra, que mantinha o meu planeta girando todas as vezes que ele parava de repente quando as lembranças daquela noite me atingiam.
Ficar uma semana sem ele não era o problema, eu sempre adorei ficar sozinha, eu tinha meus pais, tinha minhas amigas. O fato era que ficar uma semana sem ele significava ficar uma semana sem essa presença do familiar, sem esse suspiro de alívio que eu tinha por saber que ele a única pessoa que sabia sobre o que me havia acontecido estaria ali para me confortar e para me escutar.
Respirei fundo algumas vezes e decidi que essa semana que ele ficaria fora eu usaria para focar em mim. Eu iria fazer as minhas coisas, colocar em dia as coisas da escola, não matar aulas, dar um jeito na bagunça do meu quarto e usar o meu tempo livre para fazer as coisas que me deixavam feliz.
Meu raciocínio foi interrompido pelo barulho de notificação do celular. Eu havia recebido uma mensagem de um número que eu não conhecia.
"Preciso falar com você" dizia a mensagem.
Abri a conversa e ampliei a foto do remetente.
Era Renato.
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FUDEU
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Os Opostos se Atraem? - Livro 1
Ficção AdolescenteO que faria se você conhecesse um garoto de aparência estonteante, discreto, que se refugia na música, porém, que é completamente o seu oposto, meio mal educado, egoísta e só se importa consigo mesmo? O que faria se você se aproximasse demais desse...