Capítulo 21

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— Seu pai me mataria?

— Estou sozinha. Tenho uma bolsa de água lá, não vai ser problema. É rápido.

Algo passou por seus olhos.

— Então, vou aceitar logo antes que você mude de ideia. Onde mora?

— Na rua debaixo.

Renato foi até sua moto e veio até mim a empurrando. Ao parar próximo a mim, ele fez uma careta e eu soube que seu ombro estava doendo.

— Deixa eu te ajudar.

— Pode deixar.

— Já vi que você é teimoso.

Soltei uma de suas mãos, a que estava machucada, fazendo-o largar o guidom de um dos lados e tomei o lugar de sua mão. Assim, fomos em direção à minha casa: ele levando um lado do guidom e eu levando o outro.

— Quase todos me falam isso mesmo.

Ele deu uma risada. Sorridente era a sua característica número 1, aparentemente

 — Por quê será?

 — Não faço ideia.

Eu estava desesperadamente tentando me lembrar de onde eu havia ouvido seu nome, ou talvez visto seu rosto. Ele era familiar, eu sabia disso.

Renato, Renato... de onde eu te conheço?

Fomos andando e chegamos em casa poucos minutos depois. Renato deixou a sua moto estacionada em frente à garagem, apoiada no pezinho e entrou comigo depois de pedir licença. Ele permaneceu na sala, sentado no sofá, enquanto eu fui para a cozinha e coloquei a água para esquentar.

Voltei até onde ele estava enquanto a água não fervia.

— Se não melhorar, acho melhor ir no médico. Você pode ter rompido o manguito rotador.

 — E como se conserta isso?

 — Depende. Ele pode "consertar" — fiz aspas com as mãos — sozinho, mas se acabar colando no lugar errado, cirurgia.

Ele me olhou espantado.

— Relaxa, não vão amputar seu braço ou algo assim. São três furinhos que eles fazem no ombro e cuidam por ali. Nem fica cicatriz. Um mês de repouso depois e está novo.

Ele riu. 

— Você serve para ser médica, sabia?

— Já me falaram isso. Mas não sei se passo. É o curso mais concorrido.

— Acho que sim. É inteligente.

— Obrigada. Já volto.

Peguei a compressa no meu quarto e coloquei a água fervente. Voltei até a sala e me sentei ao seu lado no sofá. Olhando mais de perto e com atenção, percebi que ele era um garoto muito bonito.

— Se importa se eu tirar a blusa? — ele perguntou.

— Não.

E assim ele o fez. Seu corpo era naturalmente bronzeado, como se tivesse passado um mês na praia tomando sol todos os dias. Ele usava um colar dourado, que caía em sei peito definido.

— Com licença.

Eu pressionei a bolsa de leve sobre o seu ombro machucado e não pude evitar observar os seus olhos azuis, porém, percebi que ele também olhava os meus.

— O que foi? — perguntei.

— Nada. Só gosto de olhar pessoas bonitas.

— Se isso foi um elogio, obrigada.

Desviei o olhar e apenas me concentrei na bolsa em seu ombro. Nada demais, sem contato visual. Ele soltou uma risada, deve ter visto que eu estava com vergonha.

— Está melhor?

— Sim. Ainda  meio dolorido, mas bem menos. Obrigado.

Ele colocou a blusa de volta.

— De nada — me levantei — Toma, leva a bolsa. Na escola você me devolve.

— Não precisa

— Quem é a médica aqui? — brinquei — Não discuta, leva logo isso.

Ele riu.

— Sim senhora.

O acompanhei até a porta e ele se despediu com um beijo no rosto.

— Até mais. E obrigado de novo.

Eu sorri e ele se foi.

Fechei a porta e fui em direção ao meu quarto, mas meus pés pararam involuntariamente no meio do caminho quando a lembrança me atingiu como um soco forte na boca do estômago.

Renato.

Esse era o garoto que estava brigando com Gabriel, meses atrás, no 1º dia de aula. Ele era o garoto que havia maltratado Mirella, que quebrou seu coração por pura maldade.

Era o garoto que Gabriel queria morto.

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora