Capítulo 23

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Merda.

Gabriel se virou, e ao ver que era Renato vindo, me apertou mais contra si.

Carol havia se sentado à mesa e engatou em um assunto com Júlia enquanto Laura prestava atenção. Felizmente, ela não iria ouvir o que estava prestes a acontecer.

Renato se aproximou de nós, segurando algo nas mãos.

— Queria te agradecer por ontem.

Renato disse como se Gabriel não estivesse ali e esticou a mão para me entregar o que segurava. Era a compressa que eu havia lhe emprestado.

— Ah, de nada. O ombro melhorou?

— Sim! Mãos de fada que você tem.

Pronto.

Gabriel ficou tenso e seu maxilar travou enquanto ele tirava o braço de cima dos meus ombros.

Peguei a bolsa de suas mãos sorrindo, mas nervosa por não saber o que viria a seguir.

— Obrigado de novo. E cuidado para não ser atropelada — ele brincou.

 — Pode deixar.

Ele fez um meneio de cabeça como despedida e se foi.

Por um momento, eu até pensei que Gabriel ia deixar essa passar, mas não foi dessa vez.

— Que merda foi essa? Você de papinho com esse idiota.

Gabriel aumentou um pouco o tom de voz, o que fez com que algumas pessoas nos olhassem. Dentre elas, Renato.

Por sorte, as garotas conversavam animadamente, não prestando atenção em nós.

— Gabriel, não precisa fazer escândalo, conversamos depois.

 — Depois o caralho! Por que ele veio falar com você? O que você fez ontem para ele?

 — Eu só ajudei ele. Para de escândalo! — falei mais alto

—Ajudou a fazer o quê?

— Mas que merda! O garoto estava com o ombro machucado, só isso.

— E o coitadinho fez o quê? Pediu uma massagem?

 — Não idiota. Ele foi simpático comigo lá em casa. Só isso.

Nós nos encarávamos intensamente, com raiva nos olhos. E então, percebi que falei demais.

Seu olhar escureceu e sua expressão ficou sombria.

— Então, ele foi na sua casa? E você fez o quê? Deu pra ele?

Menos de um segundo depois, minha mão bateu com força contra sua face esquerda e a marca dos meus dedos ficou estampada em seu rosto.

Saí de perto dele, entrando no prédio e indo direto para a casa. Quando o intervalo acabasse, eu tinha certeza que todos me cercariam de perguntas e mais perguntas e eu teria que ignorar todas inclusive as pessoas. Isso eu não aguentaria.

Arrumei o meu material e falei com a coordenação, avisando que iria embora porque tinha uma consulta marcada. Assinei o bilhete e saí da escola. Seria uma caminhada de uma hora até em casa, mas talvez fosse bom para esfriar a cabeça. O que dificultou foi todo o material pesado que eu carregava na mochila e nas mãos, o que fez com que eu o jogasse em qualquer canto da sala assim que entrei em casa e tranquei a porta.

Arranquei o uniforme, que teve o mesmo destino do material e tomei um banho demorado para tentar tirar toda a raiva de mim. Eram 11:30 da manhã e eu me joguei na cama, olhando para o teto. Gabriel mereceu aquele tapa. Ele tocou bem na minha ferida, mas ele estava drogado horas antes, pensei, podia não saber o que estava falando. Será que tinha alguma influência?

Não, decidi, até para pessoas drogadas, alcoolizados, existem coisas que são chamadas de limites. E Gabriel ultrapassou todos hoje na escola. 

Mas... talvez eu também  tenha ultrapassado ao bater nele, ao atingir seu rosto com força e no meio de todos.

Meu estômago revirou. O que ele sentiu quando lhe bati ainda foi melhor do que o que eu senti quando ele disse aquilo em alto e bom tom. Ele havia merecido.

Tudo isso depois de ontem.. um dia tão feliz.

Que pena.

O meu dia se resumiu em ouvir música deitada na cama olhando para o teto e pensando em Gabriel e na sensação da minha mão atingindo seu rosto. Ela ardeu por um bom tempo depois daquilo e, se minha mão estava assim, imagino a dor que ele deve ter sentido.

Estou pensando como se ele fosse o coitado da história, sendo que foi ele que causou tudo. Ele que se dane e leve a dor junto.

Idiota.

Logo minha mãe chegaria e justo hoje que eu não queria falar com ninguém, eu tinha certeza de que ela ia vir com o sermão que não tinha conseguido me dar ontem. Que ótimo.

Como num passe de mágica, recebo uma mensagem dela dizendo que iria conversar com o juiz e que seria um pouco demorado. Resumindo, ela não tinha hora para voltar. Graças a Deus. Salva pelo gongo mais um dia.

Eu poderia, então, ficar sozinha com os meus pensamentos por mais algumas horas.

Mas o que eu queria mesmo era conversar com Gabriel.

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora