Capítulo 11

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 — O quê?

Ele me encarou.

 — Você não ouviu? Eu disse que seja. Não pense que sou seu príncipe encantado ou algo do tipo. Só não te deixei morrer aquela noite.

— Isso é pouco para você?

Meu tom de voz foi aumentando a cada palavra dita, o que mostrava a minha indignação pelo que eu havia acabado de ouvir.

Gabriel ficou impaciente.

— Para de gritar.

— Eu não estou gritando, estou indignada com o que você está me dizendo! Que merda é essa?

— Você achou o quê? Que depois daquela noite iríamos viver um conto de fadas? Que eu ia entrar no seu mundinho cor-de-rosa?

Me levantei, ficando na frente dele. Eu simplesmente não acreditava que ele estava dizendo tudo aquilo. Onde estava o Gabriel preocupado da noite de sexta? Onde estava o cara que cuidou de mim? O que esse monstro faz aqui?

 — Mundo cor-de-rosa, você jura?! Está escrito na sua testa que você se arrependeu do que fez por mim, só não precisa esfregar na minha cara!

Gabriel se levantou, sua silhueta pairando sobre mim, com o rosto próximo ao meu.

— Sabe por que fiz aquilo? Não quero que se iluda sobre mim. Fiz aquilo pela minha irmã, não por você. Você não é nada para mim, não tem motivo para eu te ajudar.

Suas palavras desceram como facas pela minha garganta e meus olhos começaram a arder, o que só me fez ficar com mais raiva.

— Ótimo. Você é menos do que nada para mim agora.

Viajei nas aulas daquele dia, a matéria não entrava na minha cabeça na mesma proporção em que Gabriel não saía dela.

E assim foi o resto da semana.

E a próxima.

Já faziam 4 semanas do ocorrido e eu já havia parado de responder às perguntas: "Você está bem?" "O que aconteceu?" A pior de todas era "Pode confiar em mim."

Não, eu não podia confiar em ninguém e não ia falar sobre o que estava errado e muito menos sobre o que havia acontecido. Aquilo era um segredo que eu levaria para o túmulo.

A única pessoa que poderia me ouvir sem me julgar não estava disponível.

Meu coração doía pela última conversa que tive com Gabriel. Como ele pôde falar tudo aquilo? Como pode me humilhar daquele jeito como se...

Como se eu não fosse nada para ele...

Você não é nada para mim.

A maldita ardência tornou a surgir atrás dos meus olhos.

As semanas de provas chegaram. De alguma forma que não entendi qual, consegui ocupar a cabeça estudando. Minhas notas caíram, mas nem tanto a ponto de se tornarem preocupantes, afinal, eu tinha que agir normalmente e não poderia fazer qualquer coisa que fosse levantar alguma suspeita de que tinha algo de errado comigo.

Mas eu sabia a verdade. Eu guardava aquilo como um segredo sujo, um segredo que nunca sairia do meu peito. Em alguns dias, era mais fácil, em outros, nem tanto, e nesses o coração se apertava cada vez mais dentro da minha caixa torácica,  querendo explodir a todo custo, implorando para que eu falasse com alguém sobre isso apenas para aliviar o medo em meus ombros.

Mas, isso não iria acontecer.

Eu não podia conversar com ninguém, ninguém sabia, ninguém saberia. A única pessoa com quem eu poderia conversar era Gabriel, mas ele já havia deixado claro, mês passado, que eu não era nada para ele e que ele não tinha me salvado porque se importava comigo, e sim por sua irmã.

Os Opostos se Atraem? - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora